Gustavo Bonini

Primeiro vice-presidente da Anfavea.

Neoindustrialização: da neutralidade para a diversidade


21/06/2023 - Tempo de leitura: 3 minutos, 53 segundos

As emergências climáticas impõem ao mundo repensar modos de produção e de consumo. Entre as mudanças mais importantes despontam a transição energética das fontes fósseis para as renováveis e a redução de emissões na atmosfera, em especial as de dióxido de carbono (CO2).

Proteger e preservar o meio ambiente é uma jornada de grandes desafios. No entanto, esse caminho sem volta, inclusive para o Brasil, gera oportunidades que já estão em curso.

As principais são a diversidade tecnológica e a neoindustrialização. A primeira permite que os agentes econômicos atuem em várias frentes, e a segunda oferece aos fabricantes existentes, e aos que nascerem daqui em diante, a chance de renovar seus produtos e seus procedimentos no chão de fábrica.

O debate sobre os combustíveis que substituirão a energia fóssil inicialmente colocou foco na busca da melhor forma de propulsão dentro das exigências de sustentabilidade do século 21. Durante algum tempo, o termo “neutralidade” predominou no poder público, empresas privadas e tomadores de decisão em geral. Ou seja, não deveriam escolher combustível “A” em detrimento do “B”, deixando andar todas as energias livres de fóssil.

Esse conceito fez sentido para entendermos que o nosso inimigo é o carbono e que temos de trabalhar com todas as tecnologias de descarbonização. Concluímos, positivamente, a meu ver, que não existe “bala de prata”, nenhuma solução é excludente e todas podem se somar a esse esforço. Uma tecnologia até pode competir com a outra, em determinado momento, mas, no longo prazo, todas devem naturalmente se complementar.

Ao avançar no protagonismo do enfrentamento das mudanças climáticas, felizmente o Brasil dispõe de uma ampla diversidade tecnológica capaz de suprir as necessidades distintas de cada elo da cadeia produtiva. Trata-se de encontrar a melhor vocação de cada segmento econômico envolvido na descarbonização.

Veículo verde

O que antes era chamado de neutro passou a ser diverso. E é essa pluralidade que temos de apoiar: o etanol, o biodiesel, o HVO (diesel verde), o biometano, o biogás, a eletrificação, os híbridos, o hidrogênio – fora as opções que ainda serão criadas. Em vez de neutros diante dessa riqueza, temos de ser protagonistas. Não há competição entre os verdes, que farão parte de uma passagem entre o modelo atual e o futuro, e talvez de soluções definitivas.

Essa perspectiva de multiplicidade – e não de limitação – de tecnologias torna mais atraente ainda o ambiente da neoindustrialização. Marcas estabelecidas investem para tornar todos os veículos menos poluidores. E a adoção de energia limpa se estende cada vez mais também para dentro das fábricas e fornecedores. Tudo para que todas as etapas da manufatura resultem em um veículo completamente “verde”.

Essa é a neoindustrialização, que ganha força na agenda dos governos municipais, estaduais e federal. Essa bandeira é fundamental não somente para o Brasil fazer sua parte no esforço global de conter o aquecimento do planeta mas para o País gerar mais empregos e renda.

Essa jornada abrange os negócios de todos os setores da economia; porém, a indústria – e não apenas a automotiva – tem papel fundamental, pela quantidade de pessoas que emprega e pela qualidade de conhecimento gerada com pesquisa e desenvolvimento. Quem está impulsionando tudo isso é a descarbonização, e quem está no comando dessa revolução é a sociedade, que pede sustentabilidade e cobra dos poderes públicos e do setor privado medidas concretas de combate às catástrofes climáticas.

O verdadeiro propulsor desse momento crucial para garantir o futuro da humanidade é a sociedade, que, com base em hábitos mais amigáveis ao planeta, influencia a tomada de decisões e impulsiona os agentes econômicos a rever seus investimentos.

O Brasil se firma cada vez mais como protagonista mundial nesse desafio. Temos todas as condições de dar um salto econômico, tecnológico e social com a jornada da sustentabilidade, com nossa diversidade de soluções e com nossa matriz energética. É elevado o apetite da nossa indústria para atender à demanda contemporânea, gerando trabalho aqui – produzindo aqui com tecnologia verde, e não somente importando manufaturados.

“O Brasil se firma cada vez mais como protagonista mundial nesse desafio. Temos todas as condições de dar um salto econômico, tecnológico e social com a jornada da sustentabilidade, com nossa diversidade de soluções e com nossa matriz energética.”