Você já deve ter ouvido, algumas vezes, que os carros estão se transformando em “celulares sobre rodas”. Mas, em um futuro próximo, os automóveis deverão fazer bem mais do que espelhar, na tela da central multimídia, os aplicativos do smartphone. Prepare-se para ouvir cada vez mais frases como “veículo definido por software” ou “movido por software”. Elas resumem a tecnologia na qual os principais programas dos automóveis (que concentram as funções mais importantes) estarão baseados na nuvem, e não mais nos carros. Parece coisa de ficção científica, mas a estreia dessa tecnologia está prevista para 2024. Essa é a previsão do Grupo Stellantis (que reúne marcas como Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot) e da sistemista ZF. A Wipro, multinacional de origem indiana com escritórios em diversos países, incluindo cinco endereços no Brasil, acredita que a tecnologia estará pronta em 2030.
A Wipro trabalha em uma plataforma batizada de Cloud Car (“carro nuvem”, em tradução literal). Segundo a empresa, a tecnologia fornece às montadoras uma solução de software que irá auxiliar no desenvolvimento mais rápido de veículos, e a um custo menor.
No entendimento da companhia, os veículos atuais, mesmo novos, vão se tornando obsoletos à medida que novas tecnologias chegam ao mercado. Com os principais programas na nuvem, e não mais no veículo, as atualizações passam a ser feitas automaticamente, sem que o proprietário precise tomar nenhuma providência, como agendar uma visita à concessionária, por exemplo. Um recall que não envolva substituição de peça deixa de existir.
A Wipro informa que a plataforma Cloud Car irá desacoplar software (programa) e hardware (máquina). Em recente artigo publicado na Automotive News, Thomas Mueller, gerente-geral de engenharia, pesquisa e desenvolvimento da empresa, frisou que, em um carro moderno, a programação inclui “mais de 100 milhões de linhas de códigos”, um sistema complexo incompatível com as atuais estruturas veiculares. Daí a necessidade de retirar essa tarefa do carro e concentrá-la na nuvem. A tecnologia também irá permitir que os carros conversem entre si, facilitando a condução autônoma.
A Volvo já realiza atualização remota over the air (OTA), no sistema de entretenimento de seus modelos mais recentes, equipados com Android Auto. Com ela, os automóveis passam a ter acesso às versões mais atualizadas de aplicativos no Google Play.
A montadora sueca informa também que a mais recente atualização (a oitava promovida pela marca) traz melhorias de recursos, que vão desde um melhor gerenciamento de energia até a climatização da cabine. Aperfeiçoamento no gerenciamento de energia ajuda a manter as temperaturas da bateria em limites adequados, independentemente das condições climáticas, aumentando a autonomia nos modelos híbridos e elétricos.
Recentemente, a sistemista alemã ZF apresentou a plataforma batizada de Middleware, que, como o nome diz (middle significa “meio”), faz o meio de campo entre os sistemas operacionais do veículo e o software. Segundo a empresa, atualmente, um automóvel pode ter até 100 unidades de controle (ECUs), cada uma operando com seu software, para comandar funções do motor, freios, direção etc.
A função do dispositivo da ZF é centralizar todas essas informações, reduzindo o número de ECUs e utilizando uma plataforma aberta, que pode ser compartilhada por diversos fabricantes. Traçando um paralelo com os sistemas operacionais de smartphones, o que a ZF está desenvolvendo seria uma espécie de sistema Android – porém, mais complexo – e mantendo uma “linguagem universal”. A ideia é que apenas alguns sistemas permaneçam com software separado, como os destinados à direção autônoma, por exemplo.
Além do Middleware, a ZF trabalha também em um supercomputador automotivo, batizado de ProAI – referência a sua capacidade de inteligência artificial. De acordo com a empresa, o poder de processamento aumentou 66% e o consumo de energia caiu 70%.
Já o Grupo Stellantis firmou parceria com a Foxconn, maior fabricante de microchips do mundo, para desenvolver e produzir quatro famílias de chip, capazes de suprir 80% das necessidades do grupo na produção de veículos elétricos, autônomos e conectados.
A empresa desenvolve uma nova arquitetura elétrica/eletrônica e de software, batizada de STLA Brain, que permite atualizações automáticas de programas graças à comunicação com a nuvem. Segundo a Stellantis, isso elimina a necessidade de espera de chegada de um novo hardware, reduzindo custos, manutenção e desvalorização do automóvel.