Imagine entrar em um carro autônomo e ler o jornal enquanto trafega por vias expressas controladas por um sistema de inteligência artificial. Nesse cenário, para que não ocorram acidentes e o fluxo de automóveis permaneça contínuo, é fundamental que a velocidade de resposta seja instantânea. A imagem parece futurista, mas ilustra como o 5G é determinante para a construção de cidades inteligentes.
A inovação é um pilar das smart cities pelo seu papel de oferecer possibilidades técnicas para que soluções práticas possam sair do campo das ideias. Em primeiro lugar, porque a tecnologia apresenta baixa latência, o que permite que a transmissão de dados aconteça de forma rápida e eficiente. Em segundo, pela sua estabilidade, ao garantir que muitas pessoas e dispositivos possam utilizar a internet ao mesmo tempo.
A estimativa é que o 4G permita 10 mil usuários, simultaneamente, por km². Por isso, a internet cai ou perde a latência em shows e estádios de futebol. O 5G aumenta o número para 1 milhão de usuários. Além de pavimentar a estrada para a internet das coisas (IoT), a tecnologia diminui o consumo de energia dos dispositivos que estão conectados à rede móvel e possibilita que fiquem conectados por mais tempo, sem perder a capacidade.
Na prática, isso facilita, por exemplo, uma conexão melhor entre vários pontos da cidade, seja para a instalação de câmeras de segurança inteligentes, sejam processos de detecção de risco de deslizamentos. “Hoje, essa mesma região precisa de milhares de pontos de fibra óptica para ligar as câmeras”, ilustra Tiago Faierstein, gerente de novos negócios da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
No Brasil, a internet 5G ainda é um movimento tímido. Poucas capitais estão oferecendo o serviço, e, mesmo nos lugares em que o sistema está mais avançado, falta a infraestrutura necessária e pessoas com dispositivos compatíveis. A expectativa, no entanto, é que, até dezembro de 2029, todo o País já esteja integrado à tecnologia. E os postes de luz podem ser uma ferramenta importante na democratização da rede.
Quando se olha para o céu, em boa parte das cidades brasileiras, a primeira coisa que se vê são os emaranhados de fios nos postes de luz. A paisagem é tão comum, no meio urbano, que já é vista quase como um símbolo nacional. Porém, esses ambientes devem, aos poucos, ganhar outra cara. Isso porque os postes são considerados por especialistas como os pontos ideais para a instalação das antenas 5G.
“Os postes de iluminação pública estão no bairro do rico e do pobre. Estão em todos os lugares”, justifica Faierstein. A ideia não é inédita e já é realidade em países como a China. “Além de diminuir o custo de precisar levar um cabo cortando a cidade para expandir o alcance da internet, as luminárias inteligentes melhoram a estética nos bairros ao reduzir a quantidade de fios”, defende Faierstein.
A questão visual, aliás, é analisada como um aspecto primordial para as smart cities. É isso que aponta Radyr Papini, diretor de Zeladoria Urbana da Secretaria Municipal de Subprefeituras de São Paulo. “A imagem é a grande revolução para as cidades inteligentes”, acredita. Ele se refere, no entanto, à instalação de câmeras para melhorar a segurança pública e a qualidade de serviços de saneamento básico.
“Com o 5G, bastaria uma célula de energia solar, uma bateria e uma câmera para observar o nível dos rios depois das chuvas, a necessidade de limpeza em certas regiões e os comportamentos suspeitos”, justifica Papini. “Será possível, por exemplo, realizar reconhecimento facial, conectar com a base de dados de procurados e convocar a Guarda Civil para agir rapidamente em caso de crime.”
Ele entende que o principal problema do sistema, atualmente, é a conexão, responsável por falhas frequentes de comunicação. “É da velocidade de conexão que vão nascer as revoluções. Em breve, vamos conseguir descobrir, imediatamente, onde tem alagamentos, acidentes de trânsito e até boca-de-lobo entupida. Quando uma tecnologia nova aparece, as melhores aplicações surgem com o uso, no dia a dia.”
Latência: Medida em milissegundos, é o tempo de resposta de uma ação que envolve comandos online. Ou seja, quanto menor a latência, mais rápida a internet.
Banda: É a capacidade de transmissão da rede. Ela define a velocidade com que os dados trafegam. Quanto mais alta a frequência, maior a velocidade.