Passados alguns meses do início da pandemia do novo coronavírus, e com os protocolos de quarentena e distanciamento social tornando-se os novos hábitos de grande parte da população global, podemos observar como outros países se preparam para a vida após a quarentena da covid-19.
Na Europa, e em alguns países da América Latina, a questão da mobilidade surge como algo a ser priorizado – e a bike desponta como alternativa de transporte seguro e eficiente também para evitar a circulação do vírus.
A adoção do trabalho remoto como medida eficaz para o distanciamento social manteve boa parte das pessoas em suas casas, e as viagens se limitaram a compras de artigos e serviços essenciais.
A adoção da bike para ir e vir já é recomendada mesmo durante a pandemia – o documento “Moving Around During the Covid-19 Outbreak”, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no final de abril, enfatiza que o uso da bicicleta, assim como a caminhada, ajuda não apenas a manter um distanciamento mínimo.
Auxilia, também, na realização diária de atividades físicas, limitadas durante o isolamento e ainda importantes para a imunidade do organismo.
O potencial benefício do uso de bike em substituição a outros meios de transporte também ficou claro pela perspectiva ambiental. Em artigo do portal Future Planet, a inglesa BBC relata que a emissão mundial de carbono pela queima de combustíveis fósseis deverá ter uma queda anual recorde de 5,5% a 5,7% em 2020. E isso se deve às medidas de distanciamento social, com as pessoas permanecendo mais tempo dentro de casa.
O aplicativo de mobilidade Moovit registrou uma redução de 78% no uso de transporte público no mundo e, em cidades como Milão e Roma, na Itália, essa redução chegou a 89%.
Indo mais além, em Pequim, na China, que está em etapa mais avançada no processo de retomada após o pico da pandemia, o uso de sistemas de bikes compartilhadas cresceu 150% em março.
Os números são reconfortantes; porém, quando pensamos na aplicação e no futuro desse modal aqui, no Brasil, é necessário levar outros fatores em consideração. O principal é a desigualdade em relação a outros países – que se mostra evidente nos índices de isolamento indicado pelas empresas de telefonia celular ao governo do Estado de São Paulo, por exemplo.
A média do índice de isolamento no Estado tem se mantido pouco abaixo dos 50%, distante do idealizado nível de 70% para achatar a curva de contaminação.
Muitas pessoas, por necessidade, precisaram retornar ao transporte público convencional, promovendo a volta da superlotação, e até mesmo dos congestionamentos na cidade. O incentivo ao uso da bicicleta pode gerar impacto positivo nessa retomada.
Em cidades como Paris, França, que já entra na fase de relaxamento da quarentena, serão oferecidos mais 650 quilômetros de ciclofaixas, de acordo com artigo da revista Forbes.
Em Bogotá, na vizinha Colômbia, foram 35 quilômetros de faixas de trânsito convertidas para ciclofaixas emergenciais, com cones criando corredores que podem ser ajustados de acordo com a necessidade.
Essas são medidas que podem ser adaptadas e aplicadas nas grandes cidades brasileiras, em que outras questões também precisam ser tratadas, como o acesso e circulação das bikes nas periferias das metrópoles.
Muitas vezes, a distância entre o local de moradia e de trabalho das pessoas é grande, inviabilizando as idas e vindas de bicicleta por todo o trajeto – torna-se necessário ter um plano eficaz de intermobilidade, ou seja, a integração eficaz entre bicicletas disponíveis e o acesso ao transporte coletivo de qualidade, com a logística necessária para evitar aglomerações.
O desafio é grande, e o clichê é verdadeiro: a atual crise pode ser uma grande oportunidade de aprimorar os sistemas alternativos e sustentáveis de mobilidade para o futuro pós-covid-19.
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