Projeto desperta consciência das crianças para o trânsito

Rota do Carona a Pé em plena atividade nas ruas da área central da cidade de São Paulo. Foto: Letícia Padilha

27/09/2021 - Tempo de leitura: 4 minutos, 12 segundos

Foi da constatação da pedagoga Carol Padilha de que vários de seus alunos saíam diariamente dos mesmos pontos – todos acompanhados de seus pais ou responsáveis, em diferentes modais – que surgiu a ideia do Carona a Pé.

O projeto, criado em 2015, consiste na formação de turmas para que crianças de várias idades e de um determinado perímetro possam ir caminhando a seu destino, sempre guiadas por um adulto. “Na época, eu dava aulas no colégio Equipe, em Higienópolis, e a primeira turma se formou com as crianças que se juntavam a mim em meu trajeto”, conta a professora, que leciona para turmas do ensino infantil e fundamental I.

Padilha, que não tem carro e sempre se deslocou para o trabalho de bicicleta ou caminhando, conta que os pais dos alunos, motivados, principalmente, pelas crianças que adoraram a novidade, começaram a se interessar. “Eles me perguntavam se podiam fazer o mesmo que eu e as dúvidas foram surgindo. Foi então que o colégio resolveu reunir todo mundo, em uma assembleia, e conversar”, lembra.

Desse encontro, ela explica, surgiram várias boas sugestões, a maior parte delas das próprias crianças. Com o tempo, os grupos se multiplicaram e a escola chegou a ter 35% do seu público indo pelo Carona a Pé. “Algumas pessoas se encontravam no metrô; outras, em pontos no entorno da escola. Quem vinha de longe se reunia na frente da minha casa. E os resultados da interação logo começaram a aparecer”, diz a fundadora do Carona a Pé.

Mais que um projeto pedagógico

Quando a ideia começou a ganhar forma, Padilha tinha certeza de que ir andando ao colégio seria bem mais que uma forma de deslocamento.

“Notamos que a criança que caminha desenvolve um sentido de geolocalização diferente, além de boa noção de tempo e espaço. Elas criam seus pontos de referência, ocupam as calçadas, observam a cidade e vão ganhando autonomia nas ruas”, diz. Um ponto que ela destaca é a importância da formação dos pedestres. “Esse é o primeiro papel que ocupamos no trânsito e não há capacitação para quem caminha na rua. E seremos pedestres ao longo de toda a vida. Então, essa vivência é muito importante”, afirma.

Com o projeto, os congestionamentos na porta e no entorno do colégio diminuem, enquanto o senso crítico dos alunos em relação a questões envolvendo trânsito e mobilidade aumenta. “Antes da pandemia, um aluno comentou: ‘Vocês já repararam que, nos dias de chuva, nós somos os únicos a chegar no horário?’ E quem vem de carro chega de mau humor, enquanto, para nós, esses dias são bem divertidos?”, recorda Padilha. Da mesma forma, comenta a professora, as crianças lançam olhares de reprovação àqueles que ainda insistem em parar em fila dupla.

Nova fase

Com a popularização do Carona a Pé, outros colégios passaram a procurar a pedagoga, pedindo auxílio para implementar em suas unidades. “Foi nessa fase que passei a estudar mais sobre mobilidade ativa e comecei a estruturar o site.” Ela conta que duas mães de alunos, as primeiras que abraçaram o projeto logo no início, viraram suas sócias na empreitada: Juliana Levy, editora, e Renata Morettin, arquiteta e urbanista. Juntas, passaram a desenvolver projetos para formação de comunidades escolares, sempre com foco nos pedestres. “Hoje, trabalhamos com empresas de diversos segmentos, entre eles o automotivo, como Toyota e Fundação Volkswagen, entre outras. Também contribuímos em editais e prêmios de mobilidade”, explica Padilha.

Com a pandemia, as rotas do Carona a Pé e outras atividades presencias pararam. “Esses quase dois anos foram importantes porque, paradas, nos concentramos em estruturar o projeto para alcançar um número maior de pessoas”, diz. De licença das aulas, a fundadora do Carona a Pé revela que puderam se dedicar a publicações, como o recém-lançado Guia de Mobilidade Urbana na Escola, feito para o Grupo Volkswagen, mas que ficará disponível no site do Carona a Pé ao público em geral. “Esse conteúdo é importante porque trata o assunto da mobilidade urbana do ponto de vista da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), o que irá ajudar os professores a levarem essa temática da escola às ruas. E ele é inclusivo”, explica.

Para a fundadora do projeto, este momento de retomada das atividades demanda uma reflexão da sociedade. “Acho que temos que pensar sobre como queremos voltar dessta pandemia, pois aprendemos que existem outras formas, mais sustentáveis, de vivermos. É fundamental mudar alguns hábitos e isso pode ser muito positivo a todos”, finaliza.

Para saber mais sobre o projeto, acesse: caronaape.com.br

Números do Carona a Pé
434 adultos capacitados
600 crianças caminhando (antes da pandemia)
50 formações ministradas
12 Estados com o programa