Fortaleza reduziu velocidade de mais de 80 vias para 50 km/h. Foto: Prefeitura de Fortaleza
Em 2014, Fortaleza, capital cearense, contabilizava 377 mortes no trânsito por ano, o que a colocava entre as cidades mais violentas nesse quesito do Brasil. A partir daquele ano, uma série de iniciativas começaram a ser implementadas, e, mesmo com o aumento da frota – motorizada e não motorizada -, a cidade chega a 2024 com 184 acidentes, uma redução de 51% das fatalidades em uma década.
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Os bons indicadores da capital cearense são resultado de um trabalho de segurança viária em várias frentes. Coordenado pela autarquia de trânsito, contou com apoio técnico do WRI Brasil e da Iniciativa Global em Segurança Viária da Bloomberg Philanthropies, da qual a cidade faz parte desde 2015.
Mesmo com a expressiva diminuição, Fortaleza trabalha com o conceito do Visão Zero, programa que prega que nenhuma morte no trânsito é aceitável. Dessa forma, o foco é zerar as fatalidades.
De acordo com Leandro Rocha, diretor de trânsito da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania de Fortaleza (AMC), primeiro foi necessário montar um sistema de dados eficiente que pudesse nortear o planejamento de políticas públicas para reverter a mortalidade no trânsito.
Assim, de acordo com ele, com as iniciativas norteadas por embasamento técnico, foi possível ser mais eficaz na resolução do problema.
“Paralelo a isso, intensificamos as operações de educação e fiscalização nos locais com maior acidentalidade viária. E criamos um comitê de investigação para analisar as causas de todo sinistro fatal, apontando as devidas soluções técnicas”, explica o diretor.
De acordo com o diretor da AM, a sinalização foi reforçada com dispositivos de moderação de velocidade como lombadas e travessias elevadas.
“Prolongamos calçadas para permitir maior segurança ao pedestres. Assim, também investimos na ampliação da infraestrutura cicloviária ao ciclista e readequamos a velocidade em cerca de 85 ruas e avenidas para 50 km/h”, explica.
Como público mais vulnerável, contudo, todas as iniciativas de Fortaleza visam proteger pedestres e ciclistas.
Nesse sentido, Rocha cita o aumento da infraestrutura cicloviária, a expansão e a modernização da rede semafórica, extensão de passeios, remodelagem da seção viária, melhoria da sinalização horizontal e vertical, implantação de travessias elevadas e lombadas, dentre outras intervenções.
“Fortaleza possui hoje 501,7 km de infraestrutura cicloviária e lidera o ranking das cidades onde as pessoas vivem mais próximo delas, com cerca de 64% dos habitantes morando a menos de 300 m de alguma ciclovia ou ciclofaixa”, explica.
Além disso o sistema de bicicletas compartilhadas está presente em todas as regionais da cidade e já acumula mais de 7 milhões de viagens.
Atualmente os esforços estão concentrados, também, nos motociclistas, por representarem mais da metade dos óbitos em Fortaleza. Em 2024 foram 82 mortes, represenando 52% do total de fatalidades no trânsito, a exemplo do que tem ocorrido em diversas outras cidades do País.
Dessa forma, algumas das medidas são readequação da velocidade, além de reforço nas ações de fiscalização com foco nos fatores de risco e abordagens educativas incluindo cursos de pilotagem segura direcionada ao motociclista.
“Em paralelo, as campanhas de comunicação também são destinadas a esse público, bem como projetos de engenharia de tráfego, como áreas de espera para motos, que disciplinam o tráfego e permitem que esses veículos larguem primeiro do que os automóveis na abertura do sinal”, diz Rocha.
De acordo com o diretor, a experiência da capital mostra que outras cidades podem avançar na redução da mortalidade no trânsito.
“Assim, o caminho é adotar uma abordagem composta de gestão de dados, foco nos fatores de risco principais e na proteção dos usuários mais vulneráveis”, diz.
De acordo com Rocha, a adoção da abordagem de visão zero e sistema seguro permite reduzir a mortalidade no trânsito de forma mais rápida. “O objetivo de um sistema seguro é conseguir um sistema viário que admita o erro humano sem levar à morte ou lesões graves. Ele reconhece os limites da força ao qual o corpo humano pode sobreviver e se concentra na abordagem sistemática de vários fatores envolvidos em tipos específicos de colisões para reduzir o risco de lesões”, explica.
“Foi isso que Fortaleza fez e tem feito, investindo na priorização do transporte coletivo, na expansão das infraestruturas cicloviárias, na proteção da travessia de pedestres e, principalmente, na gestão das velocidades e combate aos fatores de risco críticos como excesso de velocidade, álcool e direção, uso adequado de dispositivos de proteção e de distrações ao volante” finaliza Rocha.
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