Luciane Canha

Professora na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Oportunidades da Mobilidade Elétrica

Eletromobilidade proporcionará modelos de negócio disruptivos. Foto: Getty Images
Luciane Canha
11/05/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 56 segundos

“O caminho da mobilidade elétrica abre um leque de oportunidades que envolve mudanças disruptivas na maneira como os veículos elétricos são utilizados e como as recargas são estabelecidas. Ao observá-los, verifica-se que estamos diante não apenas de cargas mas de potenciais armazenamentos móveis, os quais podem impactar a rede elétrica em pontos diversos e de forma muito positiva para o estabelecimento de transações energéticas com o sistema elétrico.        

Um exemplo de aplicação disruptiva dos veículos elétricos está na opção de utilizar a energia armazenada nas baterias com base no conceito denominado vehicle-to-grid, ou V2G, que é uma tecnologia, dentro de um conjunto mais amplo de serviços que envolve a rede de carregamento de veículos elétricos, também chamada de integração de veículos à rede (vehicle-grid-integration, ou VGI). As empresas têm a oportunidade de desenvolver modelos de negócio em torno de metas de VGIs atualmente viáveis, tais como gerenciamento das cargas e redução na demanda, em determinados horários.        

Muitas instalações em que existem estações de recarga com fluxos de energia unidirecionais podem reduzir os custos nas recargas para os proprietários dos veículos elétricos criarem oportunidades para recargas bidirecionais, que oferecem a possibilidade da oferta de serviços às distribuidoras. Entre elas, a injeção da energia do veículo para prédio (V2B), do veículo para casa (V2H) ou o chamado “veículo para tudo” (V2X). Reduz-se, assim, o custo total da propriedade, chamado TCO (total cost of ownership).        

Já se estima que, sem o gerenciamento na integração dos veículos elétricos à rede de energia (VGI), o carregamento de veículos elétricos na Califórnia, em 2030, aumentará a demanda de pico em 4,9 gigawatts (GW), de acordo com a E3 (Energy+Environmental Economics). Atender a essa nova carga exige investimentos e planejamento em geração, infraestrutura, transmissão e incentivos à geração e ao armazenamento distribuídos de energia.

O que é o V2G?

Vehicle-to-grid (V2G) consiste em um sistema no qual veículos elétricos se comunicam com a rede elétrica para permitir a utilização da energia armazenada nas baterias de forma a alimentar algumas cargas no caso de uma eventual falta de energia ou para transacionar energia por meio da oferta de serviços auxiliares, tais como resposta à demanda ou estabelecimento de contratos inteligentes.        

Segundo dados da revista Fortune, a maioria dos carros fica parada, em média, 95% do tempo. Imagine um grande estacionamento onde os carros podem inserir a energia armazenada nas baterias nos horários mais convenientes à rede e serem abastecidos, de forma controlada, a fim de causarem o mínimo efeito sobre o sistema elétrico ou, ao contrário, provocar um forte impacto positivo em horários de carga leve ou pesada, postergando os investimentos na rede.        

O potencial do V2G pode permitir que os veículos elétricos armazenem energia de fontes renováveis, como solar, eólica e biomassa, e descarreguem essa energia nos locais e horários mais convenientes, de acordo com contratos e modelos de negócio que podem ser estabelecidos. O V2G possibilita, dessa forma, que a rede de distribuição otimize o fornecimento da energia renovável local e reduza os custos de infraestrutura.

Piloto do V2G no Brasil

A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) desenvolve um projeto de P&D estratégico da Aneel para a Copel distribuidora e adquiriu um carregador V2G da empresa espanhola Wallbox. O carregador Quasar V2G, atualmente, faz parte das pesquisas no laboratório do Centro de Excelência em Energia e Sistemas de Potência, da UFSM.        

Os veículos elétricos são um dos elementos mais importantes para a descarbonização do setor de transportes. A tecnologia V2G pode contribuir para a abertura de novos mercados aos proprietários de veículos elétricos e empresas. A flexibilidade que o V2G oportuniza ajuda a reduzir o TCO e, dessa forma, contribui para ampliar a adoção dos modais elétricos. É preciso avanços na regulação do setor elétrico de forma a permitir que os recursos energéticos distribuídos, como os veículos elétricos, possam se incorporar a novos modelos de negócio que tragam benefícios aos usuários e ao sistema elétrico.”