Fonte de energia, novas tecnologias e riqueza

O Brasil não pode ficar ausente do debate sobre a mobilidade elétrica. Foto: Getty Images

16/12/2021 - Tempo de leitura: 3 minutos, 51 segundos

Os veículos elétricos que transitam pelas ruas são os protagonistas da mobilidade elétrica brasileira. Mas eles não se constituem nos únicos representantes de uma pauta que ganha importância no mundo. Por trás de cada automóvel movido a bateria, há uma cascata de ações positivas e benefícios para a indústria, o cidadão e a sociedade como um todo.

“Há quem classifique a mobilidade elétrica como uma tendência, como uma onda que vai e vem. Ao contrário: ela é cada vez menos uma escolha e cada vez mais uma discussão imperativa”, afirma Marcus Regis, coordenador da Plataforma Nacional da Mobilidade Elétrica (PNME), que reúne mais de 30 instituições, e um dos curadores do canal Planeta Elétrico do Portal Mobilidade. “É uma área que engloba toda a questão de governança e políticas públicas.”

Hoje, o enriquecimento do debate sobre a mobilidade elétrica varia de país para país, mas uma coisa é certa: o Brasil não deve ficar ausente dessa discussão, tampouco desconectado da economia global. “O consumidor já exige a eletrificação dos transportes. O Brasil posterga a decisão, porém, não poderá deixar de fazê-la cedo ou tarde. Sob o ponto de vista econômico e industrial, não temos escolha”, diz Regis.

Ele se refere a um aspecto importante que se impõe na esteira da mobilidade elétrica: o ganho em produtividade, o crescimento socioeconômico e a geração de empregos do futuro, relacionados ao desenvolvimento e à implantação de tecnologias. “Não podemos duvidar da capacidade do Brasil, que tem condições de encarar essa missão. Um exemplo é a Embraer”, destaca, ao citar a poderosa fabricante de aviões, fundada em 1969.

As cidades brasileiras, lembra Regis, foram pensadas à luz da mobilidade dos anos 1980. “Esse desenho não atende mais a população, que paga um preço alto quando perde tempo nos congestionamentos”, salienta. “A eletrificação exige que a sociedade repense a mobilidade, o transporte público e o uso do automóvel.”

Para isso, um dos desafios é desmistificar certas mensagens sobre mobilidade elétrica que ainda chegam enviesadas ao público, como o risco de ficar no meio do caminho sem carga na bateria, o custo elevado do consumo de energia, que os veículos elétricos só funcionam bem em outros países e para que esse tipo de carro se no Brasil existe apagão de energia elétrica. 

Cidades dão o exemplo

A professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade de Campinas (Unicamp), Flávia Consoni, também curadora do canal Planeta Elétrico do Portal Mobilidade, acredita que a mobilidade elétrica é uma via de mão única no Brasil. Mas vê o movimento com cautela, em razão da ausência de uma política pública de âmbito federal. 

“Não temos um plano de mobilidade elétrica, entretanto, algumas cidades, por iniciativa própria, estão dando exemplo no compromisso de redução de emissões de poluentes”, testemunha. Uma delas é São José dos Campos (SP), que vem eletrificando sua frota de ônibus de transporte público.

Em artigo publicado no 1º Anuário Brasileiro da Mobilidade Elétrica, a professora avalia que as cidades se convertem em laboratório para o fomento de tecnologias de zero emissão, onde é necessário levar em conta as características específicas de cada tecnologia, as possibilidades de integrar os veículos a fontes de energia elétrica renováveis (solar, eólica e biocombustíveis) e os benefícios associados com sua implementação, especialmente no meio ambiente, na saúde e na mobilidade. “As áreas urbanas viabilizam mudanças na infraestrutura, nas instituições, na produção e no comportamento dos cidadãos”, acrescenta.

No entender de Consoni, o maior legado da mobilidade elétrica, no ponto de chegada, é a saúde da sociedade, beneficiada pela baixa emissão de dióxido de carbono no meio ambiente. No entanto, ele também passa pela redução das desigualdades sociais, na medida em que facilita o acesso à vida social, educação, saúde, ao lazer e a oportunidades econômicas. 

“Além disso, a mobilidade elétrica se mantém interligada a outros setores industriais, o elétrico, de distribuição de energia, mineração e tecnologias da informação e comunicação. Trata-se de uma matriz de formação de mão de obra especializada e geração de riqueza”, completa.