Pergunte ao alemão Uwe Class, vice-presidente de sistemas avançados da ZF, quando os automóveis serão totalmente autônomos, e ele responderá com um vago “em alguns anos”. Mas quando, precisamente? “Em alguns anos”, repete. A ZF – uma das maiores sistemistas do mundo – vem se preparando para ser protagonista quando isso ocorrer, mas, para que o motorista seja, finalmente, dispensado de suas obrigações ao volante, muita coisa ainda precisa evoluir.
É o caso do padrão de banda larga. Quando muita gente julgava que a 5G era o que faltava para o carro dispensar ajuda humana, o executivo da ZF afirma que “a rede 5G, sozinha, não vai ajudar carro autônomo”, e que já há testes com o padrão 6G.
Alguns recentes acidentes envolvendo automóveis da Tesla nos Estados Unidos, que ocorreram quando o sistema autônomo Autopilot estava em operação, provam que os dispositivos ainda precisam ser aprimorados.
Enquanto a banda larga não fica larga o bastante, a empresa alemã vai fazendo sua parte. A ZF apresentou a plataforma batizada de Middleware, que, como o nome diz (middle significa meio), faz o meio de campo entre os sistemas operacionais do veículo e o software. Segundo a empresa, atualmente, um automóvel pode ter até 100 unidades de controle (ECUs), cada uma operando com seu software, para comandar funções do motor, dos freios, da direção etc.
A função do dispositivo da ZF é centralizar todas essas informações, reduzindo o número de ECUs e utilizando uma plataforma aberta, que pode ser compartilhada por diversos fabricantes. Traçando um paralelo com os sistemas operacionais de smartphones, o que a ZF está desenvolvendo seria uma espécie de sistema Android; porém, mais complexo, mas mantendo uma “linguagem universal”.
A ideia é que apenas alguns sistemas permaneçam com software separado – por exemplo, os destinados à direção autônoma.
Entre as vantagens da adoção dessa tecnologia, segundo a sistemista, estão a aceleração no processo de desenvolvimento do veículo e a possibilidade de atualizações automáticas de software, já que os programas ficam baseados na nuvem. Além disso, a empresa informa que a unificação de funções e o aumento de escala geram redução de custos. A ZF garante que o projeto deverá estar nos veículos a partir de 2024.
Além do Middleware, a ZF está trabalhando em um supercomputador automotivo, batizado de ProAI – referência a sua capacidade de inteligência artificial. De acordo com a empresa sediada no sul da Alemanha, na divisa com a Suíça, mesmo sem aumento de tamanho, em relação ao padrão das centrais atuais (24 cm x 14 cm x 5 cm), o dispositivo, que também deverá ser produzido a partir de 2024, tem capacidade de aprendizado (deep learning).
O poder de processamento aumentou 66% e o consumo de energia caiu 70%, informa a ZF, que garante que o dispositivo é capaz de realizar 1 quatrilhão de operações por segundo.
O supercomputador é um dos principais elementos que a ZF prevê para os veículos “movidos por software”, que funcionarão por meio de informações guardadas na nuvem. Isso é o que deverá possibilitar o funcionamento harmônico de automóveis autônomos e conectados entre si.