O recém-coroado campeão brasileiro da Stock Car Pro Series, Gabriel Casagrande, é um piloto que vem quebrando paradigmas. Um deles é o fato de não ser apoiado pelos patrocinadores gigantes da categoria. Entre eles, grandes laboratórios farmacêuticos que, historicamente, utilizaram o potencial de marketing da categoria a favor de ações que ativam seus patrocínios e proporcionam encontros com clientes, funcionários e convidados nos autódromos para desfrutar de um final de semana bem diferente dos salões fechados e dos palcos das convenções e exposições tradicionais, porém, com o mesmo resultado ou até melhor.
Quem iniciou esse movimento foi o laboratório Medley, nos anos 1990, à época, encabeçado pelos irmãos Xandy e Guto Negrão, pilotos de Stock Car, que decidiram transformar o hobby em negócio, do qual angariaram um resultado tão positivo, que acabou trazendo outros players, como Eurofarma, Cimed, Pfizer, Pratti, Cifarma, União Química, Blau, Pharlab, entre várias outras empresas farmacêuticas.
Casagrande também não tem nenhuma companhia gigante de petróleo em sua retaguarda, como Petrobras, Shell, Ipiranga ou Chevron (Texaco), que apoiam grandes equipes na Stock Car Pro Series. Não teve seu passe disputado pelos maiores times da categoria, a solução foi “comer pelas beiradas”, como diz o velho jargão, e foi obrigado a se virar atrás de patrocinadores que garantissem sua participação, divididos entre várias cotas, desde a fabricante de tintas automotivas Axalta e as baterias Júpiter, indo até a Raumak, distribuidora de aços com sede em Jaraguá do Sul (SC), e da marca STP, de aditivos automotivos. Sua equipe, a A.Mattheis/Vogel, também não figurava entre as grandes vencedoras, nos últimos tempos, da categoria.
Assim como no automobilismo mundial, a renovação dos pilotos da Stock Car vem se acelerando cada vez mais. Nos primeiros anos, a alternância era mínima, e os mesmos nomes disputavam os títulos a cada temporada. Uma curiosidade é que o dodecacampeão Ingo Hoffmann figura, até hoje, entre os mais jovens e os mais velhos campeões da categoria. Em 30 temporadas disputadas, ele foi o mais jovem campeão em 1980, com 27 anos, 8 meses e 9 dias de idade, e o mais velho, na temporada 2002, aos 49 anos, 7 meses e 27 dias.
Com a chegada de novos valores, alguns até substituindo seus pais, como Daniel Serra (filho do tricampeão Chico Serra), Pedro e Marcos Gomes (filhos do tetracampeão Paulo Gomes), Allam Khodair (filho do ex-piloto Nabil Khodair) e Thiago Camilo (primogênito de Bel Camilo), a faixa etária do campeão foi caindo, até que o fenômeno Felipe Fraga estabeleceu uma marca difícil de ser batida, ao vencer o campeonato de 2016, aos 21 anos e 5 meses de idade.
Com a conquista de 2021, Gabriel Casagrande subiu ao segundo posto na lista de mais jovens campeões da categoria, com 26 anos, 9 meses e 22 dias de vida. O terceiro, acreditem, ainda é Ingo Hoffmann, com aquela conquista de 1980, à frente de Giuliano Losacco (2004, com 27 anos, 8 meses e 15 dias, e 2005, com 28 anos, 8 meses e 14 dias) e Ricardo Maurício (campeão em 2008, aos 29 anos e 11 meses).
Nesse quesito, Casagrande ficou em segundo lugar, mas ele quer ir além: “Espero que esse não seja o meu único título na Stock. A gente vai tentar mais. Eu quero mais. Espero poder marcar o meu nome como um piloto que foi campeão várias vezes. Temos carro e equipe para isso. E, se a gente fizer um trabalho parecido com o de 2021, não tem motivo para não sonhar em repetir essa façanha. A equipe, o nosso grupo, merece.” Uma coisa é certa. Equipe e patrocinadores serão os mesmos para 2022.
O nome do preparador Mauro Vogel é lendário no automobilismo brasileiro. Trata-se de uma figura unânime, não apenas em empatia com todos a seu redor como pelo reconhecimento de sua capacidade. Vogel “ensinou” muita gente e formou muitos pilotos, entre eles, o conterrâneo de Petrópolis Andreas Mattheis. Quis o destino que, hoje, eles trabalhassem juntos, formando a equipe A.Mattheis/Vogel, campeã com Gabriel Casagrande, que entende bem a estrutura que o ampara. “No fim de 2020, quando recebi a proposta de trabalhar com o Andreas e o Mauro, fiquei muito emocionado e grato, porque eles poderiam ter seguido caminhos diferentes; porém, montaram esse esquema para me conseguir como piloto. São dois dos melhores acertadores de carro que tivemos na história da Stock Car. Trabalhar com o Vogel e o Andreas é um privilégio. Eu me sinto abençoado.”