Quando um cientista dá origem a uma pandemia de zumbis na cidade, os moradores da Vila Fundinho não adoecem, porque o vírus que transforma a população em mortos-vivos é transmitido pela água e na comunidade periférica falta água. Esse é o ponto de partida do jogo eletrônico Ghetto Zombies. O game está sendo desenvolvido por moradores das periferias de São Paulo. São nove pessoas envolvidas na criação e na finalização do produto que faz captação de recursos por meio de uma campanha de financiamento coletivo.
A missão do jogador é controlar um dos heróis do Esquadrão Ghetto Z, derrotar zumbis e desvendar a origem do apocalipse. Na fase atual, o game pode ser jogado por duas pessoas. Mas se a campanha de financiamento atingir a meta, uma das melhorias será oferecer suporte para até quatro participantes.
Os zumbis apresentam características de moradores dos bairros privilegiados da cidade, a exemplo de terno e gravata, e também de trabalhadores dessas regiões, como o entregador de aplicativo. “Todo o cenário do jogo, a gente planeja que envolva o dia a dia”, diz o designer Samuel Aragão, da equipe de desenvolvimento do game. “Queríamos personagens variados, aquele trabalhador que pudesse gerar identificação em todo mundo.” Samuel trabalha o estilo artístico pixelart, visual adotado no jogo. Ele desenha com quadrados/pixels.
À medida que os níveis de dificuldade aumentam, os zumbis ficam mais poderosos e, à movimentação clássica desse tipo de personagem — jeitão de morto-vivo, andar arrastado e mordidas —, são acrescentados poderes mutantes.
Uma demonstração de mecânicas de tiro do jogo Ghetto Zombies está disponível na plataforma itch.io, para que as pessoas experimentem o controle de um heróis do esquadrão
Ideia e desenvolvimento — A ideia para o Ghetto Zombies nasceu há um ano e meio, reunindo um time de nove profissionais das periferias que se dedicam a todas as diferentes fases de desenvolvimento, do planejamento à finalização.
Além do designer e pixel artista Samuel Aragão, fazem parte da equipe Fábio Cacho (game producer), Dany Lima (produtora), Lucas Ponce (artista conceitual), Glauber Cybass (trilha sonora), Andreza Delgado (produtora executiva), Rodolfo Rodrigues e Luiz Azanha (programadores) e Elder Júnior (pixel artista). “A gente sentia falta de ter nossa cultura representada de uma forma natural, sem muita romantização, que não fosse muita cenográfica”, explica Samuel.
A periferia como plano de fundo — No Ghetto Zombies, o ambiente é a periferia. O design remete à estética do grafite e da cultura hip-hop, atentando-se aos detalhes, como a caixa d’água e a antena em cima de uma laje. A intenção sempre foi mostrar a comunidade sem o olhar estereotipado que resume a vida das favelas à alta carga de violência. “Quando a gente vê uma periferia sendo representada em algum lugar é sempre de uma forma pesada e queríamos partir de uma coisa mais leve, mais colorida”, explica.
Sem investimento externo, o grupo recorreu ao financiamento coletivo para produzir a versão ideal do game. “Foi a forma que a gente encontrou de colocar nosso projeto no mundo”, explica Samuel. A meta é R$ 110 mil. Até a publicação desta reportagem, a arrecadação tinha passado de R$ 2,6 mil. A campanha opera no sistema tudo ou nada — se o valor não for alcançado em 60 dias, os dinheiro volta para os doadores. Para contribuir e conhecer melhor o projeto, visite a página do Ghetto Zombies na plataforma Catarse.