O fato inevitável é que a mobilidade elétrica já fincou suas raízes em território nacional. Já existe uma rede de eletropostos e rodovias verdes de Natal (RN) até o Mercosul, com o potencial de integrar o Nordeste brasileiro com o novo comércio e logística de emissão zero no polígono Curitiba-Porto Alegre- Montevidéu-Buenos Aires-Assunção-Foz do Iguaçu, com entradas importantes para Minas Gerais e Centro-Oeste. Essa malha eletrificada ultrapassa 10.000 km contínuos induzindo as economias locais para novos produtos e serviços que se vinculam à mobilidade elétrica.
Enquanto isso, mais de 1.000 técnicos e pesquisadores do setor elétrico, academia, institutos de pesquisa e tecnologia e de áreas de inovação da indústria debruçaram-se nos últimos quatro anos sobre o tema e das tecnologias, buscando novos modelos de negócio.
Somam-se ainda uma quantidade expressiva de atores privados, independentes, startups e pesquisadores inovadores que, por sua própria conta e risco apostam que essa dimensão da transição energética deverá ser inclusiva e participativa.
Neste campo teórico e prático, as redes de inovação aberta apoiam-se em práticas de Environmental, Social and Governance – ESG. Os jovens atores e entrantes têm desenhado diferentes formas de organização em rede buscando sempre soluções e produtos ou serviços mais aderente aos hábitos do consumidor.
Essa forma de organização horizontal para busca de resultados práticos tem transformado as fronteiras setoriais aumentando as suas porosidades, o que permitiu o fluxo do conhecimento intersetorial, com inovações nas interfaces entre os setores elétrico, óleo e gás, meio ambiente, indústria, transporte, logística, aquaviário, aéreo e telecomunicações com reflexos no desenvolvimento regional e impulsionados pelo setor de ciência e tecnologia.
Tudo indica que uma nova indústria surge no Brasil e pode ter na mobilidade elétrica um cartão de visita para investimentos internacionais, com marcas relevantes na possibilidade de operação V2G, incentivos fiscais em rodovias, integração com outras fontes renováveis como biomassa, álcool e biocombustíveis, todos conectados e digitalizados com tecnologia 5G, 6G, etc.
As redes de inovação e seus atores navegam sobre uma nova cultura de inovação subjacente. Essa nova abordagem pressupõe o desenvolvimento de soluções e produção de forma coletiva, onde cada elo da rede de inovação aporta abertamente suas capacidades e acaba por receber bem mais do que investe em termos de oportunidades. O conhecimento oriundo da vivência dos coletivos em rede, no caso do Brasil, é tão natural da nossa cultura que chega a passar despercebido de sua importância, e que pode ser a chave e o exemplo para a modernidade da indústria.
Nesta trilha de aprendizagem já foram explorados diversos temas transversais como novas frentes tecnológicas e de produtos e serviços, eletromobilidade inclusiva regional e em cidades, planos de mobilidade elétrica para territórios como campos de prova de soluções, entre outros.
No lado do setor público, nascem também redes de inovação em políticas públicas, que também se movimentam para alimentar sua própria cultura de inovação voltada para melhoria e celeridade dos serviços, integrando experiências inovadoras exitosas nas esferas de gestão federal, estadual e municipal. Já estão em discussão enfoques de sustentabilidade ESG, gestão do conhecimento dedicada à inovação, modelos de governança em rede para inovação e aplicação de políticas de desenvolvimento regional em rede, que conta com os usuários e público alvo. Na medida em que essas discussões avançam, o balcão do serviço público encontra o novo mercado repleto de atores pró-ativos até para possíveis Parcerias Público Privadas – PPPs apoiadas pelas novas linhas já divulgadas pelo BNDES.
O segredo para esse movimento talvez esteja no caráter autorregulado do próprio setor público estimulado pelo campo privado. Ao mesmo tempo em que o setor público fomenta a inovação como uma obrigação constitucional, ele é cobrado pelas soluções apresentadas para que crie mecanismos de novos incentivos nas políticas públicas e em aperfeiçoamentos regulatórios que, na mesma espiral ascendente, obriga-se a se reinventar a cada dia, pois a inovação em si é um processo efêmero e de obsolescência rápida, ao sabor do cliente ou consumidor.
Essa mesma explicação vale para o sucesso das redes de inovação aberta, pois elas consideram em seu bojo o cliente como um dos protagonistas do processo coletivo desenhado não apenas para satisfazê-lo de imediato, mas também para invocá-lo a novos hábitos e costumes. Aqui, nossa cultura também é exemplar, adaptada e sempre aberta a mudanças comportamentais.
* O conteúdo deste artigo é de cunho pessoal e não representa posicionamento institucional