A solidariedade também é um bom negócio, escreve Edu Lyra

O sonho de Edu Lyra, fundador e CEO do ecossistema social Gerando Falcões, é que um dia a pobreza da favela vá parar no museu. Foto: Gerando Falcões/Divulgação

02/09/2021 - Tempo de leitura: 3 minutos, 32 segundos

Demolir um projeto de exclusão e desigualdade tem um custo alto, mas vale a pena. Investimento social não é bom mocismo, é estratégia

Edu Lyra é fundador e CEO da Rede Gerando Falcões, um ecossistema de desenvolvimento social que engloba mais de 700 favelas em todo o Brasil

A história da Gerando Falcões começou como um roteiro de ficção. Um jovem da periferia, que morava em um quartinho sem reboco, decidiu convidar um dos homens mais ricos do Brasil para ser parceiro estratégico em um projeto social. Qual a chance de dar certo? Contra todas as expectativas, o empresário respondeu à mensagem do jovem, eles se encontraram para uma reunião e, desde então, viraram sócios e amigos.

Essa anedota ilustra bem o papel dos empresários na guerra contra a pobreza. Sua visão estratégica, conhecimento de finanças, experiência na coordenação de projetos, sua capacidade de liderar equipes são armas poderosíssimas nas mãos de um soldado do terceiro setor. Seus recursos também são fundamentais, porque há um custo alto para demolir um projeto de exclusão e desigualdade construído ao longo de séculos.

Mas vale a pena. Investimento social não é bom mocismo, é estratégia. O Brasil tem mais de 13 mil favelas. Mais de 12% da população vive na pobreza extrema. Quase 120 milhões de nossos compatriotas estão em situação de insegurança alimentar. Esse não é o retrato de um país bom para os negócios. Assumir responsabilidades sociais é perceber que o progresso é sempre uma conquista coletiva. Se o morador da favela não melhora de vida, o país inteiro patina.

Essa é a lição que motivou, anos atrás, meu encontro com aquele empresário, Jorge Paulo Lemann, e é o que motiva cada vez mais gente bem-sucedida a conhecer de perto os problemas e potencialidades das periferias brasileiras.

Por isso comemoro a iniciativa da 99 em apoiar o Estadão Expresso na Perifa. Além de ser uma fonte de notícias, de cultura e de opinião, este será um espaço de aprendizado, uma janela para o melhor que as quebradas têm a oferecer. A Gerando Falcões dá sua contribuição com esta coluna quinzenal.

O próximo texto será da Ana Paula Leite Cordeiro, nossa diretora de Gente & Gestão na Gerando Falcões. Ela vai falar sobre a importância de cada um de nós fazer a nossa parte e que podemos contribuir além da doação de recursos financeiros, sendo voluntários, por exemplo, para fazer com que a pobreza da favela vá parar no museu.


EDU LYRA

Nasceu na favela. Morava num barraco e dormia numa banheira. O pai, envolvido com o crime, foi preso. Mas sua mãe foi a grande inspiração e dizia sempre: “Não importa de onde você vem, mas pra onde você vai”. Edu acreditou. Não formou, mas foi para a universidade estudar Jornalismo. Começou a empreender aos 23 anos, quando escreveu seu primeiro livro Jovens Falcões e, com um time de 50 jovens, vendia de porta em porta na periferia e na favela por R$ 9,99. Com o dinheiro das vendas, fundou a Gerando Falcões, em Poá (SP), ao lado de três amigos — são co-fundadores da ONG Amanda Boliarini, Lemaestro e Mayara, com quem Edu viria a se casar mais tarde. Nesse período, conseguiram o primeiro e histórico investimento, doado pelo casal Patrícia e Ricardo Villela Marino, que ainda hoje são conselheiros da rede. Junto com o time, Edu fez a Gerando Falcões deixar de ser uma ONG na favela para se tornar uma rede de ONGs com impacto positivo sobre 50 mil pessoas, foco em eficiência em gestão, escala, uso de tecnologia e treinamento de líderes. Desenvolveu a habilidade de captar recursos e mobilizou centenas de cidadãos como doadores, além de empresas e líderes para apoiar seus programas sociais. O pai de Edu saiu do crime e voltou para casa. E o sonho do Edu é de que um dia a pobreza da favela vá parar no museu Saiba mais em gerandofalcoes.com