Os motivos para o uso da bicicleta como meio de transporte são inúmeros: é um modal econômico, ágil, não polui o meio ambiente e ainda contribui para o condicionamento físico e, por consequência, para a saúde. Do outro lado, no relato das pessoas que gostariam de usar mais a bike em seus deslocamentos, mas não o fazem, a queixa é única: a falta de segurança nos centros urbanos.
Pesquisa recente feita pela Tembici, com 3.500 usuários das bicicletas revelou que 45% dos ciclistas paulistanos não se sentem seguros para pedalar. E estamos falando da cidade com a maior infraestrutura cicloviária do Brasil, com 731,2 km de vias com tratamento para bicicletas, sendo 699,1 km de ciclovia/ciclofaixa e 32,1 km de ciclorotas, de acordo com a Secretaria de Comunicação do Estado de São Paulo (Cecom).
Quando analisados os motivos da insegurança viária, as queixas são diversas e também aparecem nos resultados do estudo. Em primeiro lugar está a falta de infraestrutura cicloviária, apontada por 66% dos entrevistados; já o desrespeito dos motoristas vem na sequência, mencionado por 55% das pessoas; seguido do receio de se acidentar (37%), e outros motivos (13%). Já 63% dos consultados afirma que a criação de ciclovias/ciclofaixas os fariam pedalar mais na capital.
Esse é o caso de Gabriela Barbosa do Carmo, 32 anos, auxiliar administrativo e artista, que pedala há dez anos. Ela conta que hoje só se desloca de bike se for em ciclovias e que, mesmo assim, sempre fica em estado de alerta para o comportamento dos motoristas, além de evitar se deslocar à noite.
No passado, ela conta que usava mais frequentemente a bicicleta como meio de transporte, usando outras vias que não as ciclovias, mas voltou atrás, principalmente por medo. “Embora eu nunca tenha me envolvido em situações tensas, percebo a impaciência e o comportamento territorialista dos automóveis e isso a deixa mais receosa”, explica.
De acordo com Juliana Minorello, CXO da Tembici, para incentivar a adesão ao modal é necessária uma estratégia multidisciplinar. “É preciso que o Poder Público, o setor privado e a sociedade unam forças e repensem a forma na qual nos deslocamos nas metrópoles”, diz.
Nesse modelo, segundo ela, é importante o papel das empresas. “Além de disponibilizarem os sistemas de bikesharing, ajudando a democratizar o acesso a este modal, elas podem promover uma mobilidade urbana mais sustentável, por meio de campanhas que estimulem a escolha da bicicleta”, diz.
Além disso, a iniciativa privada também tem um papel importante de apoio na elaboração de políticas públicas que criem um ecossistema seguro e convidativo ao uso deste modal, acrescenta a executiva.
Embora enfrentem alguns desafios nos pontos de interação com outros veículos como nos faróis e cruzamentos, as ciclovias aumentam muito a segurança dos ciclistas. O fato é que sua cobertura é muito desigual pelas diversas regiões das cidades e sua velocidade de construção muito lenta.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, está previsto no Plano de Metas 2021-2024 a criação, até o final deste ano, de 270 km de ciclovias e ciclofaixas (o total é de 300 km/h, mas apenas 30 km foram entregues, o que equivale a 10% da meta), uma tarefa quase impossível de ser cumprida, considerando os pouco mais de 7 meses que faltam para o final do prazo.
De acordo com Juliana Minorello, a expansão da infraestrutura cicloviária implantada na cidade é essencial para garantir segurança e conforto aos usuários, muitos deles recém-iniciados no ciclismo urbano. “Vale apontar que para um bom planejamento de sistemas de bicicletas compartilhadas, o conceito de adensamento é fundamental”, afirma.
Ela menciona o Guia de Planejamento de Sistemas de Bicicletas Compartilhadas do ITDP: “Uma boa densidade de estações dentro da área de cobertura é a garantia de que, onde quer que o usuário esteja, haverá uma estação a uma distância conveniente a pé, tanto da origem como do destino de sua viagem”, explica.
“Vale ressaltar que mais de 40% das pessoas que pedalam nos nossos sistemas moram fora da região de cobertura, ou seja, usam o transporte público para o deslocamento pelo eixo troncal e complementam o percurso da última milha com a bicicleta”, finaliza a CXO da Tembici.