‘Não investir na expansão metroferroviária foi uma decisão política equivocada’, diz executivo da ANPTrilhos

Da esq. para a dir., Victor Vieira (Estadão); Federico Andrés (Tic Trens); Joubert Flores (ANPTrilhos); Sérgio Avelleda (Insper) e Jaime Juraszek (Linha Uni). Foto: Helcio Nagamine/Estadão

Há 3 dias - Tempo de leitura: 4 minutos, 11 segundos

O transporte sobre trilhos no Brasil, modalidade que foi responsável pelo transporte de 2,57 bilhões de pessoas ao longo de 2024, foi tema do painel 4 do Summit Mobilidade 2025, evento realizado pelo oitavo ano consecutivo pelo Estadão e que, nesta edição, aconteceu no Espaço Bravos, na zona oeste da capital paulista.

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A conversa reuniu especialistas do setor, como Federico Andrés, diretor de Implantação da TIC Trens; Jaime Juraszek, CEO da Concessionária Linha Universidade (Linha Uni); Joubert Fortes Flores Filho, presidente do Conselho Administrativo da ANPtrilhos; Sérgio Avelleda, coordenador do Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Insper; e contou com a mediação de Victor Vieira, editor de Metrópole do Estadão.

Um segmento, muitos desafios

Atração de passageiros para o transporte público sobre trilhos, o modal sob a ótica do planejamento urbano, a integração tarifária, o crescimento do sistema, entre novidades – como o plano de expansão de trens urbanos como São Paulo-Campinas (TIC) e São Paulo-Jundiaí, e de linhas como a 6-Laranja, em construção pela Linha Uni -, foram alguns dos desafios desse segmento mencionados pelos painelistas.

Para Flores, o momento é positivo, principalmente no Estado de São Paulo. “O transporte sobre trilhos tem avançado, mas é um movimento aquém do que gostaríamos e do que a sociedade precisa. Em São Paulo temos um plano, mas em outras cidades do País não temos. E precisamos ter”, opina.

Para ele, um dos mitos que impede o avanço do modal é o de que se trata de um transporte muito caro. “Não investir nessa expansão foi uma decisão política equivocada, que precisa serr revertida. Em Londres, por exemplo, a Elisabeth Line custou em torno de 14 milhões de libras, mas lá o planejamento é tão bem feito que já sabe, pelo cálculo de valorização das áreas e outros, quando esse investimento dará retorno financeiro”, explica.

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Planejamento: a solução para as cidades

A importância do planejamento em mobilidade também foi abordado por Sérgio Avelleda. Ele menciona como exemplos de iniciativas da capital paulista a integração do Bilhete Único ao transporte sobre trilho, em 2015, e o fomento ao uso da bicicleta com a expansão da infraestrutura cicloviária.

“No caso da integração, a demanda mais que dobrou em um ano. No caso das bikes, hoje temos trânsito nas ciclovias e o aumento no uso do modal foi constatado na última pesquisa Origem e Destino do Metrô. São ótimos exemplos de como a coordenação entre as instâncias do poder público nos transportes resultam em aumento da demanda. E estimulam as pessoas a usar o transporte público, que é o que as cidades precisam”, afirma Avelleda.

Para o CEO da Linha Uni, a falta de integração entre esferas do governo também é sentida em grandes obras. “Na Linha 6-Laranja, temos 15,3 km de escavação debaixo de São Paulo. Como exemplo, temos um caso de um atacadista que construiu, em 2018, na área onde iríamos escavar – só lembrando que nosso contrato foi assinado em 2015. E outros dois outros prédios seriam construídos, mas, felizmente, conseguimos evitar a tempo”, afirma Juraszek.

Em relação às oportunidades que a expansão do transporte sobre trilhos proporciona, o diretor de Implantação da TIC Trens menciona o aquecimento econômico das cidades contempladas. “O próprio trem acaba sendo catalisador para impulsionar a evolução dos municípios afetadas pelo TIC. E isso é avaliado numa etapa bem inicial do trabalho, quando analisamos os usuários e sua jornada”, analisa.

É preciso coletivar as soluções’

De acordo com Avelleda, as cidades são as maiores responsáveis pela emissão de gases contaminantes da atmosfera e, dentro delas, o setor de transportes se destaca negativamente. “Fico chocado em ver como a sociedade não está sensibilizada com esse tema. Precisamos coletivizar as soluções, e se optarmos pelo transporte sobre trilhos, marcaremos um golaço”, diz.

De acordo com ele, é preciso começar a criar incentivos para quem usa o transporte público e a mobilidade artiva e ‘desincentivos’ para quem opta por se deslocar de transporte individual motorizado. “A exemplo de outras cidades no mundo, isso criaria subsídios para o transporte público. E isso precisa estar diretamente diretamente ligado às mudanças climáticas”, opina Avelleda.

Nesse sentido, Juraszek afirma que em torno de 102 mil toneladas de CO2 por ano serão evitadas pela Linha 6-Laranja, que tem previsão de ser entregue no segundo semestre de 2026.

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