Nas décadas de 1980 e 1990, era comum ouvir que o Brasil seria o País do futuro. Claro que isso poderia ter uma série de interpretações distintas, mas o fato é que sempre entendemos que tínhamos um bom potencial para grandes realizações. E, hoje, eu diria que nosso País pode ser, inclusive, um polo para a mobilidade do futuro.
Os anos passam e, ao que tudo indica, apesar de alguns solavancos políticos e econômicos, o Brasil continua sendo uma nação com uma fonte de energia elétrica, predominantemente, limpa. Como vocês sabem, a maior parte da energia elétrica produzida em território nacional é proveniente de usinas hidrelétricas, uma fonte segura e sustentável. Agora vemos também grande avanço na produção de energia solar e eólica. E isso diz muito quanto ao futuro, principalmente quando o assunto é sustentabilidade.
A indústria automotiva e o setor da mobilidade como um todo vêm desenvolvendo uma série de tecnologias que tem permitido importantes transformações na forma como nos locomovemos, tornando os veículos mais eficientes, seguros e bem mais sustentáveis do que eram há algumas décadas. Foram criados sistemas de propulsão que não emitem gases poluentes e que podem ser abastecidos, ou melhor, recarregados, no conforto dos lares apenas com energia elétrica. E o que é melhor: com bem menos necessidade de manutenção do que um carro a combustão.
Todo esse avanço é fruto de anos e anos de investimento contínuo em engenharia avançada, projetos inovadores, desenvolvimento de novos produtos e atualização constante dos processos de manufatura. Precisamos estar atentos ao fato de que a indústria passa pela maior transformação em seus mais de 100 anos de história, com enorme impacto na mobilidade. Agora, temos tecnologia de ponta para nos locomover de maneira rápida, eficaz, sustentável e segura. Estamos caminhando a passos largos rumo a um futuro autônomo, elétrico, conectado e compartilhado. Mas você deve estar se perguntando: e por que eu não vejo isso todos os dias nas ruas?
Além de termos, no Brasil, um dos maiores e mais avançados parques industriais do mundo, somos referência em engenharia e temos um relevante mercado consumidor em potencial. O País e a região da América do Sul têm grandes reservas de minerais como lítio, manganês, níquel, grafite e nióbio, utilizados na produção de baterias para carros elétricos. Isso tudo nos coloca em posição estratégica para nos tornar um hub de desenvolvimento, produção e exportação de tecnologias e carros elétricos para todo o mundo.
No entanto, entre o momento da criação e a adesão das novas tecnologias, há um inevitável período de transição, que vai exigir um esforço maior nosso enquanto sociedade. Para que a população, gradualmente, troque seus veículos a combustão por modelos elétricos, é necessário que esse movimento seja estimulado de maneira ampla, com mais políticas públicas, implementação de infraestrutura de recarga e condições internas seguras para que aconteçam os investimentos necessários para instalação e aperfeiçoamento de toda a cadeia de fornecedores envolvida nesse processo.
Caso o Brasil não incentive a mobilidade elétrica, corremos o risco de ficar à margem do comércio internacional de produtos e tecnologias automotivas. Digo isso porque os países europeus, os Estados Unidos e a China já se posicionaram em relação a esse tema, dando preferência aos automóveis elétricos, que não emitem gases poluentes e são bem mais sustentáveis e seguros. Em alguns anos, a produção e a frota de carros nesses países devem ser, majoritariamente, elétricas.
Se não nos mobilizarmos rumo à eletrificação da mobilidade, podemos nos tornar uma ilha de produção de tecnologias, que logo se tornará desatualizada, com pouca atratividade aos investimentos e ao comércio internacional.
A hora é agora. De nos unirmos enquanto sociedade, produtores e fornecedores; de mobilizarmos todo o ecossistema que envolve a modernização e a eletrificação da mobilidade, rumo a um futuro mais limpo e sustentável. O carro elétrico já foi desenvolvido. Resta, agora, desenvolvermos novas políticas e novos hábitos para que o ciclo da mobilidade do futuro se complete.