O E-Fan, da Pipistrel, que pertence ao grupo americano Textron, foi o primeiro avião elétrico certificado a fazer um voo no mundo. O Brasil ainda não possui uma aeronave com essa tecnologia, embora a Embraer tenha um projeto, em andamento, baseado no modelo agrícola Ipanema.
No entanto, isso não quer dizer, porém, que não exista nenhum veículo elétrico nas operações da aviação brasileira. Um elétrico da Volkswagen cumpre esse papel.
No Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), a Raízen, empresa licenciada da Shell, realizou, no último dia 20, o primeiro abastecimento de aeronave utilizando o caminhão elétrico desenvolvido no País, o Volkswagen e-Delivery 11, fabricado em Resende (RJ).
“Não é tão simples promover a descarbonização na aviação, mas estamos iniciando a transição da frota da companhia para reduzir o nível de emissões de dióxido de carbono (CO2)”, afirma Juliano Tamaso, vice-presidente de supply chain da Raízen.
A operação começou em uma estação de recarga da Shell Recharge no aeroporto, onde os três packs de bateria do e-Delivery foram realimentados com potência de 60 kW.
Ou seja, ele pode rodar 110 quilômetros ou, sob o ponto de vista das necessidades da Raízen, tem autonomia de dez horas contínuas, antes de receber a carga completa, que demora cerca de uma hora.
Para ter ideia do tamanho do ecossistema da Shell Recharge, são 120 mil pontos de recarga rápida no mundo, 18 deles instalados no Brasil. A meta da empresa é chegar a 100 pontos até o fim do ano.
Em seguida, o veículo elétrico foi levado até a posição do avião Embraer 195, da Azul Linhas Aéreas Brasileiras. Com capacidade para 115 passageiros, o 195 tinha como destino o Aeroporto Internacional de Confins (MG).
Vale ressaltar que o e-Delivery não transporta combustível. Ele estaciona a poucos metros do avião e, em um ambiente totalmente seguro, uma mangueira liga a rede subterrânea ao tanque da aeronave, localizado na asa.
Ou seja, todo o procedimento de colocar 5 mil litros de querosene de aviação é rápido e ágil, durando cerca de dez minutos. Segundo a Raízen, a vazão é de 3 mil litros por minuto.
O aeroporto de Guarulhos possui, em suas pistas, uma rede de 27 quilômetros de dutos, no subsolo, que recebe o combustível das refinarias da Petrobras do Estado de São Paulo e repassa aos aviões, em 215 pontos de abastecimento. Diariamente, a Raízen abastece 900 aviões (700 deles da Azul), em 70 aeroportos brasileiros, fornecendo 4 milhões de litros de querosene.
A frota da Raízen é composta por 4 mil caminhões que atuam dentro dos aeroportos. “A Volkswagen tem uma demanda mundial de grandes clientes. No Brasil, o e-Delivery atende sob medida às necessidades da Raízen”, revela Thiago Supplizi, gestor comercial da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO).
Lançado em 2021, o e-Delivery é vendido, no mercado brasileiro, nas versões 11 e 14 toneladas, com autonomias de 110 e 250 quilômetros, respectivamente, e é exportado para México e Argentina. Hoje, o caminhão também é muito usado para entregas de produtos dos setores de alimentos e bebidas, coleta de lixo e betoneiras.
O Embraer 195, um dos personagens do reabastecimento da Raízen, ainda está longe de ganhar um modelo movido a bateria. Mesmo assim, a Azul vem reforçando sua participação no cenário da eletromobilidade. A empresa mantém parcerias com Airbus e Embraer com o propósito de desenvolver novas soluções elétricas na aviação.
“Acreditamos que a eletrificação no setor começará nos aviões menores, de 9 a 12 assentos”, destaca Diogo Youssef, gerente-geral de engenharia e combustíveis da Azul.
A equação é simples: um avião decola com um peso elevado, consome combustível ao longo da viagem e aterrissa mais leve, com os reservatórios bem mais vazios.
Por sua vez, um avião elétrico precisaria de um conjunto gigantesco de bateria e manteria a massa durante todo o voo, o que reduziria a segurança.
De toda forma, a companhia aérea busca alternativas, visando a descarbonização a curto prazo, com a menor queima de querosene. O programa de eficiência de combustíveis (PEC) da empresa já diminui o consumo em 3,2%.
Cerca de 40% desse valor foram alcançados com o encurtamento das rotas – ação complexa que exige a participação dos controladores do tráfego aéreo no País. “Com a PEC, em 2022, deixamos de despejar 134 mil toneladas de CO2 na atmosfera”, completa Youssef.
A operação de reabastecimento do Embraer 195 reuniu Raízen, Azul, Volkswagen e Rucker, empresa de equipamentos de abastecimento de aeronaves e movimentação aeroportuária que fez toda a montagem no e-Delivery. A parceria agiliza o desenvolvimento de processos e amortiza custos, que não são baixos.
“O envolvimento de várias companhias comprova que os programas de eletrificação e descarbonização passam por ações conjuntas, e não individuais”, afirma Rafael Rebello, diretor de energia renovável da Raízen.
“No ano passado, a Raízen assinou carta de intenções com a Embraer, a fim de desenvolver a produção de combustível de aviação sustentável com base no etanol e que receberá outros materiais renováveis em sua composição.”
A escolha do Volkswagen e-Delivery 11 é estratégica. A Raízen ainda não sabe em que medida a presença do veículo deixará de emitir CO2 nos abastecimentos, mas calcula que o caminhão representará redução de 50% nos custos anuais na compra de diesel e do reagente Arla 32, além dos valores de manutenção mais baixos.
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