Entre quinta-feira (23) e sábado (25), foi realizado, no Memorial da América Latina, em São Paulo, o Parque da Mobilidade Urbana. Durante os três dias de evento foram realizados mais de 50 painéis, reunindo cerca de 130 especialistas no assunto de todo o Brasil, e dezenas de atividades interativas para o público em geral.
No evento, resultado da parceria da área de mobilidade do Estadão com a Connected Smarted Cities, que nasceu sob o DNA de ser disruptivo, sustentável e inclusivo, foram discutidos tendências e cenários da mobilidade para os próximos anos. Entre tantos assuntos abordados, não faltaram discussões sobre mobilidade elétrica, mobilidade corporativa, conectividade, mobilidade compartilhada, desafios do transporte público, mobilidade ativa, segurança, inovação e tecnologia, entre tantos outros assuntos relevantes de como as pessoas se deslocam pelas cidades.
Alguns desses temas foram abordados pelos palestrantes. Representando o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, o secretário executivo de Transporte e Mobilidade Urbana, Gilmar Pereira Miranda, falou da cidade de São Paulo como referência em inovação. “São exemplos a adoção do álcool na frota, seguida do gás e, recentemente, o retorno da ideia de eletrificação, como nos trólebus, em que temos 200 veículos operando”, diz.
Sampo Hietanen, CEO do MaaS Global, criador do termo “mobilidade como um serviço” (conhecido pela sigla MaaS, em inglês), no mundo, que permite a integração de todos os tipos de deslocamento possíveis para o usuário em um aplicativo e seu impacto positivo para o meio ambiente. “O conceito favorece o abandono do veículo particular pelas pessoas ao oferecer possibilidade de escolha pelos usuários.”
Francisco Scroffa, country manager da Enel X, contou a experiência da empresa com a eletrificação no Chile e na Colômbia, que contabilizam 3 mil ônibus elétricos em operação. “Nossa missão é liderar essa transformação na América Latina, e, no Brasil, temos projetos em todas as principais cidades. Não há dúvida de que o País será o carro-chefe da mobilidade urbana eletrificada na região”, afirmou.
João Irineu, diretor de compliance de produto da Stellantis para a América do Sul, falou da importância da conectividade, aliada à evolução da infraestrutura, para favorecer o sistema ambiental ou a matriz energética do Brasil. “Todos esses aspectos devem trabalhar juntos pela redução nos gases de efeito estufa e outros e a descarbonização das cidades. Outro ponto destacado pelo executivo foi a tecnologia de condução autônoma para a redução nos acidentes de trânsito.
Jens Giersdorf, management head da Transformative Urban Mobility Initiative (Tumi), uma iniciativa global para transformação da mobilidade urbana que tem participação da GIZ, empresa do governo alemão para cooperação técnica, falou do foco da empresa na eletrificação do transporte público. “O País tem muito potencial, mas pode aproveitá-lo melhor. Os projetos estão se desenvolvendo aos poucos, e é preciso aumentar a velocidade, pois as metas de redução de emissões já estão colocadas, e a eletrificação é o caminho para atingi-las”, relatou.
Segurança foi destacada
A necessidade de tornar os deslocamentos mais seguros foi reforçada por Frederico Carneiro, secretário Nacional de Trânsito do Senatran. “É necessário que toda a sociedade trabalhe no conceito Visão Zero, no qual nenhuma morte no trânsito é aceitável”, afirma. Daniel Guth, diretor executivo da Aliança Bike, falou do papel da micromobilidade e da importância de sua integração no sistema de transportes da cidade.
“O modelo rodoviário, que impera no Brasil, precisa mudar. A velocidade permitida nas vias pelos automóveis é inaceitável, e só desertifica o ambiente urbano e causa acidentes. É preciso incluir, e não excluir”, disse.
A eletrificação do transporte público foi tema central dopainel Mobilidade Elétrica, Clima, Energia e Economia: Oportunidades para o Brasil e como Aproveitá-las. Questões como as particularidades do nosso sistema e sua complexidade, discussões sobre o melhor modelo de negócio para a transição energética da frota de ônibus do País foram mencionadas como ações necessárias para que a sociedade possa colher os benefícios da descarbonização, a começar pelo climático.
Os aprendizados da experiência da Enel com a eletrificação do transporte público na América Latina, especialmente em países como Chile e Colômbia, que já constituem a maior frota de ônibus elétricos, depois da China, e as adaptações necessárias para implementação no sistema de transporte brasileiro foram destacadas no discurso de Carlos Eduardo Cardoso, responsável por e-city da Enel X. Para ele, é preciso levar em conta as concessões das empresas de ônibus, que já estão em curso, além da crise do sistema, que foi acelerada pela pandemia, mas que teve início antes dela.
Para Marcel Martin, coordenador do portfólio de transporte do Instituto Clima e Sociedade (ICS), se, há alguns anos, a discussão girava em torno da viabilidade financeira da eletrificação da frota, hoje, se sabe que é possível fazer – só é necessário estruturar o modelo de negócio. “Podemos ter, inclusive, mais de um modelo. Há um movimento favorável em torno da questão do financiamento. Além da Enel X, aparecerão diversos outros players, e isso é positivo para o mercado”, disse Cardoso.
“A mudança climática é algo inquestionável, e vejo as empresas ainda em ritmo muito lento e, infelizmente, nem todas estão convencidas de que a descarbonização é a saída. E é preciso agir rápido, pois o planeta não aguenta mais”, disse Camilo Adas, presidente da SAE Brasil. Para o executivo do iCS, essa questão já está estabelecida pela legislação.
Na cidade de São Paulo, a Lei 16.802, de janeiro de 2018, chamada de Lei de Mudanças Climáticas, estipulou as reduções de emissões pelos ônibus de São Paulo de acordo com o tipo de poluente até 2027 ou até 2037, com metas incorporadas aos contratos das empresas de ônibus.
Dessa forma, em 2027, a frota da capital paulista deveria obter diminuição de 50% de gás carbônico (CO2); de 90% de material particulado (MP); e de 80% de óxidos de nitrogênio. E, em 2037, redução de 95% de material particulado e de óxidos de nitrogênio, além de zerar a emissão de gás carbônico (CO2). “Na minha visão, mais do que a aceitação de pessoas e empresas, em relação à eletrificação, existem os parâmetros da lei que precisam ser cumpridos”, disse Martin.