O bichinho da eletromobilidade mordeu mais uma distribuidora de energia. Depois da Ipiranga e da Raízen/Shell, agora é a vez da Vibra Energia, a antiga BR Distribuidora, entrar de cabeça na era da mobilidade elétrica. Com cerca de 50 anos no mercado, a empresa tem planos tão robustos quanto o lucro líquido do primeiro trimestre deste ano: R$ 325 milhões.
Em fevereiro, a distribuidora já havia anunciado um aporte inicial de R$ 5 milhões na startup Easy Volt (EZVolt), que possui mais de 300 eletropostos em nove estados. Na última quinta-feira, dia 30, ficaram claros os objetivos dessa parceria. A Vibra inaugurou o mais novo eletroposto na BR-116, a Via Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.
O plano de expansão prevê a implementação de 70 unidades de eletroposto, até 2023, sendo que 50 deles serão em rodovias, criando o maior corredor elétrico do Brasil, com quase 9 mil quilômetros de extensão, passando pelos três Estados do Sul e pelos quatro do Sudeste, além do Distrito Federal.
O primeiro ponto a receber o carregador foi o Posto Arco-Íris Roseira, localizado, estrategicamente, no km 82, em Roseira (SP), no sentido Rio de Janeiro. O espaço está equipado com um carregador ultrarrápido, o que proporcionará aos usuários, dependendo da capacidade do veículo, o carregamento de 80% da bateria em até 20 minutos, o que permitirá que a maioria dos veículos que saem de São Paulo chegue ao Rio de Janeiro sem a necessidade de uma nova recarga. O Planeta Elétrico conversou com Bernardo Winik, vice-presidente comercial para o segmento B2B. Acompanhe a seguir.
Como foi o planejamento para a implementação da eletrovia de 9 mil quilômetros?
Bernardo Winik: Estamos priorizando Brasília e as regiões Sul e Sudeste, onde acontecem 90% das vendas de veículos elétricos. À medida que formos concluindo essas prioridades, avançaremos, no mapa do Brasil, para o Nordeste e interior do País. Um segundo meio de entender o mercado foram os acordos firmados com as montadoras, sempre respeitando a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados – que visa proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade dos cidadãos), que mapeiam como esses carros estão se movimentando. E um terceiro ponto foi a avaliação dos postos preparados para receber os clientes e a infraestrutura, que precisam ser referência em qualidade e conforto.
Vocês definiram as rodovias como prioridade?
Winik: Importante dizer que estamos nas cidades, com cerca de 300 carregadores da EZVolt, e devemos continuar expandindo, mas vamos investir também no trajeto rodoviário. Esse nosso primeiro posto é ultrarrápido, consegue atingir 80% da carga da bateria em 20 minutos. É o tempo de ir ao banheiro e tomar um cafezinho.
Qual é a meta para a implantação dos carregadores?
Winik: A rede da Vibra é de 8 mil postos, e está crescendo. A intenção é chegar, em 2030, disponibilizando serviço de recarga a 25% dos postos. A visão que temos é transformar o posto de combustível em posto de energia. O cliente vai poder abastecer com gasolina, etanol, diesel e gás, poderá carregar a bateria de seu veículo e, no futuro, com o avanço do mercado de energia distribuída, poderá comprar energia para sua casa.
Como será efetuada a cobrança?
Winik: Durante os primeiros 90 dias, não haverá cobrança. O cliente fará a recarga pelo aplicativo Premmia – programa de relacionamento da rede de Postos Petrobras. Posteriormente, ainda por meio do aplicativo, o valor da carga e da recarga será cobrado com base no quilowatt/hora.
Quais foram os benefícios da parceria com a EZVolt?
Winik: A startup traz competência e agilidade que a distribuidora não tem. Não começamos do zero. Se fôssemos fazer internamente, teríamos que desenvolver equipe, estrutura, e poderíamos cair no modelo de negócio das grandes companhias. Por outro lado, oferecemos robustez financeira à empresa que está começando.
Como é a questão cultural em uma relação como essa?
Winik: Sempre tem uma diferença cultural, mas eu diria que estamos aprendendo com a velocidade da startup. Traz um desafio para adaptar os nossos processos para a velocidade que o pessoal da startup precisa, mas faz a empresa crescer.
Quanto tempo vocês levaram entre o planejamento e a implementação?
Winik: O último passo da BR Distribuidora foi se tornar 100% privada, em julho do ano passado. A mudança para o nome Vibra Energia aconteceu na sequência, em agosto. Em 50 anos de existência, distribuímos combustíveis fósseis. Então, definimos os novos rumos e a transformação para uma plataforma multienergia. De lá para cá, os movimentos têm sido muito rápidos. O investimento da EZ aconteceu em fevereiro de 2022.