“Eu comecei como metade dos outros artistas, na igreja. Mas lá eles começaram a me cortar, imagina um artista pop na igreja? Principalmente na Assembleia de Deus. Você não pode ser expansivo, tem que segurar um pouquinho a onda e respeitar o limite. E esse limite começou a me incomodar.” Foi assim que WD iniciou na música aos 12 anos e, aos 28, acaba de lançar o primeiro single pela Universal Music Brasil: Periferia.
WD ficou conhecido após participar do “The Voice Brasil”, em 2021, e ter conquistado todas as cadeiras viradas nas audições às cegas. Para essa apresentação, escolheu cantar Eu Sou, uma música autoral, e entrou para o time de Iza. O cantor deixou o programa na semifinal, mas conquistou diversos fãs nas redes sociais.
“Muitas pessoas acham que a virada de chave foi com o The Voice, mas de fato essa virada vai ser agora. Acho que o sonho de todo artista independente é ter um suporte pra conseguir fazer o trabalho. E ‘Periferia’, além de ser uma letra que mexe comigo e que ajudou a me transformar como ser humano, tem essa responsabilidade de me colocar no lugar como voz para uma periferia que vive à margem”, diz WD, em entrevista ao Estadão.
O compositor conta que está focado nessa missão, de dar voz para uma parte da sociedade que é discriminada e deixada de lado por tantos: “Estou mais focado em ser voz e exemplo para a periferia do que pensando que vai acontecer coisas mirabolantes”.
Para ele, ter participado do “The Voice” e lançar a música são pequenas vitórias que entraram para a sua coleção. “Digo que ainda não venci, mas são pequenas batalhas e vitórias, até porque é difícil vencer quando o sistema, de forma geral, se opõe a você”, fala.
Com a recepção do público de sua comunidade após o “The Voice” e com tantas coisas boas acontecendo, o cantor faz um comparativo de sensações com sua época do ensino médio. Mesmo sofrendo bullying, ele lembra que teve medo de ser alvo de zoações na formatura, mas que ao subir no palco para pegar seu canudo, foi aplaudido pelos colegas.
A sensação de lançar a música e ter participado de um reality da TV Globo foi a mesma do dia de sua formatura. “Fiquei com medo porque minha família estava lá e quando fui pegar o canudo, a galera estava vibrando por mim. Pensei: ‘Caraca, essas pessoas gostam de mim’. Foi essa sensação que eu tive quando voltei para a minha comunidade. Foi exatamente assim, de ver as pessoas me esperando”, relembra.
Tanto é o carinho da vizinhança que WD revela que todos participaram do clipe de “Periferia”: “Fizemos o pré-save da música e no grupo tinha muita gente da minha comunidade. Gravamos o clipe e minha periferia inteira participou, sensacional”.
O compositor espera que “Periferia” chegue para curar a alma dos ouvintes, assim como fez com ele. “A música tem o poder de curar a alma e ‘Periferia’ curou a muitas coisas dentro de mim e é isso que eu quero. Além de curar, quero que ela incentive as pessoas a buscarem por seus objetivos e entendam que as vitórias são méritos. Se eu cheguei aqui foi mérito meu”, fala.
WD também espera que seus fãs se identifiquem com esse processo, pois ele traz a “narrativa precária que de quem vive à margem”. “Espero que as pessoas se vejam na música e entendam que tudo é possível. Tem uma parte que eu falo: ‘Eu só peço a Deus que guarde a periferia’”, diz.
Para os próximos seis meses de 2022, WD tem muitos planos. Ele conta que o single abre o projeto do álbum, que ainda não tem data de lançamento. “O álbum se chama ‘Periferia’ e com ele, eu quero falar sobre as pessoas que moram lá. Essa faixa já traz um pouco de tudo que a gente vai ver mais pra frente”, fala.
FORTALEÇA UMA PERIFERIA
Além dos trabalhos na música, o cantor volta com seu projeto Fortaleça Uma Periferia, que consiste em conhecer escolas públicas do Brasil e conversar com os jovens sobre a realidade da vida adulta. WD atua com esse trabalho desde 2018, mas volta reformulado.
“Eu vou pra dentro da escola conversar com as crianças e adolescentes, e é onde eu percebo que se a gente conseguir fazer eles entenderem que é possível chegar onde queremos, vamos mudar a história do nosso País e a trajetória do curso. Ele vai pra outro lugar, sabe? Eu conto pra eles as minhas experiências, que transformei meus sonhos em objetivos”, diz.
Além de rodar o País com o Fortaleça Uma Periferia, o cantor também sai em turnê com shows em diversas cidades do Brasil — mas ainda sem datas e locais confirmados.