A venda de utilitários e veículos urbanos de carga (VUCs) vem sendo motivada pelo comércio eletrônico desde 2020. Dos pequenos furgões até os caminhões com comprimento máximo de 7,20 metros (caso dos VUCs da capital paulista), todos contaram com a ajuda dos pedidos por internet, sobretudo com a chegada da pandemia de covid-19.
Essa parcela do setor de transportes cumpre os trechos finais (last mile) do processo de entregas e, por isso, chamaram muita atenção na Fenatran, que se encerrou na última sexta-feira, dia 11 de novembro.
“Utilizamos bastante os pequenos furgões para pacotes de 100 a 500 gramas e também veículos um pouco maiores, como o Mercedes-Benz Sprinter e o Volkswagen Delivery, para volumes de até 5 quilos. Também usamos muito os Sprinter refrigerados para produtos farmacêuticos. E os VUCs, que têm a vantagem da facilidade de carga e descarga, nas docas, por causa de sua altura”, diz Ednaldo Veloso, gerente de operações da Flash Courier.
Veloso informa que a empresa tem frota mista, 80% alugada, e pretende ampliar a quantidade de VUCs em curto prazo. “A ideia é ter unidades fazendo coletas por área e que fiquem localizadas em diferentes regiões da cidade de São Paulo: norte, sul, leste, oeste.”
A ampliação da frota será necessária para acompanhar a expectativa da Flash Courier. “Este ano, já crescemos 40%. Estamos entregando de 50 mil a 60 mil pacotes diários. Para 2023, a previsão é de 150 mil, por dia”, afirma.
Marcos Guerra, diretor da Drops, rede de entrega e retirada de encomendas, acredita em um crescimento moderado no comércio eletrônico para 2023, e condiciona a ampliação das frotas à ajuda dos bancos.
“Tudo dependerá do crédito e das taxas de juros, porque não há espaço para aumento de custos. Mas quem tiver necessidade de substituir a frota vai mesmo renovar, por causa do uso intenso que esses veículos tiveram nos últimos anos.”
De acordo com Marcos Guerra, os trechos finais de entrega da Drops costumam ser feitos por pequenos furgões flex, a diesel e até pequenos triciclos elétricos.
“Quanto menor o veículo, mais dentro da cidade ele estará. A utilização dos VUCs é mais focada em trechos intermediários do transporte de carga ou dos centros de distribuição até pontos de comércio. Para o cliente final, eles tendem a ser empregados somente no transporte de itens grandes, como fogões e geladeiras.”
Os números divulgados pela Fenabrave, entidade que reúne as associações de concessionários, mostram que, de janeiro a outubro, foram emplacados, no País, 5.255 caminhões semileves, aqueles com peso bruto total (PBT) de até 6 toneladas e utilizados essencialmente como VUCs. Esse número é 9,5% maior que o anotado em igual período do ano passado. E a análise isolada de um modelo bastante vendido, o Iveco Daily, revela alta próxima a 80%.
“O segmento de comerciais leves foi o que menos sofreu durante a pandemia de covid-19”, afirma Carlos Briganti, diretor da consultoria Power System. Além do comércio eletrônico, ele ressalta que o agronegócio também favoreceu os comerciais leves, já que as picapes também se enquadram nessa relação.
Na feira, além de modelos movidos a combustão voltados à logística urbana, foram apresentados diversos veículos elétricos, como a E-Transit (da Ford), o e-Delivery (da VWCO), além da JAC Motors, que mostrou cinco modelos elétricos.
De acordo com informações da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), as empresas do setor estão investindo na oferta de modelos comerciais como esses. “O aluguel de utilitários aumentou substancialmente. É um negócio rentável e atrativo. O boom ocorreu na pandemia. O número cresce, especialmente, nos grandes centros urbanos, com os VUCs e alguns veículos mais leves como vans e também modelos elétricos percorrendo trajetos de até 350 quilômetros, por dia”, afirma Paulo Miguel Júnior, ex-presidente e atual conselheiro gestor da Abla.
“Também há locadoras trabalhando, basicamente, com VUCs, e outras, ampliando essa área de negócios”, garante. O executivo afirma, ainda, que o setor de locação também expande os negócios em direção a caminhões de grande porte. “Já são 34 mil unidades para locação atuando em diferentes segmentos, como o próprio comércio eletrônico, transporte de grãos, reflorestamento e mineração.”