Os países estão trabalhando, mais do que nunca, para encontrar formas mais limpas de gerar energia. Todavia, essas mudanças estão mais devagar do que deveriam, se levarmos em conta as metas de emissão de CO₂ do Acordo de Paris.
A COP 28 trouxe caminhos que não foram capazes de unificar os parâmetros de uso de combustíveis fósseis em diferentes países, o que foi lido por alguns como enfraquecimento nas diretrizes de descarbonização. Como reverter esse cenário?
Chamo atenção para os modelos de mobilidade e como a transformação para sistemas mais limpos exige uma reflexão sobre a infraestrutura das cidades. Temos enfrentado mudanças significativas nas matrizes energéticas e a preocupação com as questões climáticas está tomando forma, mas sem um plano único e integrado. Em vez disso, estamos explorando possibilidades, construindo estratégias e nos adaptando à medida que avançamos, envolvendo governos, empresas e sociedade.
Nunca vi líderes partilharem uma responsabilidade coletiva tão abrangente para reestruturar rapidamente o mundo em busca dos mesmos resultados como ocorre agora. Apesar de o movimento ser positivo, ele é marcado pela descentralização, além de uma ampla divergência de caminhos.
É possível exemplificar as tensões sobre infraestrutura e mobilidade pensando na implementação do uso de carros elétricos. Alguns líderes sentem que não podem pôr em prática políticas que favoreçam os veículos elétricos até que haja uma oferta abrangente de infraestrutura de carregamento de veículos. Outros defendem que o estímulo da demanda de veículos elétricos incentivará uma maior implantação da infraestrutura.
A Siemens se propõe, há anos, a entender o melhor caminho para a descarbonização e, em 2023, mergulhou ainda mais no tema a partir de um estudo feito pela companhia com 1.400 executivos globais, o Infrastructure Transition Monitor.
A análise leva em conta o estado da transição de infraestruturas para o atingimento das metas globais de descarbonização e sustentabilidade, além de como esse caminho pode ser percorrido pelos líderes de forma conjunta.
Fica claro que, para uma efetiva evolução da infraestrutura mundial – considerando aspectos regionais e setoriais com responsabilidade – a mudança das infraestruturas é uma das mais importantes megatendências que vêm moldando as cidades.
Apenas metade dos executivos abordados acredita que o seu país tem uma estratégia de descarbonização consistente (52%) ou eficaz (47%). Para um terço dos entrevistados, as autoridades reguladoras (31%) são vistas como as que mais têm responsabilidade na evolução das infraestruturas. Apenas 29% residem em cidades com infraestrutura madura para veículos elétricos.
A ampliação das redes de infraestrutura para automóveis elétricos é sim um fator decisivo e urgente para estimular o engajamento das empresas e comunidades nessa tecnologia. A ausência de infraestruturas de carregamento é, na verdade, uma das maiores barreiras. Acredito que, ao adotar políticas de desenvolvimento de infraestrutura, os governos ajudam a vencer esse desafio e aceleram no caminho do uso de energia limpa.
Não há uma resposta única ou simples para os problemas estratégicos de cada país ou região, mas há oportunidades quase ilimitadas para as novas tecnologias melhorarem a forma como as cidades funcionam, e elas precisam ser implementadas se quisermos atingir resultados logo. A digitalização é aliada crucial nessa corrida, tornando a mobilidade sustentável ainda mais atrativa.
Precisamos agir rápido e de forma estratégica se quisermos alcançar algum resultado que reverta a degradação do planeta. Isso será possível com maior colaboração entre os setores, encabeçada pelo governo, por meio de um diálogo constante para impulsionar a coordenação entre frentes em busca da verdadeira transição para infraestruturas mais inteligentes.