Sued Hosaná canta o que é ser travesti

Com apoio da família, Sued Hosaná, multiartista de 24 anos, se desenvolveu na cultura. Foto: divulgação
Ethieny Karen
25/04/2022 - Tempo de leitura: 2 minutos, 40 segundos

Nascida em Alagoinhas, interior da Bahia, Sued Hosaná ainda era pequena quando foi morar no Complexo do Arenoso, na periferia de Salvador. Sob a influência da avó Arlinda, que era uma excelente contadora de histórias e leitora, das músicas, que embalavam seus dias, e da literatura, que era seu refúgio, Sued se desenvolveu pela arte. Virou escritora, atriz, bailarina, cantora e, poeta, mostra seus versos em saraus e slams. Hoje ela é uma multiartista de 24 anos.

A escrita chegou na adolescência. Sued diz que isso foi primordial durante a adolescência para que ela não caísse em depressão — embora a vida em casa fosse pautada por liberdade e amor, as relações escolares, eram conturbadas. “Desde pequena sempre fui muito afeminada e muito quietinha. Isso criou uma imagem de fragilidade e fez com que a maioria das pessoas que se aproximassem tivessem uma relação violenta comigo”, diz. “Quando entrei no ensino médio, comecei a praticar dança e teatro. É quando a arte faz símbolo na minha vida. A primeira vez em que eu me apresentei foi em um espetáculo de dança em três coreografias diferentes”, lembra. “Minha família toda foi assistir.”

Um dos textos mais importantes da trajetória de Sued é o que deu origem à música Travesty dos Mistérios Travesti e Jenipapo, que conta a trajetória de vida e os amores de Sued. “É um cântico”, diz a artista. “Um dia eu estava conversando com uma amiga a respeito dos nossos corpos, a nossa corporeidade ancestral. Não somos contemporâneos, não somos novidades. Não somos seres fabricados de agora, somos ancestralidades vindas de outrora.”

Travesti é mistério da personificação
Travesti é mistério corpo, alma e ilusão
Travesti é mistério serpente, terra e ventania
Travesti é mistério Brasílis e encantaria

Sued enfatiza nos versos a importância da terminologia travesti e o orgulho que sente por sua existência. “[A música vem] Trazendo esse lugar da travestilidade como fielmente brasileiro. Travesti é essa questão dentro desse território de sangue, suor e morte chamado Brasil”, emenda. Travessia, outra composição, fala dos medos e das reflexões da transição.

TRAVESTI

Especialistas e estudiosos das questões de gênero explicam que travesti é a pessoa que não se identifica com o gênero biológico e se veste e se comporta de acordo com outro gênero. Exemplo: um homem que se veste como mulher, se comporta como mulher e se sente mulher. Isso pode acontecer também com uma mulher que se veste, comporta e age como se fosse um homem

Educação — Atualmente, incentivada pelos pais, Sued estuda pedagogia na Universidade Estadual da Bahia (Uneb). “Meus pais sempre me auxiliaram nas atividades no colégio. Muito do que eu me propus como educadora veio da minha experiência com a minha família. Foi tão importante para minha mãe quando eu entrei, que ela deu uma festa. Todos os meus vizinhos ficaram sabendo e foi um grande movimento, principalmente na rua em que eu morava.” Depois da graduação, virá o mestrado.