Prepare-se para começar a ouvir com mais frequência o termo “RSU”. A sigla, ainda pouco conhecida, representa as iniciais de “remote software upgrade” (atualização remota de programa, em tradução livre) e deverá se tornar cada vez mais comum nos novos modelos. As três letras indicam que o veículo é capaz de receber melhorias constantes nos sistemas, sem que o motorista tenha de agendar visita a uma concessionária. Tudo o que o dono tem de fazer é permitir a atualização, com um simples “ok” na tela, como em um smartphone. Às vezes, nem isso, e o carro fica “novo” sem que o dono perceba.
Esse e outros temas relativos à conectividade foram expostos no painel “Conectividade e Mobilidade Urbana”, do qual participaram Emilio Paganoni (gerente sênior de treinamento do BMW Group), André Souza Ferreira (vice-presidente de software e serviços conectados da Stellantis), Douglas Tokuno (head do Waze Carpool para a América Latina), Flavia Ciaccia (vice-presidente de experiência do usuário da Eve Air Mobility) e Marcio Hannas (presidente da divisão CCR Mobilidade).
De acordo com Paganoni, da BMW, a atualização remota abre inúmeras possibilidades. Permite não apenas a atualização de softwares, mas também a instalação de novos programas e aplicativos. “Ela traz coisas novas para o carro. Meu carro recebeu a Alexa”, exemplifica, referindo-se à assistente virtual da Amazon que interage por comandos de voz e ajuda na execução de várias tarefas.
Ferreira, da Stellantis, acrescenta que a ferramenta transmite ao cliente a percepção de ter sempre o veículo novo, já que a montadora é capaz de realizar correções e melhorias constantes, trazendo ao veículo funções que aumentam a conveniência. Segundo ele, a tecnologia permite ainda incorporar serviços como rastreabilidade, aumentando a segurança, além de colocar ao alcance do usuário serviços prestados por parceiros da montadora, tudo a um toque na tela do painel.
A chegada da rede de internet 5G irá deixar a conectividade mais completa, permitindo o aumento de comunicação com controles externos, caso de conexão com a residência, como abrir e fechar portão, acender e apagar luzes, etc.
Além disso, até mesmo a comunicação com a concessionária será automática. “A BMW abandonou o manual há muito tempo”, diz Paganoni. De acordo com ele, a concessionária é capaz de saber o momento de trocar pastilhas a partir de um monitoramento do veículo.
No “mundo de possibilidades” que a rede 5G deve proporcionar, Paganoni vislumbra até a oportunidade de instalação remota de programas que permitam a elevação de potência. No entanto, em sua opinião, isso ainda está longe de ocorrer. “Elevação de potência precisa de legislação específica e afeta padrões de homologação.”
Além de ajudar o motorista a chegar mais rapidamente a seu destino, indicando o melhor caminho, um dos próximos passos do aplicativo Waze é incentivar a carona. “O que mais vemos nas ruas são carros de cinco lugares e apenas uma pessoa dentro”, constata o head do Waze Carpool para a América Latina, Douglas Tokuno. Segundo ele, é importante incentivar o uso compartilhado do carro. “Cidades precisam ter cultura de smart cities não só em tecnologia”, afirmou.
Tokuno diz que a plataforma está incentivando a carona. A ideia é identificar e conectar pessoas que desejam se dirigir aos mesmos locais. Dessa forma, aproveita-se melhor a capacidade do veículo, com a consequente redução do trânsito.
Para aumentar a segurança, o sistema mostrará o perfil tanto do possível passageiro como o do motorista. Ambos devem concordar, antes de efetivar a carona.
Em quatro anos, será possível chegar – literalmente – voando a um compromisso marcado em outro ponto da cidade, sem se preocupar com o trânsito. Ao menos, essa é a expectativa da Eve Air Mobility. De acordo com Flavia Ciaccia, vice-presidente de experiência do usuário da empresa, o “carro voador” que está sendo desenvolvido pela subsidiária da Embraer deverá entrar em serviço em 2026. Conhecido pela sigla eVTOL (iniciais em inglês que designa veículos elétricos de pouso e decolagem vertical), ele tem o objetivo de facilitar os deslocamentos urbanos.
Segundo Flavia, o “carros voadores” da Eve serão uma espécie de “Uber X” dos ares. Ou seja, a ideia não é vender o veículo para uso particular, mas sim oferecê-lo como serviço. A executiva afirma que a nova modalidade não estará ao alcance apenas de executivos que desejam se deslocar do centro financeiro da cidade até o aeroporto, por exemplo. A ideia é disponibilizar o meio de transporte a qualquer pessoa que tenha uma consulta médica em outro ponto da cidade ou que simplesmente queira chegar mais cedo em casa, sem ficar presa no trânsito, “por um custo similar a uma corrida de Uber X”. “O serviço estará disponível em terminais multimodais, acessíveis a todos, não só às classes mais privilegiadas”, garante a executiva.
Inicialmente, o veículo destina-se ao transporte de passageiros, mas Flavia adianta que o próximo passo deverá ser a utilização em serviços de atendimento médico e resgate, por exemplo.
A conexão entre modais e o transporte sustentável estão entre os principais focos da CCR Mobilidade, informa Marcio Hannas, presidente da divisão de transporte sobre trilhos da empresa. Hannas diz que deve existir uma conexão entre transporte de passageiros e outras formas de locomoção, como bicicleta e patinete, por exemplo. “O passageiro busca segurança e uma melhor experiência.”
De acordo com ele, a conexão intermodal proporciona mobilidade mais rápida e barata, com redução do tempo gasto nos deslocamentos. Outro benefício da interligação entre os diversos meios de locomoção é a redução de energia. “A concorrência entre modais não ajuda na sustentabilidade e eleva custos.”
Além disso, o executivo informa que a empresa tem investido em automação. A CCR tem a concessão da linha 4-Amarela do metrô em São Paulo, que tem operação autônoma (sem condutor). “Com isso, não há erro humano, e o controle dos sistemas é totalmente inteligente.”