Gerando Falcões: terceiro Setor precisa mais do que vontade para transformar e realizar

Crianças atendidas pela ONG Sementes do Vale, no sertão mineiro. Foto: divulgação

24/02/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 41 segundos

A realidade no norte de Minas Gerais, próximo à divisa com a Bahia, é precária. No município de Ninheira, a situação não é diferente. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) está entre os piores do estado. A vulnerabilidade social também é alta, o que impacta diretamente a educação. Em 2018, o município registrou 5,6% de abandono e 17,32% de reprovação escolar entre alunos matriculados na rede pública de ensino, números que são preocupantes.

A desigualdade social colabora para a evasão escolar e reflete no aumento do trabalho infantil, que também possui dados alarmantes: segundo o PNAD (2014), 42% de crianças e adolescentes de zonas rurais do estado trabalham. Transformar essa realidade exige esforços contínuos, contudo, apenas a dedicação não basta.

Meu nome é Thiago Otero, tenho 29 anos e sou fundador e presidente da ONG Sementes do Vale [organização sem fins lucrativos que luta por oportunidades iguais e dignas para crianças e adolescentes na zona rural mineira]. Fui criado no sertão de Minas Gerais, entre o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha, as regiões mais vulneráveis do estado. Minha família, em contrapartida, é de classe média, o que me deu acesso à educação de qualidade. Sempre, porém, vi de perto a pobreza e a desigualdade, o que me levou a criar a ONG em 2016, aos 23.

Até então, dividia meu tempo entre ser gerente de um banco público e conduzir as atividades da organização. Aos 26 anos, decidi que minha vida deveria ser integralmente dedicada a trabalhar para que crianças, adolescentes e jovens da zona rural tivessem o mesmo acesso à educação que eu tive, foi então que renunciei o meu cargo público e me mudei para a comunidade rural chamada Bandinha, que fica a 35 quilômetros de Ninheira.

Para combater a realidade local, nunca nos faltou amor, coragem e dedicação, mas percebemos que faltava algo: gestão. Crescemos em uma cultura que diz, subliminarmente, que o terceiro setor precisa apenas de vontade e de “querer fazer”, por isso normalmente não levamos a sério a profissionalização da instituição. Todavia, mais de 80% das famílias que atendo estão em situação de extrema pobreza. Como posso transformar essa realidade sem um projeto adequado?

Conheci, em 2020, a Falcons University — universidade de líderes sociais da Gerando Falcões. Ao iniciar o estudo, percebi que é perfeitamente possível aliar garra e força com gestão e profissionalização. Aliás, não somente é possível, como é essencial para que possamos combater a pobreza que perdura há séculos no País. Com essa mentalidade e trabalhos concretos, atingindo metas estabelecidas pela própria GF, me tornei um acelerado da Rede e recebi um aporte financeiro.

Antes desse período de capacitação, nossa ONG era composta apenas por voluntários, mas hoje já temos profissionais contratados, uma equipe que se dedica profissionalmente para que crianças e adolescentes da zona rural tenham exatamente as mesmas oportunidades que qualquer outra criança do Brasil. Tínhamos oficinas de música, circo e leitura e conseguimos iniciar informática, balé, futsal, artes marciais, vôlei, dentre outras que contemplam 180 jovens. Passamos a realizar mais de 1.800 atendimentos mensais, número quase quatro vezes maior ao anterior à passagem pela universidade.

Precisamos entender que existem empreendedores sociais maravilhosos no Brasil, que possuem ideias sensacionais para combater a pobreza, que estão promovendo oportunidades dignas para crianças em todo o país, mas que ainda acham que essa realidade de profissionalização da instituição está distante.

No entanto, a Gerando Falcões, através da Falcons, abre a sua caixa de ferramentas, disponibiliza todo seu conhecimento e funciona como um motor desenvolvedor de líderes sociais, permitindo que eles, após o período de capacitação, transformem as realidades dos espaços que atuam.

O processo seletivo gratuito da Falcons University está aberto em todo o Brasil, com polos em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Ceará, Alagoas e Minas Gerais, onde a Sementes do Vale atua.

Para participar, os interessados devem ter mais de 20 anos e apresentar um projeto ou ação social alinhado às necessidades locais. O edital contendo as regras e o link para o cadastro estão disponíveis no link gerandofalcoes.com/falcons-university.