Na indústria automotiva, a descarbonização não é uma meta só das montadoras. Ela faz parte também de toda a cadeia produtiva, passando pelos sistemistas e empresas de infraestrutura de recarga. Todos têm a missão de buscar alternativas em benefício do meio ambiente. E, nesse cenário, como ficará a logística em tempos de eletrificação?
No segundo dia do evento Summit Indústria Automotiva, promovido por Mobilidade Estadão e Exponor, em 29 de abril, reunindo liderancas do executivos do setor que falaram sobre os dois temas.
Confira no video abaixo a programacao completa do segundo dia de debates do Summit Industria Automotiva.
Francisco Stroffa, presidente da Enel-X Brasil: “É preciso tirar a complexidade da infraestrutura de recarga das mãos do cliente, que não é especialista no assunto. Por isso, deixamos tudo pronto na casa do comprador antes mesmo de ele receber o veículo elétrico. O custo inicial do automóvel movido a bateria ainda é maior que o de motor a combustão, mas, no dia a dia, ele torna-se mais barato, pois não aumenta gastos de conta de luz, por exemplo. Outra contribuição importante para facilitar a recarga dos elétricos fora do ambiente doméstico é a parceria entre Enel-X e Estapar, que criou 250 vagas. Esses espaços têm segurança, manutenção e monitoramento. A ideia é ampliar esse número para 1.500 vagas em locais como prédios públicos, shoppings e aeroportos. Mas ainda existem poucos pontos de recarga rápida nas estradas, aquela que é feita em 15 minutos. Estamos trabalhando forte nisso”.
João Irineu Medeiros, vice-presidente de compliance da Stellantis para a América do Sul: “A Stellantis estabeleceu a meta de descarbonização de 50% de suas operações até 2030 e 100% até 2038. Não é simples, porque a emissão de CO2 se inicia na extração da matéria-prima e continua no processamento, no transporte, na fabricação do veículo e na distribuição. E nem sempre a energia elétrica é de domínio da indústria automotiva. No entanto, temos um leque enorme de tecnologias de motor a combustão, híbridos, elétricos e célula de combustível. Saber qual é a melhor aplicação ainda é uma resposta difícil. O etanol ainda nos permite trabalhar com eficiência. Ele só não é 100% renovável porque o combustível fóssil é usado na hora da colheita da cana de açúcar. O importante é alcançar o equilíbrio ambiental, social e econômico no esforço de descarbonização”.
Paulo Genezini, head de sustentabilidade da Scania no Brasil: “O diesel é um combustível eficiente e com infraestrutura estabelecida, mas é fóssil e o planeta clama pela descarbonização. Não está fazendo mais sentido pegar o carbono debaixo da terra e jogá-lo na atmosfera. O caminhão elétrico faz parte do futuro, mas a Scania entende que o gás natural e o biometano – extraído a partir dos dejetos da agropecuária e de aterros sanitários – são alternativas interessantes. Por isso, incentivamos o Programa Metano Zero, do Governo Federal, com isenção de impostos para os produtores que aproveitam o metano para a criação do combustível. Não vamos esquecer que ainda está em discussão como a energia elétrica é gerada. Há países que utilizam o carvão como fonte, então, como fica essa conta?”.
Huber Mastelari, CEO da Lots Group para a América Latina: “A demora da implantação do 5G não pode servir de desculpa para aperfeiçoar os processos de logística. Hoje, já existem recursos de satélites e georreferenciamento, que permitem saber a localização do motorista e dados sobre segurança e consumo. Isso não é diferencial, é a base para ser competitivo no mercado. É claro que o 5G aumentará a cobertura, mas não precisamos esperar por ele para conectar processos”.
Joyce Bessa, head de gestão, estratégica, finanças e pessoas da TransJordano: “Hoje, os caminhões têm muita tecnologia e, por isso, investimos em qualificação. Tanto que, para ser admitido, o candidato a motorista passa por provas de português e matemática. Ele precisam entender o que o caminhão está ‘dizendo’ na jornada diária. Queremos, antes de mais nada, dar um feedback a respeito do trabalho do profissional e que ele volte para casa são e salvo. O futuro não tem limite mas, como falar de caminhão autônomo no Brasil se uma sinalização da estrada desaparece de repente?”.
MárioToscano, diretor comercial e de marketing da Autotrac: “É impressionante que ainda há empresas de logísticas com uma infinidade de dados mas, na hora de tomar decisões, voltam ao método tradicional. Elas viram apenas uma colecionadora de dados. A digitalização deve mudar a cultura das companhias, a fim de entregar as cargas no prazo e com qualidade. A conectividade também pode ajudar no desenvolvimento de uma rede de troca de informações, do pedido à entrega. Uma mudança positiva do setor é que todos os envolvidos vieram para a mesa de discussão. Embarcadores, seguradoras, empresas de tecnologia e transportador estão criando um círculo virtuoso de busca de soluções”.
PierluigiAstorino, vice-presidente de manufatura da Stellantis para a América do Sul: “O setor logístico passa por um momento histórico no Brasil, com forte impacto na atividade industrial. A conectividade está disponível para todos e há caminhões mais tecnológicos que automóveis de passeio. O País enfrenta um gap de infraestrutura, porém, há oportunidades, como incluir modais alternativos para ganhar prazo e qualidade. De um lado, estão as fábricas mais flexíveis. Do outro, as empresas de logística acelerando os processos para elevar a precisão de onde está a carga e do cumprimento dos prazos”.