O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU divulgou, no ano passado, que as mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irrefutáveis, irreversíveis e levaram a um aumento de 1,07 °C na temperatura do planeta. Em contrapartida, reduções fortes e sustentadas na emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa ainda podem limitar as mudanças climáticas e, caso ocorram, levar até 30 anos para que as temperaturas se estabilizem.
A adoção de sistemas de propulsão mais limpos, hoje, antes da ampla comercialização de tecnologias de emissão zero ao setor de transporte comercial, pode causar um impacto positivo imediato. Motores avançados a diesel e gás natural com emissões quase zero têm grande potencial de redução de óxidos de nitrogênio, que contribuem para o ozônio, e o material particulado, que afeta os problemas de qualidade do ar e gases de efeito estufa, que contribuem para as mudanças climáticas.
No entanto, as células de combustível e, principalmente, o hidrogênio serão essenciais no contexto carbono zero e, apesar de vermos um caminho a ser percorrido até esse objetivo ser atingido, o Brasil desempenha papel-chave na iniciativa mundial de descarbonizar o planeta nas próximas décadas. Isso porque o País possui vantagem competitiva sobre seus concorrentes, que é a abundância de recursos limpos para geração de energia necessária à produção do hidrogênio verde, como vento e sol, para energia eólica e solar, respectivamente, além de hidrelétricas – a matriz energética é 83,7% renovável.
Veículos de transporte 100% elétricos ganham espaço gradativo com base na maior demanda em nichos específicos, como ônibus, caminhões de entrega, de lixo, de serviços de emergência ou qualquer veículo comercial que faça parte de uma frota com uma ‘base doméstica’ central e que pode ser recarregada por um período mais longo.
Já a popularização do hidrogênio verde para o uso veicular é promissora nas aplicações de longa distância devido à elevada autonomia desse combustível, até 800 quilômetros, e menor tempo de abastecimento, bem semelhante aos veículos a diesel. Ao contrário dos veículos elétricos, que podem contar com qualquer rede elétrica, os a hidrogênio, para prosperar, requerem uma rede de abastecimento, a criação de uma infraestrutura para produzir, transportar e distribuir hidrogênio livre de CO2.
Para acelerar a construção dessa infraestrutura, ganhar escala e, posteriormente, beneficiar o setor de transporte comercial, a amônia verde, produzida com base no hidrogênio verde e livre de carbono, desponta como a maneira econômica de armazenar e transportar esse combustível. Ao mesmo tempo que descarboniza o campo, ela é altamente consumida pela indústria de fertilizantes.
Com o avanço da construção dessa infraestrutura, os proprietários de frotas podem ainda instalar tanques de armazenamento de hidrogênio em locais estratégicos, bem como eletrolisadores para fabricar seu próprio hidrogênio verde, produzido por eletrólise usando a eletricidade gerada por recursos renováveis, como painéis solares ou turbinas eólicas. Os motores a hidrogênio com apenas vestígios de emissão de carbono são possíveis.
Para trazer às frotas e às montadoras os tanques de armazenamento de hidrogênio confiáveis e acessíveis, a Cummins, líder em tecnologia, formou uma joint venture com a NPROXX, líder em armazenamento e transporte de hidrogênio. Essa joint venture fornece produtos de armazenamento de hidrogênio para aplicações rodoviárias e ferroviárias.
Vale acrescentar que o funcionamento do motor a combustão interna movido a hidrogênio é muito semelhante aos motores a gás natural e à gasolina, em relação a seu princípio de funcionamento e arquitetura. Eles funcionam com hidrogênio e são acoplados a cilindros de gás de alta pressão, que são uma maneira segura e prática de armazenar hidrogênio a bordo.
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Excelente artigo de um grande conhecedor do setor. Não restam muitas dúvidas no texto, mas sim no que não foi dito. Em qual horizonte de tempo os veículos com tecnologia de consumo de hidrogênio estariam nas concessionárias, idem para infraestrutura de produção, transporte e armazenamento do hidrogênio nos postos e nas garagens? E a qual preço, "na bomba" como se fala popularmente? Será que temos tempo, no Brasil, para esperar tudo isso chegar? E será que esse hidrogênio não terá seu consumo disputado pelas indústrias de refino, siderúrgica, metalúrgica, alimentícia, química, fertilizante etc. Será difícil concorrer com tantos mercados ávidos por comprar hidrogênio limpo, em especial porque esses setores nem sempre tem alternativa.