Invasão do espaço aéreo

Speedbird Aero DLV 1: primeiro drone brasileiro certificado pela Anac para entregas comerciais. Foto: Acervo iFood
Ju Cabrini
29/06/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 40 segundos

Aquela imagem dos antigos filmes de ficção científica, na qual vários objetos voadores sobrevoam as cidades repletas de arranha-céus, pode se tornar realidade. Talvez não neste ou no próximo ano, mas é quase certeza de que, lá para 2030, talvez até antes, já possamos vivenciar essa cena. O fato é que a utilização de operações logísticas de aeronaves elétricas de pequeno porte – os drones – é uma realidade.

A Speedbird, uma empresa brasileira de tecnologia, que fabrica e opera os aparelhinhos elétricos voadores e, recentemente, levantou uma rodada de investimentos de R$ 35 milhões, também marcou presença no PMU.

“A tecnologia precisa evoluir para ficar ainda mais segura. Até em termos de bateria para ganhar maior autonomia. Foto: Divulgação Speedbird

Diferentemente do imaginário da maioria das pessoas, esses pequenos desbravadores dos céus não devem fazer entregas de porta a porta. A missão deles é um pouco mais “nobre”. Segundo Salomão, a verdadeira vocação do segmento de drone delivery é utilizar a tecnologia para otimizar o tempo de entrega de produtos que podem até salvar vidas. Confira.

Como é a utilização de drones na logística?

Samuel Salomão: Esse é um conceito que precisa ser compreendido. É muito importante mudar a ideia, da maioria das pessoas, do drone chegando em nossa janela para entregar uma encomenda. Isso é meio utópico e não deve acontecer, pelo menos não no médio prazo. O drone delivery veio para trazer a tecnologia para otimizar o tempo das entregas. Sim, pode, e já é utilizado para transporte de alimentos, como no case da iFood em Aracaju (para evitar o acesso por uma ponte congestionada, a operação decola das margens do Rio Sergipe e aterrissa na outra margem, na cidade de Barra dos Coqueiros, em que um entregador retira a mercadoria e a leva até o cliente), mas também é uma forma de transporte rápido e limpo para levar sémen entre unidades de reprodução ou mesmo vacinas a locais de difícil acesso.

Qual é o maior dificultador para viabilizar a logística por drones?

Salomão: Atualmente, a tecnologia ainda precisa evoluir um pouco para ficar ainda mais segura. Até em termos de bateria para ter mais autonomia. O sistema já possui milhares de horas de voo, utiliza um paraquedas de emergência para diminuir o impacto com o solo, em caso de pane total. Mas ainda existe espaço para melhorias para poder escalar. Isso dito, deparamos com a questão regulatória, que ainda apresenta algumas barreiras. A maior delas é o sobrevoo de pessoas. Quando a agência reguladora estabelecer uma norma, estaremos mais próximos de ter drones voando nos centros de maior densidade populacional. Se tivéssemos os requisitos definidos, já teríamos como resolver as demandas necessárias.

Por que o órgão regulador não define essas demandas?

Salomão: Durante o período de certificação [a Speedbird tem certificação da agência reguladora para operar comercialmente; porém, em áreas sem concentração de pessoas], tivemos muito contato com a Anac, e foi espetacular: aprendemos demais com eles. Mas existem acordos bilaterais entre as agências. O Brasil trabalha com a AEA [Aircraft Electronics Association], que trabalha com a Easa [European Union Aviation Safety Agency]. Trocam muita informação e procuram resolver problemáticas. Esse processo não é rápido. Acho que eles querem que aconteça, mas da forma mais segura para quem está no solo e no ar.

Qual é o caminho para a certificação definitiva do drone delivery?

Salomão: Precisamos pensar nessa operação como uma questão aeronáutica. Para evoluirmos, falta trabalharmos em conjunto e termos iniciativas do Estado para fomentar esse modal. Por exemplo, definir uma cidade para implementar um estudo. Esse tipo de iniciativa acontece em Israel, que nos convidou para participar do projeto National Drone Initiative [Naama]. A cada três meses, eles reservam duas semanas, escolhem uma cidade, instalam vários pontos de pouso e decolagem, aplicam os sistemas de software para monitoramento, em tempo real, e colocam todos os drones para voar ao mesmo tempo. Um dos principais objetivos é desenvolver a tecnologia anticolisão. Eles aprendem com a prática. Falta isso no nosso País. Juntar os envolvidos para colocar uma operação para rodar, aprender como funciona e escrever uma regulamentação.