Criada em 2021, após a junção da FCA (Fiat Chrysler Aumobiles) e o Grupo PSA (Peugeot e Citroën), a Stellantis é uma empresa global que reúne 14 marcas: Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, Citroën, Dodge, DS, Fiat, Jeep, Lancia, Maserati, Opel, Peugeot, Ram e Vauxhall. Em seu primeiro ano de atuação, a companhia faturou € 152 bilhões e obteve lucro líquido de € 13,4 bilhões. Na América do Sul, as vendas superaram 830 mil unidades, alcançando a liderança nos mercados brasileiro e argentino.
Com o pé no presente e o olhar no futuro, a companhia anunciou recentemente uma estratégia global de eletrificação que prevê o investimento de mais de € 30 bilhões, até 2025. Esse planejamento contempla, além das tecnologias de eletrificação e direção autônoma, o desenvolvimento de software, entre outras estratégias.
A Stellantis acredita que, até 2030, 100% das vendas na Europa serão de veículos elétricos; 50%, nos Estados Unidos; e, no caso brasileiro, a eletrificação evoluirá, principalmente, no modo híbrido em combinação com o etanol.
Para entender melhor os planos da empresa para os próximos anos, conversamos com Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul.
A política de eletrificação da Stellantis prioriza alguma das marcas?
Antonio Filosa: A Stellantis foi constituída com uma visão de mobilidade sustentável e acessível, no momento em que a indústria automotiva passa por uma importante transformação, deixando de ser uma indústria que produz máquinas autopropulsoras para desenvolver soluções de mobilidade. A companhia detém tecnologia, capacidade de desenvolvimento, pessoas e vontade de fazer. A nossa meta é liderar a indústria com mais de 75 BEVs (veículos a bateria elétrica), incluindo o primeiro Sport Utility 100% elétrico da marca Jeep, que será lançado no início de 2023, seguido pelo Ram ProMaster BEV, no final do próximo ano, e pela picape Ram 1500 BEV, em 2024.
Especificamente no Brasil, qual são os planos para a mobilidade elétrica?
Filosa: A indústria automobilística atravessa, no Brasil e no mundo, o mais rico período de transformação de sua história. Tudo está em transformação. E esse é um processo com suas várias etapas. Algumas tendências já estão claramente desenhadas, como a eletrificação, mas, devido ao custo elevado das soluções, ela não evoluirá de modo igual em todo o mundo. A Europa sairá na frente, seguida por Estados Unidos e China, e depois pelos demais mercados, incluindo o Brasil. À medida que a tecnologia se difunde, aumenta sua escala, e os preços se tornam mais competitivos, permitindo que mais consumidores tenham acesso à nova tecnologia.
Importante lembrar que o etanol é uma vantagem estratégica do Brasil para uma propulsão mais limpa. Quando considerado o conceito well to wheel (no caso, do poço à roda), o etanol é altamente eficiente quanto às emissões, porque a cana-de-açúcar, em seu ciclo de desenvolvimento vegetal, absorve de 70% a 80% do CO2 liberado na produção e na queima do etanol combustível.
A companhia desenvolve infraestrutura de carregadores?
Filosa: Atualmente, junto com os veículos elétricos da Stellantis, já fornecemos o carregador portátil, para uso em tomada comum, e, adicionalmente, são oferecidos modelos de carregador mais rápidos. Estão homologados os carregadores dos parceiros Enel X e WEG, para instalação residencial, com velocidade maior do que a do carregador portátil, enviado com o veículo. Além disso, a empresa desenvolve parceiras para impulsionar a infraestrutura de mobilidade sustentável e acessível, no País, como com a Tupinambá, que finalizou 2021 com mais de 900 pontos de carregamento mapeados. No primeiro semestre do ano, tivemos um aumento de, aproximadamente, 200 pontos. Temos ainda mais de 200 pontos de recarga disponíveis aos clientes Stellantis, em 29 cidades e 13 Estados brasileiros, na associação ao projeto Ecovagas, parceria da Estapar com a Enel X.
E, na parte de software, o que a companhia já desenvolveu?
Filosa: Dentro da estratégia de eletrificação global da empresa, o investimento global de mais de € 30 bilhões, até 2025, contempla, além das tecnologias de eletrificação e direção autônoma, o desenvolvimento de software, entre outras estratégias. Estamos empenhados em desenvolver softwares que deem suporte à eletrônica embarcada, que será cada vez maior e mais complexa. Dessa forma, criamos soluções que estão além do produto e da manufatura. Nosso foco é utilizar todos os recursos que a tecnologia oferece e desenvolver novas soluções tecnológicas para criar mobilidade sustentável com vários outros serviços agregados.
Quais são os modelos eletrificados já disponíveis no Brasil?
Filosa: A Stellantis já lançou, no País, seis modelos eletrificados: cinco 100% elétricos e um híbrido. O primeiro da nossa companhia a chegar ao Brasil foi o Fiat 500e, no ano passado. Ainda em 2021, trouxemos o Peugeot e-208 GT e os utilitários Peugeot e-Expert e Citroën Ë-Jumpy. Neste ano, lançamos o Jeep Compass 4xe híbrido plug-in e o Fiat e-Scudo, que traz ótimos custos operacionais e máxima produtividade com modernidade, robustez, conforto com a versão 100% elétrica. Até 2030, a Stellantis projeta ter até 20% do mix de vendas em tecnologias eletrificadas na América do Sul.
Quantas concessionárias estão preparadas para trabalhar com veículos elétricos?
Filosa: A nossa rede de concessionárias habilitadas para a venda de veículos elétricos está em constante expansão. Atualmente, a Stellantis tem a maior cobertura do País, na rede total, e, na de elétricos, inclui 11 unidades Fiat, 10 Peugeot e Citroën e 39 Jeep.
Como o senhor enxerga a oferta de produtos eletrificados em dez anos?
Filosa: Enxergamos que, no Brasil, a eletrificação avançará na forma de modelos híbridos, combinando propulsão elétrica e a etanol. É uma solução inteligente e natural, que se apoia em uma vantagem competitiva nacional, grande capacidade de produção e distribuição de etanol, que é de baixo impacto ambiental. A matriz de propulsão será múltipla, mas com participação crescente da eletrificação. À medida que as tecnologias se difundem, melhoram a escala de produção e os custos unitários. Os veículos elétricos se tornaram, gradualmente, mais acessíveis.
Existem estudos com autônomos? Qual é a previsão de implementação?
Filosa: A direção autônoma é um processo. Os carros serão cada vez mais conectados. Isto é, vão interagir com a infraestrutura urbana, como sinalização, vias, com os veículos ao redor e com o mundo do usuário – casa, trabalho, compras, entretenimento. As funções de auxílio ao motorista estão se tornando mais sofisticadas e abrangentes e se somam ao longo do tempo, aumentando, gradualmente, a capacidade de condução assistida e autônoma. A Stellantis investe, continuamente, nessas tecnologias para proporcionar maior conforto e segurança aos motoristas durante a jornada do uso do carro. O Jeep Compass é um exemplo. Em 2016, foi o primeiro veículo nacional a apresentar o nível de tecnologia semiautônomo L1, oferecendo diversos itens de segurança. Essa tecnologia continua sendo parte da nossa estratégia de desenvolvimento para oferecer, além de segurança, conveniência aos nossos clientes. Atualmente, o Jeep Compass, o Jeep Commander e o Fiat Toro já avançaram um degrau na escala da autonomia, e podem manter distância de outros veículos, frear quando necessário, se manter na faixa com o sistema de monitoramento de mudanças de faixa ativo. Tudo autonomamente.