Um dos problemas mais sérios que o uso de combustível de má qualidade pode provocar no motor é a contaminação do óleo do cárter, que acelera sua degradação e resulta na formação de borra. Isso ocorre por conta da reação indesejada do lubrificante com os produtos químicos comumente utilizados na adulteração do combustível – solventes, na maioria dos casos.
Uma das soluções sugeridas por alguns mecânicos para esse tipo de dano é o chamado “flush”, ou seja, a aplicação de um produto químico com o objetivo de limpar o interior do motor. Só que, embora essa prática possa parecer lógica em um primeiro momento, traz riscos ao carro.
Quem explica é Diego Riquero Tournier, chefe de serviços automotivos para a América Latina da Bosch. “Pistões e anéis não vedam totalmente a câmara de combustão; assim, o combustível que não é totalmente queimado durante o funcionamento do motor escorre pelas paredes dos cilindros para o cárter e entra em contato com o óleo.”
Isso, de acordo com o técnico, é normal e está previsto pelas fabricantes do motor, dos lubrificantes e dos combustíveis. O que elas não preveem é a presença de outros produtos químicos nesse processo. “Como não foi desenvolvido para ser misturado com solventes e outras substâncias, o lubrificante acaba reagindo de forma indesejada, formando a borra”, diz Tournier.
“Quando isso ocorre, o óleo perde suas características e não vai chegar até o prazo previsto para sua substituição, tornando-se necessária a troca bem antes do tempo”, alerta o especialista da Bosch.
Para piorar, o motorista comum terá dificuldades para detectar o problema. “Só quando se abre a tampa do motor, ou quando se retira o óleo do cárter é possível perceber a presença de borra.”
Portanto, vale seguir à risca os prazos de manutenção indicados pela montadora. “Por mais que a gente veja óleos lubrificantes anunciados tendo durabilidade maior – e de fato eles têm –, essa longevidade é conseguida em condições ideais. E, na vida real, todo mundo está sujeito a abastecer em algum posto desconhecido (durante uma viagem, por exemplo) com combustível de má qualidade”, lembra Diego Tournier.
Sobre o flush, o chefe de serviços automotivos da Bosch diz: “Esse é um procedimento que gera muita polêmica, pois você vai injetar um solvente muito agressivo no interior do motor para tentar retirar a sujeira, mas é preciso lembrar que o motor possui passagens e galerias que são bastante pequenas, assim existe o risco de essa limpeza retirar a sujeira de um lugar e depositá-la em outro”, explica.
“O flush deve ser encarado como uma tentativa de resgatar o motor antes de desmontá-lo por completo e só deve ser feito em oficina, para tentar ‘salvar’ alguma coisa do motor”, afirma Tournier. “Por conta de tudo isso, nenhuma montadora recomenda a prática, que também nunca deve ser feita como medida de manutenção preventiva.”