Rubens Barrichello é dos esportistas brasileiros mais bem-sucedidos de todos os tempos. Há quem discorde, sempre há. Dono da marca de 323 corridas disputadas na Fórmula 1, em 19 temporadas, auge do esporte motorizado, de quebra, seis delas foram pilotando para a Ferrari, sonho de dez entre dez pilotos, mas alcançado por poucos.
Quem achava que sua aposentadoria da F1, em 2011, significaria pendurar as sapatilhas, se enganou. Rubinho é um verdadeiro racer, termo dedicado a quem adora pilotar qualquer coisa, a qualquer momento. Da F1 foi para a Indy e, de lá, para a Stock Car, que experimentou em 2012 e estreou de verdade em 2013. Um ano depois, já conquistava o título, nessa que é considerada uma das mais difíceis e equilibradas categorias do mundo.
Aos 50 anos e muito competitivo, Rubinho chegou à Super Final BRB, no último domingo, no Autódromo de Interlagos (SP), com uma pequena liderança sobre Daniel Serra, Gabriel Casagrande e Matías Rossi, os quatro melhores. A decisão do título mais se parecia com um roteiro de cinema, que começou a se desenrolar no sábado, com a inédita pole position de um estreante. Trata-se de Felipe Baptista, jovem de 19 anos que roubou a cena, dominando a classificação, prelúdio de um triunfo épico, que foi a conquista da Corrida 1 do domingo, dominada com propriedade, tornando-se, assim, o 75º vencedor nos, agora, 44 anos da Stock Car.
As atenções ficaram mesmo era em cima dos postulantes ao título, que largavam bem, com o argentino Rossi em segundo, Serra em terceiro e Barrichello em quarto. Casagrande não estava longe, em oitavo, no grid de largada. Com 32 carros na pista, é ou não é roteiro de cinema?
Drama, sem dúvida. Era uma mistura de xadrez com vela, tática e marcação, antes que incidentes tirassem de combate, pela ordem, Matías Rossi, na Corrida 1, e Daniel Serra e Gabriel Casagrande, que se enroscaram na primeira volta da segunda prova. Rubens Barrichello também teve seu carro avariado, mas conseguiu seguir na corrida. Com os adversários fora da pista, o título estava garantido. Barrichello agora é o piloto mais velho a alcançar o título da principal categoria do automobilismo na América do Sul, com 50 anos, 6 meses e 18 dias, desbancando uma marca que era de Ingo Hoffmann, campeão em 2002 com 49 anos.
A campanha rumo ao título foi memorável. Com direito a “barba, cabelo e bigode” em Goiânia (GO), onde marcou todos os 56 pontos em jogo, no final de semana. Na mesma Goiânia, em outubro, o piloto assumiu, pela primeira vez, a liderança do campeonato, superando Serra e Casagrande, justamente no momento capital, às vésperas da corrida decisiva. Ao todo, o dono do Toyota Corolla 117 marcou três vitórias, sete pódios, uma pole e uma volta mais rápida.
Ao fim de 12 etapas e 24 corridas, Barrichello terminou o campeonato com 330 pontos. Daniel Serra foi o vice-campeão, com 316, enquanto Gabriel Casagrande ficou em terceiro, com 307.
Na segunda prova, de início conturbada por causa dos incidentes envolvendo vários pilotos, Ricardo Maurício consolidou-se como o maior vencedor da temporada. O tricampeão não deu chance a ninguém e faturou sua quinta vitória em 2022, tornando-se o terceiro piloto em atividade com mais triunfos na Stock Car, 35 conquistas, e a duas de empatar com Cacá e Thiago. Ricardinho também igualou as sete vitórias de Cacá Bueno e Thiago Camilo em Interlagos. Nelsinho Piquet e César Ramos completaram o pódio.
Rubinho Barrichello nunca venceu em Interlagos pela Stock Car. Na verdade, nem pela F1, quando tinha uma vitória certa em 2003 e parou, sem gasolina. Justiça seja feita, a única vitória veio em uma corrida de Fórmula 3 no circuito paulistano, em 1990, como convidado. Mas não tem problema – depois da Super Final BRB do último domingo, as pazes com Interlagos estão mais que feitas.
Interlagos foi palco também de um grande feito para a Toyota. Presente na Stock Car desde 2020, a montadora japonesa comemora, pela primeira vez, a conquista de um título na categoria, somando-se à Chevrolet (36 títulos), Peugeot (5) e Mitsubishi (2 títulos).
Entre as equipes, a melhor da temporada foi a RC, liderada por Rosinei Campos, o “Meinha”, única pessoa que esteve presente em todas as provas de Stock disputadas até hoje. Seu time marcou 581 pontos, contra 531 da A.Mattheis/Vogel e 486 da RCM, esta última também sob o mesmo teto da RC. Ao fim de mais uma temporada, a RC chega a seu 11º título.