Calcular a taxa de motorização de um país é essencial para saber quantos veículos por pessoa existem em uma região. Assim, é possível elaborar políticas públicas e projetos de melhoria de fluidez viária. Além disso, a taxa também contribui para a avaliação de questões ambientais.
O mestre em transportes e professor da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp, Creso de Franco Peixoto, detalha como o cálculo é feito. Segundo o especialista, a taxa é determinada a partir do quociente entre o total de habitantes e o total de veículos. Com isso, chega-se a um índice de “X pessoas por veículo rodoviário”.
Em geral, a taxa de motorização associa a quantidade de veículos rodoviários ao número de habitantes de uma mesma região, com base cronológica. Contudo, segundo Creso, o “inverso” deste número oferece um conceito que é mais fácil de ser compreendido por leigos: a porcentagem de veículos por habitante.
Para explicar como calcular a taxa de motorização, Creso traz dados nacionais. No Brasil de 2006, havia 188,2 milhões de habitantes para 45 milhões de veículos. Ou seja, 4,2 hab/veículo, ou 24% de taxa. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traz estatísticas sobre a quantidade de pessoas no país. Por sua vez, a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) traz dados sobre frota.
Já em 2021, eram 212,7 habitantes para 111,4 milhões de veículos, 1,91 hab/veículo, ou 52%. Portanto, em 15 anos, a taxa de motorização dobrou.
“Fato muito preocupante, indicando o erro de governantes que queriam agradar a população dizendo que poderiam comprar seus carros. Desde 1999, estatísticas mostram a taxa de ocupação e uso do transporte público diminuindo frequentemente. Lotam-se vias de veículos parados exigindo a oferta de mais e mais faixas exclusivas para o aumento da velocidade média de percurso”, avalia o especialista.
Por sua vez, ao comparar o Estado de São Paulo ao Ceará, os dados de 2006 trazem que foram 7,8 hab/veículo (13%) no CE frente a 2,72 hab/veículo, ou 37%, em SP. Em 2021, os dados foram: 2,63 hab/ veículo (38%) no CE e 1,5 hab/veículo (68%) em SP.
Assim, Creso explica que “quanto maior a renda per capita e a força econômica do Estado, maior a taxa. Baixa a qualidade de vida, polui mais, enquanto se elogiam suas finanças. Exige repensar prioridades”.
Para ilustrar estas políticas, o professor cita o plano viário urbano, cujas premissas exigem, na atualidade, priorizar o transporte público, em função de maior racionalização de recursos e espaço disponível.
“Uma faixa de tráfego, quando usada apenas por automóveis, tem por base capacidade de 2.000 pessoas por hora, contra uso por ônibus, em sistema convencional (comum), quando passam 9.000 pessoas por hora”, afirma.
“Nos planos diretores há a exigência de oferta de ciclovias em trechos de maior concentração de uso. Incentiva o transporte que gasta a melhor energia, a muscular, ‘queimando’ os excessos da alimentação da vida moderna, oferecendo uma visão diferente da cidade. Passa-se a conhecer com mais informações a cidade e os percursos praticados, porque guardamos mais informações visuais em função da velocidade menor”, avalia.
De acordo com Creso, quanto à questão de meio ambiente, a poluição do ar é várias vezes maior do que os outros clássicos emissores. “Paremos de projetar e construir cidades para latas, prefiramos construir para pessoas”, finaliza.