Apesar do crescimento do mercado de veículos elétricos no Brasil, a população continua cética em relação aos modelos eletrificados. É o que indica a pesquisa da Orbit, empresa especializada em análises de comportamento de consumo. O levantamento analisou 500 comentários na rede social X, antigo Twitter, com menções aos carros elétricos.
De acordo com as publicações, as principais preocupações sobre carros elétricos estão resumidas em três categorias: sustentabilidade, preços e mercado brasileiro. Respectivamente, os comentários representam 14,7%, 13,3% e 12,5% do total de menções. Outras discussões comuns nas redes envolviam desvantagens gerais (8,8% dos comentários), confiança (8,6%) e manutenção e custos (7,2%).
No mesmo período em que a pesquisa foi realizada, em março de 2024, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) publicou o balanço trimestral do mercado de veículos elétricos no Brasil. Conforme dados disponibilizados pela associação, o setor bateu recorde de vendas, com um aumento de 145% em comparação ao primeiro trimestre de 2023. Em valores totais, 36.090 veículos foram vendidos em 2024, contra os 14.786 do ano passado.
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Para Fernando Hargreaves, um dos pesquisadores responsáveis pelo levantamento, a contradição entre a preocupação com sustentabilidade e carros elétricos é uma surpresa. “O ponto central é entender que, apesar de ser apresentado como uma solução de energia limpa, o carro elétrico não é amplamente tido como uma solução sustentável, ainda”, afirma.
Dentro da categoria de comentários sobre sustentabilidade, a maioria das publicações utilizavam os termos “são mais poluentes” e “carros elétricos têm impacto ambiental”, para comparar com os modelos convencionais, movidos a combustão. De acordo com Hargreaves, as publicações analisadas eram comentários espontâneos sobre veículos elétricos, “em que a conversa não é pautada em cima de notícias publicadas”, explica.
Quando o assunto era valor, o comentário mais comum sobre os modelos eletrificados foi “o preço é alto”. Este tipo de opinião representou cerca de 62% das publicações dentro deste tema. Além disso, outras preocupações, como a dificuldade em revender e o valor dos impostos, também estavam entre os mais escritos.
Com base nos comentários avaliados, os usuários também se mostraram céticos em relação à infraestrutura energética no País. O mesmo fator faz muitos acreditarem que a modalidade ainda não é vantajosa. Essa impressão ainda é reforçada por comentários genéricos sobre a capacidade de veículos elétricos em longas viagens e a possibilidade de explosão das baterias, por exemplo.
Fora do Brasil, um cenário parecido resultou em uma troca real. No início do ano, a Hertz, uma das maiores empresas de locação de veículos do mundo, anunciou a venda de aproximadamente 20 mil carros elétricos da sua frota nos Estados Unidos para troca por veículos movidos a combustão. Naquela época, esse número equivalia a cerca de um terço de toda a sua frota global de veículos elétricos.
De acordo com a nota oficial publicada durante o início das vendas, o principal motivo da troca foi a baixa procura por modelos elétricos e o alto custo de manutenção em comparação com os veículos convencionais.
Segundo Ricardo Bastos, presidente da ABVE, a pauta da sustentabilidade já estava no radar da categoria há mais de um ano. “Nós identificamos que essas informações não são muito corretas, [e] o que estamos fazendo é trazer mais informações”, afirma. Apesar dos comentários, o presidente avalia o cenário do mercado nacional como positivo, com possibilidade de mais crescimento nos próximos meses.
“Estamos tendo a primeira experiência com empresas que já estão prontas para reciclar a bateria ou fazer o reparo para voltar ao uso”, explica Bastos. Baterias de veículos elétricos podem servir, também, como armazenadoras de energia. De acordo com o presidente, algumas empresas e concessionárias têm informado aos compradores sobre os usos das baterias e seu valor residual na tentativa de diminuir a desinformação e conquistar clientes.
“O consumidor está indo atrás [do modelo]. O que aconteceu no ano passado foi um movimento muito forte que continuou intensificado esse ano”, explica. A maior variedade de modelos eletrificados, incluindo híbridos, também tem atraído novos consumidores. “Existiu, também, um movimento muito forte das empresas por mais opções, que agora oferecem veículos que começam com preços próximos de 100 mil reais, [o que] até ano passado não tinha”, analisa.
Bastos também compartilha a mesma visão positiva quando se trata de infraestrutura nacional. De acordo com o presidente, o crescimento tem acompanhado o número de vendas de veículos. “Tínhamos menos de 3 mil no começo do ano passado e, hoje, já estamos com 5 mil carregadores públicos; ano que vem devemos ter 7 mil”, comenta. Ainda hoje, a maior parte da estrutura de carregadores públicos está concentrada nas região Sul e Sudeste.