Estudo feito pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) e publicado em agosto revela aumento alarmante no número de sinistros envolvendo ciclistas traumatizados nos primeiros cinco meses de 2021. Na comparação com o mesmo período do ano passado, as ocorrências subiram 30%.
Em janeiro de 2019, foram registrados 1.100 sinistros graves com quem pedala, sendo que, no mesmo mês deste ano, foram 1.451, o número mais alto em todo o período analisado, que compreende janeiro de 2019 até maio de 2021. Já a média mensal de ocorrências foi de 1.185 casos nos últimos dois anos. A pesquisa foi feita pela Abramet, em parceria com a agência 360° CI, usando dados oficiais do Datasus, do Ministério da Saúde, relativos aos sinistros de trânsito envolvendo esses condutores.
“O aumento é decorrente do maior uso das bicicletas, o que vem acontecendo continuadamente há mais de dez anos. Essa elevação dos sinistros ocorre tanto no lazer quanto no transporte dos trabalhadores e dos estudantes”, explica Carlos Eid, médico especialista em medicina do tráfego e coordenador do Departamento de Atendimento Pré-Hospitalar da Abramet.
Os dados avaliados na pesquisa mostram a evolução dos sinistros graves com ciclistas em todo o Brasil, com mapeamento feito por região, Estados e municípios. Os números do Estado de Goiás chamam atenção: em 2021, houve um aumento de 240%, em relação a 2020, com 406 casos a mais do que no ano anterior. Rondônia (RO) e Sergipe (SE) também são destaques negativos, com elevações, respectivamente, de 113% e de 100% nos casos.
A pesquisa também mapeou o perfil dos ciclistas envolvidos em sinistros graves: cerca de 80% eram homens e a faixa etária predominante está entre 20 e 59 anos, correspondendo a 60% do total de casos.
Em São Paulo, cidade que tem expandido sua estrutura cicloviária e, hoje, contabiliza 650 quilômetros entre ciclovias e ciclofaixas, registrou elevação de 23% em 2021, passando de 1.590 casos envolvendo ciclistas em 2020 para 1.950 em igual período deste ano. Em número de casos, a capital paulistana lidera o ranking nacional.
Na avaliação do especialista da Abramet, as iniciativas para incentivar as bicicletas como meio de transporte estão crescendo, mas a defasagem ainda é enorme. “As cidades não foram pensadas para uso da bike como meio de transporte. Os gestores municipais precisam planejar seus espaços para os próximos 20 anos, considerando esse modal como meio de transporte crescente e que já está disputando as vias com outros veículos”, afirma Eid.
Outro ponto importante é a harmonização entre todos os modais que circulam nas vias, uma questão cultural, que demanda educação no trânsito. “O ciclista de lazer escolhe dia, horário e o local por onde pedalar é mais seguro e prazeroso. Já o trabalhador não tem essa opção e acaba usando vias não planejadas para ele, disputando espaço em condição de maior vulnerabilidade e risco”, afirma Eid.
A seguir, recomendações da Abramet para que ciclistas e motoristas possam compartilhar os espaços das cidades em segurança.
1 – Construção e ou ampliação das ciclovias e ciclofaixas, estruturas que têm se mostrado mais seguras para os ciclistas em todo o País.
2 – Manutenção frequente de ciclofaixas e ciclovias. De acordo com Carlos Eid, médico especialista em medicina do tráfego e coordenador do Departamento de Atendimento Pré-Hospitalar da entidade: “Buracos são inadmissíveis nessas vias e resultado da má qualidade do asfalto, devido ao peso reduzido dos que nela se deslocam”.
3 – Campanhas educativas e informativas tanto para ciclistas, para que pedalem dentro das regras, quanto para condutores de outros veículos, para que entendam melhor as vulnerabilidades e como é possível uma convivência harmoniosa nos deslocamentos.
4 – Mais placas de sinalização de trânsito para os ciclistas, deixando claro em quais lugares podem e em quais não podem pedalar, os locais em que o ciclista precisa dividir espaço com pedestres (no caso de algumas ciclovias) e aonde devem praticar o ciclismo de velocidade.
5 – Ampliar a interligação entre modais ou planejar percursos seguros para que um ciclista possa fazer grandes deslocamentos em segurança, transitando entre pontos cardeais e colaterais nas cidades.