Pelo menos 9,3% da população brasileira se identifica como integrante da comunidade LGBT+, formada por pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexo, assexuadas, pansexuais, não binárias e mais. O porcentual pode ser ainda maior, porque 8% não quiseram responder, enquanto 81% disseram não fazer parte do grupo. Os números fazem parte da Pesquisa do Orgulho divulgada na semana passada pelo Instituto Datafolha.
PESQUISA ORGULHO
Quem compõe a comunidade LGBTQIA+
→ lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexo, assexuadas, pansexuais, não binárias e mais Geral
→ 9,3% da população se identifica como integrante da comunidade LGBT+
→ 8% preferiram não responder
→ 81% disseram não fazer parte do grupo
Faixa etária
→ 16 a 24 anos: 18% → 25 a 34 anos: 14% [cai progressivamente nas demais faixas]
→ mais de 60 anos: 5,3% (menor índice)
Moldura
→ O Datafolha ouviu 3.674 pessoas em 120 municípios das cinco regiões do País entre maio e junho de 2022
→ A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos
→ O trabalho foi contratado por ONG All Out e Havaianas
A pesquisa revela que a proporção de pessoas que se identifica com alguma das letras da sigla LGBTQIAPN+ é bem maior entre os jovens do que entre os mais velhos. Dos 16 aos 24 anos, o porcentual de pessoas que se identifica como integrante da comunidade é de 18%. Cai para 13% na faixa dos 25 aos 34 anos. E vai caindo progressivamente até chegar a 5,3% entre aqueles com mais de 60 anos. O número alto de pessoas que não quiseram responder pode indicar tanto um receio de conversar com o entrevistador quanto simplesmente a não compreensão das opções.
Liberdade — “A questão de gênero tem pautado muitos debates”, constata Paulo Alves, do Datafolha, responsável pela pesquisa. “Dimensionar essa comunidade é importante para orientar políticas públicas e também as ações das empresas e dos cidadãos. É natural que o porcentual seja maior entre os mais jovens, tem a ver com a liberdade de ser, de se expressar, de falar. Os mais velhos não tiveram sequer a chance de pensar nessas possibilidades. A sociedade brasileira mudou muito nos últimos anos.”
O dimensionamento nos dá mais assertividade para cobrar politicas públicas e cobrar de forma específica: nessa região, o problema maior é de violência; nessa outra, é saúde. Esse é um avanço importante (Ana Andrade, Gerente de campanhas da ONG All Out )
A comunidade tende a ser mais presente nas regiões metropolitanas (10,9%) do que nas cidades do interior (8,2%). O mesmo ocorre entre as pessoas com maior nível de escolaridade (11% das que têm curso superior). A maioria é solteira (59%) e não tem filhos (70%). A variação entre as diferentes regiões do País também é significativa. São 10,1% no Centro-Oeste, 9,9% no Sudeste, 9,8% no Norte, 8,7% no Sul e 8,5% no Nordeste.
Silêncio — O trabalho mostrou também que 62% da população LGBTQIAPN+ economicamente ativa não costuma falar sobre sua orientação sexual ou identidade de gênero no trabalho. A hostilidade ou preconceito dentro da família é 16 pontos porcentuais mais alta do que entre o restante da população. Além disso, 17% dizem sofrer discriminação, ante 9% dos demais.
Preconceito — Para os 81% que disseram não fazer parte da comunidade, o Datafolha perguntou a opinião sobre a população LGBTQIAPN+. Segundo a pesquisa, 85% afirmaram respeitar as pessoas LGBTQIAPN+. O porcentual cai para 79% quando a pergunta é se a comunidade deve ter os mesmos direitos da população heteronormativa. E cai ainda mais, para 53%, quando o Datafolha indagou se os LGBTQIAPN+ têm direito de realizar demonstrações públicas de afeto.
Sabíamos que encontraríamos discriminação e visões preconceituosas, mas alguns números são muito fortes (Paulo Alves, do Datafolha)
‘Não tenho vergonha, mas tenho receio’ — Para o servidor público Bruno Ferreira, de 27 anos, que mora em Niterói, região metropolitana do Rio, o dado que indica discriminação não foi uma surpresa. “Existe esse mito de que a sociedade brasileira acolhe bem a diversidade”, afirma. Ferreira já foi abordado na fila do cinema por estar de mãos dadas com o namorado. “Isso vem de uma percepção equivocada de que, quando uma população minoritária ganha direitos, o outro grupo está perdendo direitos. E não é isso que acontece. Ninguém está perdendo nada.”
A designer Luiza Ribeiro, de 28 anos, que vive em Belém, no Pará concorda. “Eu não tenho vergonha de andar de mãos dadas com a minha namorada, mas tenho receio”, afirma. “Principalmente por ser mulher. Já fomos questionadas dentro de um Uber, o motorista começou a tratar a gente de forma diferente, ficou um clima tenso no carro… Aquela agonia de estar com uma pessoa que não gosta da gente.”
OUTROS DADOS IMPORTANTES
A violência é real e vem aumentando
→ Em maio deste ano, levantamento do Observatório de Mortes e Violências contra LGBT+ mostrou que pelo menos cinco pessoas da comunidade haviam sido vítimas de homicídio por semana no País. Ao todo, foram 262 assassinatos, um aumento de 21,9% em relação ao ano anterior.
Dados oficiais
→ Também em maio deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou pela primeira vez dados oficiais sobre a orientação sexual da população brasileira. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), 1,9% da população se declara homossexual ou bissexual, enquanto outros 3,4% não quiseram responder ou não sabiam.