Eletrificação de massa

Projeto Piloto Ônibus Elétrico, na capital baiana, contará com 20 unidades do BYD Padron. Foto: Getty Images
Ju Cabrini
07/09/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 59 segundos

A mobilidade elétrica está crescendo no Brasil e no mundo, apesar de uma série de barreiras. Se o segmento de veículos elétricos leves já conta com números animadores, no transporte público eletrificado a situação é outra, bem mais delicada. A cidade de São Paulo, por exemplo, tem uma frota de mais de 13 mil ônibus urbanos, sendo apenas 219 eletrificados, 201 trólebus e 18 a bateria. São José dos Campos (SP), que tem se mostrado referência nas iniciativas de mobilidade elétrica de massa, possui apenas 12 unidades elétricas. Por outro lado, capitais como Curitiba (leia reportagem na edição de 15 de junho) e Salvador estão começando a implementar projetos relacionados à mobilidade elétrica de massa.

Desde 2017, o Estado da Bahia vem buscando soluções com matriz energética limpa para as linhas rodoviárias metropolitanas, sempre esbarrando na questão dos custos. Finalmente, em março deste ano, lançou uma licitação para comprar 20 unidades eletrificadas. Venceu a fabricante BYD com o modelo Padron, com piso baixo e carroceria Marcopolo. O modelo de negócios foi inspirado em Santiago do Chile, no qual o Poder Público adquire o ativo e contrata o operador para executar o serviço.

Inspiração chilena

“Em todo tipo de modelagem que fazíamos, o custo não fechava. O ônibus elétrico é quase três vezes mais caro que o a combustão. Não existem juros diferenciados, e os operadores não teriam condições de viabilizar o negócio”, afirma Marcus Cavalcanti, secretário de Infraestrutura do Estado da Bahia. “O primeiro ponto que avaliamos foi a modicidade tarifária. Ou seja, não poderíamos passar os custos ao passageiro – a tarifa deveria permanecer inalterada. A solução, então, foi comprar os ônibus e realizar um pregão para definir o operador. Dessa forma, a remuneração do prestador de serviços fica garantida e a nossa receita vem para a câmara de compensação, juntamente com o sistema metrô e ônibus metropolitano”, complementa.

O Projeto Piloto Ônibus Elétrico foi iniciado na última segunda-feira, dia 5, com 18 veículos em operação, e deve realizar cerca de 80 viagens diárias entre Salvador e Lauro de Freitas e Salvador e Simões Filhos, integrando boa parte da região metropolitana da capital baiana. De acordo com o secretário, foram realizados testes iniciais por quase um mês, e os resultados são bastante animadores. “Temos feito, em média, 170 quilômetros diários, sendo que os ônibus são recarregados à noite, na garagem do operador ou em cargas de oportunidade nos terminais próximos ao metrô”, informa Cavalcanti.

Influência do Estado

Segundo o secretário, nos primeiros meses, serão observados vários aspectos, como custo de manutenção (que deve ser muito reduzido), custo das revisões (como a do circuito elétrico) e a própria recarga. Sendo bem-sucedida, após o período de experiência, a ideia é expandir o projeto. Ele afirma que pretendem comprar mais unidades elétricas, mas também investir em outras opções, como hidrogênio verde e gás natural.

Questionado sobre o retorno do investimento, o secretário afirma que, no setor privado, o que conta é a viabilidade econômica, mas que, no setor público, é necessário outro tipo de análise, que não está nas planilhas de Excel. “O que vem primeiro? A infraestrutura ou a demanda? Se fossemos pensar em retorno financeiro pura e simplesmente, não existira metrô”, conclui.

BYD se firma no mercado de ônibus

Em um mercado ainda incipiente de ônibus elétricos, a BYD tem em circulação mais de 90 unidades, em cidades como Belém, Fortaleza, Bahia, Vitória, Brasília, São José dos Campos, São Paulo, Bauru, Santos, Campinas, Maringá e Rio de Janeiro, entre operações urbanas e privadas. Com fabricação local desde 2015, a empresa possui cerca de 20% de nacionalização das peças, incluindo a bateria, que é produzida em Manaus.

Ônibus elétrico da BYD que circula em Salvador (BA). Foto: Ulgo Oliveira/Seinfra-BA

“A indústria nacional está capacitada para atender ao mercado de ônibus elétrico. Apesar de termos produção no exterior, somos totalmente a favor de estimular o mercado local. Trazer e desenvolver tecnologia e gerar empregos. Atualmente, temos uma capacidade instalada de 2 mil unidades, por ano, mas estamos prontos para investir se houver sinais de crescimento. O Brasil é um dos maiores países do mundo, e não pode ficar de fora desse cenário da eletrificação para transportes de massa, tanto para consumo local quanto para exportação”, decreta Marcello Von Schneider, diretor institucional e líder da unidade de ônibus da BYD Brasil.