Há um esforço mundial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Na Europa, existe um envolvimento de vários países para diminuir essas emissões em 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990. O Brasil, embora de forma tímida, também procura fazer a sua parte.
No País, o transporte é responsável por 40% a 60% das emissões de gases de efeito estufa nas cidades, e tem potencial para diminuir em torno de 45% desse total até 2050, de acordo com estudo da Coalition for Urban Transitions.
Para isso, é preciso substituir o uso de combustíveis fósseis (como gasolina e diesel) por opções sustentáveis. Entre elas está o uso de energia elétrica estocada em baterias para mover motores de carros, motos, ônibus e caminhões.
A tarefa não é trivial. Afinal, o Brasil tem uma frota com cerca de 112,5 milhões de veículos. Parte relevante é composta por caminhões com idade acima de 20 anos. O que significa que são veículos que rodam com tecnologias antigas e poluentes.
O desafio é enorme, envolvendo esforços de várias empresas que compõem o ecossistema de mobilidade, como montadoras, sistemistas, fabricantes de bateria, companhias responsáveis por montar a infraestrutura, além de ações do Poder Público para estimular essa transição energética que move o transporte.
No caso de veículos leves, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), em 2021, foram comercializadas 34.990 unidades eletrificadas (100% elétricos e híbridos). E, no primeiro quadrimestre deste ano, outras 12.976 unidades foram vendidas, o que indica crescimento de 78%, em relação ao mesmo período de 2022.
A previsão é de que, até meados de agosto, a frota circulante de eletrificados, no Brasil, ultrapasse 100 mil veículos. Poderia haver mais carros elétricos se chegassem ao consumidor final com preços mais convidativos. Mas isso ainda deve demorar um pouco em razão de diversas resistências colocadas para o avanço da eletrificação, que vão além dos custos elevados.
Só carros elétricos não garantem a descarbonização do mercado automotivo. É preciso ir além. Por exemplo, montar infraestrutura de eletropostos nas cidades e nas estradas para oferecer pontos de carregamento das baterias desses veículos. É necessário também saber o que fazer com as baterias que, daqui a alguns anos, serão descartadas e substituídas por mais novas. Há ainda a necessidade de substituir ônibus e caminhões a combustão por modelos com motores com propulsão elétrica, o que requer altos investimentos. Desafios que sempre geram oportunidades não faltam.
Em paralelo, há projetos que caminham de forma consistente. A maioria deles é feita por investimento privado, resultado das chamadas de P&D, projetos regulamentados pela agência reguladora (Aneel) para pesquisa e desenvolvimento de assuntos estratégicos.
Entre as várias iniciativas em curso no Brasil está a instalação de eletropostos em locais públicos e semipúblicos, como shoppings e supermercados, além da criação de corredores eletrificados, como a Via Dutra (entre São Paulo e Rio de Janeiro) e o Corredor Verde, no Nordeste, que liga as cidades de Salvador e Natal. Outro passo importante é que muitas empresas do varejo aderiram à frota eletrificada para reduzir suas emissões de dióxido de carbono para realizar entregas de curta distância nos grandes centros.
Investigar esses novos caminhos e iniciativas, apontar tendências, revelar, em primeira mão, as principais novidades e inserir o leitor nessa nova realidade é o papel do Planeta Elétrico, um hub de conteúdo que tem, em seu time, embaixadores e curadores profissionais altamente capacitados. São eles que, ao lado de jornalistas do Mobilidade Estadão, irão trazer à discussão, no caderno Mobilidade, que circula, todas as quartas-feiras, os temas mais relevantes da eletromobilidade no Brasil e no exterior.
“Avançar para a mobilidade elétrica está longe de ser uma tarefa fácil, já que implica transformações econômicas, industriais, estruturais, políticas, tecnologias, científicas, sociais e culturais. Entretanto, é uma opção que tem sido largamente reconhecida como necessária e urgente.”
Flávia Consoni, curadora do Planeta Elétrico e coordenadora do Laboratório de Estudos do Veículo Elétrico (Leve), da Unicamp