Ministério Público denuncia comerciante que expulsou mulher negra de sua loja

Cena de racismo em loja de Copacabana. Comerciante foi denunciada. Foto: reprodução do vídeo nas redes sociais
Estadão Conteúdo
10/10/2022 - Tempo de leitura: 2 minutos, 33 segundos

O Ministério Público do Rio de Janeiro ofereceu denúncia contra uma comerciante chinesa de 48 anos que expulsou uma cliente de sua loja, em Copacabana, por motivações racistas. Além de dar dois tapas no braço da jovem, a acusada arrancou a cesta de produtos de sua mão, jogou o celular da cliente no chão e disse ‘não quero essas neguices na minha loja’. A acusação formal contra a comerciante foi feita na terça-feira, 4 de outubro, e divulgada na, dia 6.

O crime aconteceu no dia 21 de setembro por volta do meio-dia e meia. De acordo com a denúncia, a comerciante também chamou a cliente de “preta safada”, “neguinha” e “macaca”.  Há imagens de câmeras de segurança. A vítima é uma jovem negra, de 28 anos, que trabalha como balconista. Ela disse à Polícia que, enquanto estava dentro da loja, percebeu que a proprietária a seguia sem justificativa aparente, quando resolveu perguntar à mulher chinesa se estava precisando de ajuda. Foi nesse momento que ela levou dois tapas no braço, teve a cesta arrancada de suas mãos e seu celular estragado.

Usando expressões racistas e de baixo calão — ‘não quero ninguém da sua raça na minha loja’ — a comerciante expulsou a cliente. O MP afirma que ‘a denunciada chegou a abrir uma garrafa de álcool e ameaçar jogar o conteúdo na vítima’.

Na hora, a jovem chamou a polícia e registrou boletim de ocorrência, representando contra a dona da loja. A comerciante foi presa em flagrante e liberada apenas com o pagamento de uma fiança de R$ 1.500,00. Isso foi possível porque, no dia, a polícia autuou a comerciante pelo crime de injúria racial.

A denúncia do MP, contudo, demonstra um entendimento mais severo do ocorrido, denunciando a comerciante por racismo, injúria racial e crime de dano, ‘hipótese defendida por nós desde o inicio’, afirma Humberto Adami Santos Junior, que atua como assistente de acusação junto de Wagner de Oliveira, que também é advogado.

‘A correta capitulação do MP já foi uma primeira vitória. Que negro no Brasil nunca passou por isso antes? Infelizmente, isso é muito comum ainda. Eu, Adami, já passei por isso, meu colega que atua comigo nessa causa, Wagner de Oliveira, também’, relata Santos Junior.

Até a publicação desta reportagem, não houve decisão sobre o recebimento da denúncia. O processo tramita perante a 32ª Vara Criminal da capital carioca.

A advogada de defesa da lojista, Camila Félix, afirmou que a denúncia da consumidora destoa dos fatos ocorridos, conforme comprova o vídeo das câmeras de segurança e que as supostas ofensas informadas à imprensa e à polícia nunca foram proferidas. Tratam-se de palavras e expressões que a acusada, de nacionalidade chinesa, desconhece. A lojista não fala português e consegue — apenas — realizar comunicações básicas (como cumprimentos e agradecimentos, entender e responder sobre os valores de produtos).