Após “pular” o ano passado por causa da pandemia global, a maior feira de motocicletas do mundo retornou em 2021. A 78ª edição da Esposizione Internazionale delle Due Ruotte (Exposição Internacional das Duas Rodas), também conhecida como Salão de Motos de Milão, na Itália, aconteceu entre 25 e 28 de novembro.
Com rígidas regras de visitação, como a exigência do uso de máscaras, passaporte de vacina e teste negativo de covid-19, o Salão de Milão voltou um pouco menor, neste ano. Em vez dos oito pavilhões de edições anteriores, a edição de 2021 ocupou apenas cinco halls da Fiera Mila Rho.
Mas, ainda assim, atraiu 820 marcas de 36 países – quase metade delas de fora da Itália.
Alguns fabricantes notáveis optaram por não comparecer ao salão. A BMW adotou a estratégia de não participar mais de salões tradicionais, seja de carro, seja de moto. A KTM também decidiu não estar presente à feira milanesa, assim como Husqvarna e GasGas, marcas pertencentes ao grupo austríaco.
Mas a ausência mais notada do show deste ano foi a Ducati. Primeiramente, por se tratar de uma “joia” da casa. Mais bem-sucedida e famosa marca italiana de motocicletas, a fábrica de Borgo Panigale costumava ter um dos maiores e mais concorridos estandes da Salão de Milão.
Além disso, a ausência da Ducati bem nesta edição de 2021 pegou mal. Afinal, a realização do salão neste ano é simbólica. Marca a retomada dos eventos com grande público na Itália, um país apaixonado pelas duas rodas e que foi duramente atingido pela covid-19.
Decisões e estratégias de comunicação à parte, o que importa é que, mesmo sem duas gigantes do mercado de motos, o Salão de Motos de Milão, como em outras edições, é praticamente um “Natal” antecipado, revelando tendências e diversas novidades aos fãs. Selecionamos, a seguir, os principais lançamentos do salão.
A Honda, que tem sua sede europeia em Roma, capital italiana, abriu o dia reservado à imprensa com novidades surpreendentes. A gigante japonesa apresentou a ADV 350 para completar sua linha de scooters aventureiras, que já conta com a ADV 150 e a X-ADV, ambas à venda no Brasil.
A nova ADV 350 combina o estilo aventureiro com um quadro tubular em aço reforçado, garfo telescópico invertido de 37 mm, na dianteira, e dois amortecedores traseiros com reservatório de expansão. Tudo para enfrentar com mais destreza pisos irregulares.
Dotada de um motor de um cilindro e 330 cm³ de capacidade, a ADV 350 tem 29,2 cv de potência máxima e câmbio CVT. Vale destacar o controle de tração, item de segurança obrigatório para motos acima de 300 cc, na Europa, e também para o sistema de controle de voz para smartphones nativo, criado pela Honda.
Além da scooter, a marca japonesa confirmou o retorno do nome “Hornet”, que deu vida a uma das motos mais famosas da marca. O modelo naked, que saiu de linha em 2014, é, até hoje, uma das motos mais procuradas pelos internautas brasileiros.
Mas a futura Hornet deverá usar um motor de dois cilindros, em vez dos quatro cilindros, que fizeram sua fama. De acordo com a Honda, a Hornet do futuro deverá manter a esportividade e o design ousado que fizeram seu sucesso.
A Kawasaki não ficou para trás. Apresentou a crossover Versys 650 renovada técnica e esteticamente e também mostrou sua primeira moto com radar, a Ninja H2SX.
A Versys 650 faz sucesso há mais de uma década com sua proposta versátil. O modelo manteve a versatilidade e o mesmo motor bicilíndrico de 649 cm³, mas passou por uma facelift que a deixou com a “cara” de sua irmã maior, Versys 1.000. Tem o mesmo “bico” protuberante sob os faróis, que agora são de LED.
Na parte eletrônica, a nova Versys 650 traz, pela primeira vez, controle de tração com dois níveis de atuação. O painel é totalmente digital, com conexão Bluetooth e app para celular. A exemplo de suas irmãs, Z 650 e Ninja 650, o modelo deve chegar ao Brasil no próximo ano.
A sport touring Ninja H2 SX-SE teve seu motor de quatro cilindros, com supercharger e 200 cv de potência, atualizado para atender às normas de emissão da Euro 5. As novidades são o novo conjunto óptico, com um canhão de LED, e o pacote eletrônico, desenvolvido em parceria com a Bosch, que inclui sistemas de radar.
Importante destacar que, depois de BMW e Ducati, a Ninja H2 SX é a primeira moto japonesa a oferecer controle de cruzeiro adaptativo (ACC), aviso de colisão e controle de ponto cego por meio de um radar frontal, montado sob o farol, e outro traseiro.
Completam os sistemas de assistência ao condutor um sensor de medição inercial, com controle de tração, assistente de curvas e auxílio de frenagem, além, é claro, de modernos freios ABS.
As bigtrails são, há alguns anos, os modelos mais desejados e que concentram o maior número de novidades. São motos com motores potentes, boa autonomia e bastante conforto, seja para uma longa viagem pelo asfalto, seja para uma aventura fora de estrada. Neste ano, não foi diferente.
Em meio a edições limitadas e séries comemorativas, a Triumph apresentou o protótipo da nova Tiger 1200, bigtrail equipada com motor de três cilindros e cerca de 150 cv. A grande novidade, segundo a marca inglesa, é que a nova geração será ainda mais leve e apta ao off-road, com roda aro 21 na dianteira – especificação, até agora, exclusiva da Honda Africa Twin.
A Yamaha revelou um conceito ainda mais off-road da Ténéré 700, bigtrail prometida – porém, nunca trazida – pela marca ao Brasil. O conceito, batizado de Ténéré 700 Raid, mais se parece com uma moto do Rally Dakar, equipada com peças especiais e uma suspensão de curso bem longo, digna de motos de competição.
Até mesmo a MV Agusta, famosa por suas esportivas, decidiu se “aventurar” no segmento bigtrail. A fábrica de Varese apresentou o projeto “Lucky Explorer”, que busca resgatar a mítica das Cagiva Elefant da década de 1980, mas agora com novos motores de 550 cc, bicilíndricos, e 950 cc, de três cilindros.
Ambas ainda são conceitos, mas devem ganhar as ruas e ajudar a MV Agusta a atingir números de vendas que as esportivas não conseguem.
Sinal dos tempos é que um dos modelos mais esperados pelo público italiano, nesta edição da feira, era a Benelli TRK 800. Apesar da origem italiana na cidade de Pesaro, a marca, hoje, pertence ao grupo chinês Qianjiang. Além de mostrar a força chinesa, a bigtrail de dois cilindros, 754 cm³ e 76 cv, mostra que as motos versáteis e mais acessíveis são a bola da vez.
Infelizmente, a Benelli-Qianjiang tentou se instalar no País, na década passada, mas equívocos na estratégia e problemas com a tropicalização das motos levaram a empresa ao fracasso, no nosso mercado. Dessa forma, dificilmente veremos a TRK 800 por aqui, pelo menos, em um futuro breve.
De olho no futuro da mobilidade urbana sustentável, o evento deste ano dedicou uma área exclusiva às motocicletas elétricas, à micromobilidade e, principalmente, às e-bikes.
Com crescimento de dois dígitos na maioria dos países europeus, e crescimento de 84,5% nas vendas só na Itália, as bicicletas elétricas foram destaque da feira das duas rodas. Além de novos produtos, houve até uma pista externa, em que os visitantes podiam pedalar as e-bikes.
Mais timidamente, as motos elétricas também deram as caras. O grupo chinês Soco, especialista em e-scooters, apresentou a Vmoto, uma marca de motocicletas elétricas.
A gigante chinesa Niu, maior vendedora de scooters elétricas, também prometeu uma motocicleta compacta para o próximo ano. Até mesmo a Fantic, que produz bikes e e-bikes, também revelou uma scooter elétrica, que deve começar a ser vendida em meados de 2022.
Gostem ou não, a mobilidade está mudando – ou já mudou – e não há como voltar atrás. Falta, agora, as gigantes japonesas e as grandes marcas europeias seguirem a tendência.