O projeto bem-sucedido de um veículo está diretamente ligado à parceria com os fornecedores de componentes e autopeças. Com os automóveis eletrificados, não é diferente. A convergência de ideias é fundamental para o sucesso dos lançamentos das fabricantes.
As montadoras estão cada vez mais envolvidas com a eletrificação de seus produtos. Mas será que a cadeia de suprimentos se encontra no mesmo ritmo de desenvolvimento e investimentos? Para obter essa resposta, o Boston Consulting Group (BCG), empresa de consultoria estratégica, fez uma pesquisa sobre o atual estágio de eletrificação na cadeia de valor da indústria automotiva.
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Realizado em conjunto com a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), o estudo ouviu 65 empresas do setor automotivo – 23 delas com faturamento anual de mais de R$ 300 milhões –, entrevistou 15 executivos e chegou a conclusões surpreendentes nesse cenário da descarbonização brasileira.
“Há muito tempo acompanhamos de perto a transição energética do Brasil”, afirma Masao Ukon, diretor executivo da BCG, que, ao lado de Juan Sanchez, sócio da BCG, conduziu a pesquisa. “Agora, avaliamos a descarbonização sob o ponto de vista do setor de autopeças.”
O levantamento aponta, por exemplo, que 83% dos fornecedores acreditam no aumento da disseminação dos veículos com motor flex, ao mesmo tempo que o País caminha na direção da eletrificação.
“Grande parte das empresas considera o protagonismo da tecnologia híbrida como passo intermediário nas etapas de eletrificação, principalmente no período de cinco a dez anos, e estão se preparando para atender a essa demanda”, afirma Ukon.
Mas ele pondera. “No Brasil, a transição deverá ser mais gradual e com a convivência de diferentes tecnologias nos próximos anos. Assim, haverá mais tempo para a cadeia de fornecedores se preparar”, destaca. Juan Sanchez acrescenta: “A definição dos rumos da eletrificação é importante para o setor tomar decisões de investimento e posicionamento frente ao mercado global”.
Na opinião da maioria das 65 empresas, veículos bicombustíveis e híbridos compõem o caminho mais viável no processo de eletrificação. “Fica claro que, para elas, os híbridos são a porta de entrada para a eletrificação”, destaca Ukon. Algumas considerações dos entrevistados reforçam essa ideia:
“O motor híbrido é mais adequado para nosso mercado, por questão de infraestrutura e boa eficiência na utilização dos biocombustíveis”
“Possuímos uma matriz energética mais limpa. A combinação híbrido-etanol deve seguir por mais tempo”
“Deve haver diversificação das plataformas, entre elétricos, híbridos e outros combustíveis, como hidrogênio”
“Isso comprova que, apesar da eletrificação, as empresas vislumbram a oportunidade de exportar para mercados que ainda usarão motores térmicos por muitos anos, como os países da América Latina”, salienta Sanchez.
De fato, a pesquisa concluiu que o motor a combustão ainda existirá daqui a 50 anos, porque a substituição pela tecnologia elétrica não se dará em curto intervalo de tempo. “Se esse motor não será mais produzido na Europa ou nos Estados Unidos, onde será feito? Sobram países como Brasil, Índia e México. O Brasil tem uma cadeia extensa e a tecnologia mais robusta entre os três”, diz o estudo.
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