Está querendo empreender e não sabe em quê? Aposte na eletromobilidade. Apesar de o País possuir um parque circulante de veículos elétricos (VEs) com pouco mais de 100 mil unidades, um levantamento, encomendado pela General Motors, indica que, caso o Brasil siga a tendência mundial, chegaremos a 2035 com 5,5 milhões de VEs. Ou seja: emprender na mobilidade elétrica pode ser um bom negócio.
Já a McKinsey & Company divulgou, recentemente, que, de acordo com pesquisa realizada com consumidores brasileiros, 70% dos entrevistados consideram aderir a serviços de assinatura de veículos, principalmente, devido à possibilidade de explorar diferentes tipos de solução de mobilidade (21%) e por causa de uma possível redução nos custos totais de propriedade (18%).
Então, para corroborar com a sugestão acima, outro estudo, divulgado pela consultoria Bain & Company, informa que o combinado entre receita e lucro para carregamento de veículos na Europa, nos EUA e na China deve crescer em ritmo acelerado até 2030, alcançando € 13,5 bilhões.
Para Robson Cruz, da Barassa & Cruz Consulting, há muito espaço para a expansão dos negócios na eletromobilidade, exatamente por estar em um estágio inicial e pelo fato de o Brasil ter dimensão continental.
“As empresas ainda não possuem estrutura para capilarizar e atender a todo o País. Apesar de ser um segmento extremamente tecnológico que, em muitos casos, pode ser gerido em nuvem, ainda existe o elemento humano para conectar as coisas. Isso já dá pistas de que há e, provavelmente, sempre haverá oportunidade a novos entrantes”, decreta Cruz, que também é professor do curso de extensão universitária em mobilidade Elétrica, da Unicamp.
Para entender as histórias, o desenvolvimento do negócio e os planos para o futuro, o Planeta Elétrico conversou com startups de diferentes áreas da eletromobilidade. Chama a atenção o fato de empresas estabelecidas no mercado a combustão começarem a estender a atuação para a energia elétrica.
A filhotinha elétrica do Grupo Lupus, empresa com quase 60 anos de mercado e fabricante de ampla gama de equipamentos para lubrificação e abastecimento, a E-Wolf foi formada em 2019, e oferece estações para veículos leves e pesados, com opções de recarga normal, semirrápida, rápida e ultrarrápida.
Além disso, disponibiliza uma linha para oficinas, composta por ferramentas antichoque, elevadores específicos para VEs, paleteira para transporte de baterias, entre outros.
De acordo com Thiago Castilha, cofundador e CMO da empresa, a maior fonte de receita vem do aluguel de carregadores para frotistas, como a JBL (alimentos) e a DHL (logística). Todavia, entendendo a necessidade de fomentar o mercado para expandir sua atuação, a E-Wolf desenvolveu uma rede de 30 instaladores e homologou cerca de dez startups de tecnologia.
“As empresas de sistema são a conexão entre o pequeno empresário, como o dono de um estacionamento, e a mobilidade do futuro, pois possibilitam a operação, o controle e a cobrança”, afirma.
A forma de cobrança das recargas é um dos dilemas para a viabilização da eletromobilidade, já que apenas as concessionárias são autorizadas a comercializar energia. Pensando em resolver essa e outras dores, a Voltbras, fundada em 2018, oferece uma solução que traz um dashboard de gerenciamento e aplicativo customizado a cada cliente.
“Não existe uma Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE) consensual do que é oferecido – se é serviço ou produto. Nós trabalhamos baseados na Resolução 1.000, da Aneel, de dezembro de 2021, a qual permite a venda de recarga por qualquer empresa”, diz Bernardo Duriex, um dos fundadores.
Pioneira entre as desenvolvedoras de sistemas, a empresa possui clientes de grande porte, como Neoenergia, EDP, Ipiranga e Wecharge; já recebeu duas rodadas de aporte financeiro, com três investidores (EDP Ventures, Domo Invest e Perseo); e está trabalhando em outra grande demanda do segmento, a interoperabilidade, ou seja, a integração de diversas empresas de recarga em uma só interface.
“As pessoas vão acabar utilizando o eletroposto de melhor conveniência para elas naquele momento, e não vão querer ter um aplicativo para cada marca. Nossa solução já foi desenvolvida e estamos na fase de negociação para que haja adesão de várias empresas”, comemora Duriex.
Fundada em 2006, a desenvolvedora de produtos eletrônicos de hardware e software para empresas como Ambev, Mitshubish e Clarion, a Sollus Engenharia buscava novos segmentos. Em 2015, começou a produzir lâmpadas de LED, e, apesar de ter boa penetração no mercado, começou a sofrer com a concorrência chinesa.
Foi então, em uma viagem à Europa que os sócios Alexandre Abdalla e Eduardo Pina andaram, pela primeira vez, em um Tesla. Bingo! Um novo modelo de negócios estava prestes a aportar na Sollus. Nascia ali a marca Incharge. Entre a viagem e a produção do primeiro carregador se passaram poucos meses.
A empresa começou a produzir em sua fábrica, localizada em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, os carregadores AC (corrente alternada de 7 kW e 22 kW) para veículos elétricos. Sem qualquer botão ou tela touch, toda a interação é pelo aplicativo – o lay-out dos carregadores ganhou um dos maiores prêmios mundiais em 2021, o IF Design.
“Se olharmos sob o ponto de vista do modelo de negócio, somos mais tradicionais do que uma startup. Nunca participamos de rodadas de investimento, e, com capital próprio, conseguimos atingir o equilíbrio financeiro”, atesta Abdalla. Como plano para junho de 2023, a Incharge quer lançar sua primeira linha de carregadores ultrarrápidos DC (corrente contínua de 60 kW a 360 kW).