Como aliar o cuidado ao meio ambiente com o transporte público? O que, hoje, parecem ser aspectos antagônicos podem ser conciliados com a eletrificação do sistema de transporte por ônibus no Brasil e sua descarbonização. Para aprofundar um pouco mais no assunto, conversamos com Francisco Scroffa, country manager Brasil da Enel X, braço de negócio da Enel voltado para a inovação no setor energético. Confira.
Por que a eletrificação no transporte público é importante para o futuro das cidades?
Francisco Scroffa: O sistema de transporte público é responsável por cerca de 30% do total de emissões urbanas. Então, nossa missão é descarbonizar nossos clientes, sejam eles cidades, sejam prefeituras ou mesmo indústrias. E acreditamos que a principal ferramenta para atingir esse objetivo é a eletrificação. O sistema de transporte público é uma infraestrutura de uso intensivo; então, economia de escala e menores custos de operação fazem da eletrificação uma opção factível. Nos ônibus, cada vez em que um elétrico substitui um veículo a combustão, são retiradas do ar toneladas de poluentes, todos os dias, todos os anos. A mobilidade elétrica privada também é importante, evidentemente, mas acreditamos que, hoje, os esforços devem estar na pública.
O que falta para que a eletrificação vire realidade?
Scroffa: Em primeiro lugar, quando falamos de mobilidade elétrica urbana, entendemos que se trate de um ecossistema: precisa haver fabricantes, infraestrutura, energia renovável, financiamento e plataformas inteligentes capazes de fazer a gestão de todos esses aspectos. E, hoje, temos tudo isso. Há vários fabricantes disponíveis no Brasil, alguns até com produção local, e muitos fazem ônibus movidos a diesel, que já conhecem o mercado e têm muita experiência.
Nesse caso, é necessário que haja uma mudança de modelo de negócio. A infraestrutura elétrica também é viável, sobretudo porque o crescimento precisa ser gradual, começando em alguns ônibus e aumentando aos poucos. Fizemos diversos estudos em garagens de operadores, e temos realizado projetos por etapas para conseguir atender à infraestrutura.
Outro aspecto é a disponibilidade de energia, e o Brasil possui uma das matrizes de energia mais renováveis do mundo. Em relação aos recursos para financiamento, a Enel tem ferramentas para custear o capital necessário. São projetos complexos, que demandam muito investimento, mas possuímos estruturas para atender a essa demanda.
Temos experiência que pode ser aplicada no Brasil, como fizemos no Chile e na Colômbia, em que contamos com mais de 3 mil ônibus operando, financiados por nós. Já temos a maior frota de ônibus elétrico fora da China em operação, seja no Chile, onde temos 1.500 veículos, seja na Colômbia, com mais 1.500. É preciso reforçar, novamente, que será uma mudança com enormes ganhos para a sociedade.
Quais são as vantagens trazidas pelos ônibus elétricos?
Scroffa: O benefício número 1 é em relação à poluição, já que, como mencionei, o transporte público responde por grande parte das emissões nas cidades, e a descarbonização precisa ser um compromisso de todos nós. Os ônibus elétricos mudam o ecossistema por onde passam, melhoram a qualidade de vida das pessoas com a diminuição nos ruídos e nos poluentes no ar. No Chile, temos visto muito isso – os usuários têm dado retorno bastante positivo. Os ônibus são silenciosos, possuem ar-condicionado e entradas USB, e são muito mais confortáveis para as pessoas. (D.S.)