Na zona sul da capital paulista mais de 3 mil famílias são atendidas todos os meses pela Associação Pequeno Mestre, que fica no Capão Redondo. O espaço de dois mil metros quadrados e piscina aquecida foi aberto em 2015 pelo mestre de kung fu Cezar Snyper. O campeão mundial tinha um sonho: criar uma organização dedicada a projetos esportivos e sociais, sem mensalidades. Conseguiu.
“Quem ensina aprende duas vezes. É mais feliz quem ajuda o próximo”
Cezar Snyper, mestre de kung fu e fundador da Associação Pequeno Mestre
É importante conhecer a história de Snyper. Ele tem 44 anos, é o caçula de nove irmãos e chegou ao bairro do Capão Redondo com a família no início da década de 1980. “Faltava o básico em casa e muitas vezes minha mãe tinha que pedir algum alimento emprestado para os vizinhos”, lembra. “Não tinha geladeira. Coisas básicas, como água gelada e alimentos frescos, eram luxo.” Para imaginar que estava tomando sorvete, as crianças costumavam pedir fôrma de gelo à vizinha e misturar um pouco de açúcar.
Snyper começou a trabalhar quando tinha 8 anos e logo se destacou nos estudos e nos esportes. Para pagar a mensalidade, chegou a ter um emprego na mesma escola em que estudava. Aprendia em livros e cadernos doados.
Na primeira vez em que viu uma apresentação de kung fu, Snyper tinha 15 anos. Foi num desfile de Independência no 7 de Setembro. Ele conta que aquilo ficou na cabeça, mas não dava para pagar. O jeito foi fazer três anos de capoeira numa associação gratuita e depois, mais velho, usar o salário para pagar a matrícula e o uniforme do kung fu.
Basquete, voleibol, natação, atletismo. Snyper competia em todos esses esportes, mas foi no kung fu que conquistou os títulos de campeão paulista, brasileiro, sul-americano e mundial, em 2004. Dois anos depois, abriu a própria academia no bairro onde cresceu. Certo dia, algumas crianças apareceram e ficaram assistindo a aula. “Elas voltaram umas três vezes, até que um deles tomou coragem e perguntou o valor da mensalidade. Eu disse que era 50 reais e pude notar a decepção em seus olhos”, diz o mestre. “A academia ficava no fim da rua, com pouco movimento de carros. Pra minha surpresa, como não podiam pagar, eles tentavam acompanhar as aulas lá de fora.”
A cena comoveu Snyper e fortaleceu a ideia de construir um pólo de projetos sociais sem mensalidades. Desde 2015, portanto, a Associação Pequeno Mestre está aberta às crianças e famílias do Capão Redondo. Ela também apoia o sonho de atletas. É o caso da capoeirista Duda Ferreira, de 17 anos, bicampeã mineira e tetracampeã paulista. “Esse patrocínio garante a minha vida de atleta”, afirma Duda. “Faço várias modalidades e treinamentos. Eu não tinha dinheiro nem para competir. Hoje tenho 30 títulos; antes do patrocínio eram 18.”
Além de artes marciais e outras atividades físicas para todas as idades – a exemplo de natação, hidroginástica e dança –, são oferecidos programas culturais, educacionais e socioeducativos. Há ainda atendimentos na área da saúde, cursos profissionalizantes e ações humanitárias. “Desde o início da pandemia de covid-19, já distribuímos mais de 150 toneladas de alimentos”, diz Snyper. Ele afirma que quem ensina aprende duas vezes. “É mais feliz quem ajuda o próximo.”
Saiba mais sobre a Associação Pequeno Mestre