Investimentos em transporte: setor privado precisa de segurança em projetos de longo prazo

Participantes do painel que debateu a retomada dos investimentos públicos no setor de transporte. Foto: Helcio Nagamine/Estadão

Há 1 dia atras - Tempo de leitura: 3 minutos, 54 segundos

Pensando em projetos de longo prazo voltados à infraestrutura de transporte, a iniciativa privada precisa de garantias de recebimento daquilo que investiu. Esse foi um dos pontos de destaque do painel “Retomada dos Investimentos Públicos em Infraestrutura para Transporte de Passageiros e Logística”, tema debatido durante o Summit Mobilidade, evento realizado pelo Estadão Mobilidade na quarta-feira, 28.

“Pensando em projetos de 20 ou 30 anos, o Brasil tem amadurecido na modelagem econômica e financeira. Mas o primeiro ponto importante é que o setor privado tenha garantias de que irá receber”, rdisse Fernando Quintas, CEO da CS Infra e da Ciclus Ambiental, um dos painelistas presentes.

“De um total de R$ 260 bilhões investidos em infraestrutura no ano passado, R$ 200 bilhões foram da iniciativa privada. Essa participação aumenta ano a ano”, recorda o executivo.

O painel também teve por objetivo tratar do papel das Parcerias Público-Privadas (PPPs) nesse processo. O mediador, Wladimir D’Andrade, editor do E-investidor, perguntou a Fernando Quintas sobre como lidar com essa insegurança a partir de um caso de sucesso em uma rodovia, a Grãos do Piauí.

“Quando se fala em investimento em infraestrutura, as empresas privadas sempre buscam localidades de maior demanda e a dúvida inicial é se é preciso vir a demanda primeiro ou a infraestrutura. No Piauí há de fato uma PPP de rodovia, a maior da Região Nordeste. Tem 600 quilômetros, fica no sul do Piauí e é utilizada para transporte de grãos”, disse Fernando Quintas.

“A modelagem inclui pedágios e, se a demanda ficar abaixo do previsto, o edital prevê a complementação dessa contraprestação”, lembra. Segundo Quintas, com o sucesso desse modelo, o escoamento da safra de soja permanece viável também nos períodos de chuva e a estrada tem vigilância 24 horas e equipes de socorro, ajudando no desenvolvimento da região.

Fernando Quintas citou também que é muito importante o apoio de bancos como o BNDES para o retorno e fomento de projetos como este, que viabilizem o transporte rodoviário de passageiros e carga. “Acreditamos muito no País e estamos confiantes no crescimento da infraestrutura do Brasil.”

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Nas ferrovias, investimento público alavanca o privado

Outro palestrante, Hélio Sousa, diretor de outorgas ferroviárias do Ministério dos Transportes, comentou que, no setor ferroviário, só se começa a auferir receita quando a ferrovia está pronta. “E isso exige um valor agressivo inicial.” Ele lembra que ferrovias são construídas em regra pelo poder público para que o projeto e modelagem parem em pé.

“É o investimento público que vai alavancando o setor privado.” Sousa diz que tem encontrado desafios porque o transporte ferroviário tem algumas peculiaridades, como os altos custos inerentes a essa modalidade, mas garante que ele tem vantagens: “O governo tem trabalhado em projetos estruturantes que vão permitir o escoamento de carga para diferentes portos com redução de custos”, afirma o representante do Ministério dos Transportes.

Hélio Sousa recorda que o fator que amortecerá a pressão de taxas de juros internas é a modelagem do contrato e citou que o mecanismo de contas vinculadas é um importante instrumento para atrair investimentos.

Sobre a situação delicada em que se encontram algumas companhias aéreas, Eduardo Silva atribui o problema aos frequentes momentos de alta e baixa da economia, que atrapalham o planejamento das empresas do setor.

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Hélio Sousa, diretor de outorgas ferroviárias do Ministério dos Transportes, Foto: Helcio Nagamine/Estadão

Malha aérea precisa ser integrada

Para falar sobre transportes aéreos, a palavra foi do diretor de operações e serviços técnicos da Infraero, Eduardo Gonzaga da Silva. “A economia do País é cíclica, o que dificulta investimentos públicos, mas a ideia é o desenvolvimento da aviação regional. Sou a favor das concessões de aeroportos, mas é preciso, se não de uma vigilância, uma agência reguladora.” Para ele, o instrumento da concessão está mais evoluído no restante da América Latina que no Brasil.

“Temos capacidade instalada, mas precisamos de planejamento para que pessoas de diferentes regiões possam se deslocar [a partir da malha aérea] para grandes centros.”

Sobre a situação delicada em que se encontram algumas companhias aéreas, Eduardo Silva atribui o problema aos frequentes momentos de alta e baixa da economia, que atrapalham o planejamento das empresas do setor.