Mas não são apenas as distâncias que ditam o nível de dificuldade de uma longa viagem. “A altimetria, ou seja, o quanto tem de subidas e descidas no percurso também influencia. Quanto maior a altimetria, maior a dificuldade”, alerta Caetano.
Selecionar grupos que organizam viagens de bicicleta também é a sugestão de Chiko para as primeiras aventuras. “É importante procurar grupos responsáveis, que fazem passeios monitorados e exigem equipamentos de segurança dos ciclistas”, diz ele.
Para andar em grupos, é preciso usar capacete, luvas e luzes de sinalização na bike. “Muita gente não gosta, mas é preciso usar luvas o tempo todo. Em qualquer queda, mesmo boba, a pessoa leva as mãos primeiro ao chão e se machuca. De luva isso não acontece”, reforça Caetano.
O empresário ciclista também recomenda usar óculos fotocromáticos, que se adaptam à luz ambiente, e específicos para ciclismo, que, segundo ele, “têm tratamento e entradas de ar para não embaçar”.
A bicicleta mais indicada para viajar depende do terreno que você vai percorrer. Fã de estradas de terra e trilhas, o designer José Francisco usa uma mountain bike, estilo mais popular no Brasil. “As de aro 29 vieram para ficar. São mais confortáveis e rendem bem no plano, mas exigem força extra nas subidas”, diz ele, referindo-se à predominância de modelos com rodas maiores, de 29 polegadas.
Outro estilo em alta entre os cicloturistas são as bicicletas gravel (que vem do inglês “cascalho”). Elas se parecem com os modelos de ciclismo de estrada, com guidão baixo, freio a disco e, portanto, usam pneus mais largos.
Algumas gravel também têm pneus sem câmara (tubeless). “Esse tipo de pneu facilita o conserto em caso de furo. Não é preciso trocar a câmara de ar”, explica Caetano Barreira. Pode-se comprar uma gravel de boa qualidade a partir de R$ 4.500.
Se optar por fazer uma viagem mais longa, em regiões com a altitude muito variada, outra opção são as bicicletas elétricas, com assistência no pedal. Embora muitos não vejam “graça” em uma bicicleta elétrica, saiba que é preciso, sim, pedalar, mesmo em subidas.
“Mas a assistência no pedal permite ir bem mais longe e com menos esforço”, conta Chiko. Bicicletas elétricas do estilo mountain bike, com suspensões e freios a disco, já são mais caras e podem custar a partir de R$ 20 mil.
Mas, antes de viajar ou de comprar uma nova bicicleta, Chiko indica aos iniciantes procurarem o serviço de bike fit, que faz ajustes no guidão, no selim e em todo o conjunto para se adaptar melhor ao biotipo do ciclista.
Ele aconselha a fazer uma checklist básica para pegar a estrada. Certifique-se de que o selim é confortável para pedalar longas distâncias; e não se esqueça de levar câmaras de ar reservas, kit para remendos e bomba de ar. “Um jogo de ferramentas básico é fundamental”, finaliza Chiko.
Na hora de arrumar as malas para a sua primeira cicloviagem, Caetano diz que existe um mantra: “Leve no máximo o mínimo possível”. O ideal é levar a menor quantidade de roupas possível, mas atente ao clima.
“Viajei na Serra da Mantiqueira, onde as manhãs e os fins de tarde são muito frios. Levei roupas de ciclismo, uma segunda pele, jaqueta corta vento, cachecol e touca. E só”, conta o designer, que instalou alforjes laterais para levar a bagagem. Ele também carrega uma mochila de hidratação, além de castanhas, bananas e até salame. “É sal e proteína”, brinca.
Uma solução para levar pouca roupa, segundo ambos, são as vestimentas técnicas, feitas em tecido tecnológico, próprias para ciclismo ou montanhismo, à venda em lojas de esportes. Além de ter o tamanho reduzido, as peças são laváveis e secam rapidamente.
“Três camisetas e duas bermudas em tecido técnico são suficientes. É só lavar à noite e, na manhã seguinte, já estão secas”, diz Caetano, lembrando que jersey (camiseta de ciclismo) é indicada, pois tem bolsos na parte traseira para levar as tralhas sem atrapalhar as pedaladas.
Bermudas com tecido acolchoado também são importantes para o conforto. “Existem também os bretelles. São bermudas, mas com suspensórios que ajudam a manter a peça na posição correta”, explica.
O empresário diz que uma tendência para levar bagagem nas bicicletas é o bikepacking. “Além do peso extra, em função das armações de metal, os alforjes tradicionais atrapalham a pedalada. Os bikepacking são acessórios fixados no quadro da bicicleta, respeitando a aerodinâmica.” Caetano acrescenta que isso também facilita o transporte das bicicletas em ônibus de turismo, pois o volume é menor.
Mas, pela sua experiência em cicloviagens, Caetano adverte que não é preciso se preocupar em levar uma estrutura para dar volta ao mundo. “Tem gente que leva pneu reserva e um monte de coisa, como se houvesse garantia de que nada vai dar errado. Essa garantia não existe”, diz.
Se rasgar um pneu e você não tiver outro, “pegue um ônibus até a próxima cidade ou peça carona na caminhonete do agricultor que está passando na estrada. Curta a aventura, aproveite o perrengue”, aconselha Caetano.
Com a ajuda de ciclistas experientes, selecionamos trajetos próximos à capital paulista, ideais para sua estreia como cicloturista.
Com cerca de 250 km, a rota começa em Santana do Paranaíba e vai até Águas de São Pedro. Há diversos grupos que organizam passeios monitorados pela região. Ao longo do trajeto, que pode ser percorrido em cinco dias, o viajante vai encontrar charmosas cidadezinhas pequenas, mas com infraestrutura para receber turistas de bike, e muita estrada de terra, atravessando as plantações e as serras da região.
Por ser em sua maior parte plano, o pedal é indicado para quem gosta de praia e vai fazer sua primeira viagem. Caetano dá a dica de deixar o carro em Cananeia, litoral sul do Estado, e atravessar de barcopara aReserva Estadual da Ilha do Cardoso.
“É preciso agendar dois barcos com antecedência: um para chegar à ilha e outro para ir até Superagui”, alerta o ciclista, referindo-se a outra reserva, já no estado do Paraná, onde existe uma comunidade de pescadores com pousadas e restaurantes.
Outra dica de Chiko para quem curte natureza são as estradas rurais que ligam Paraibuna a Natividade da Serra. Há dois caminhos, com distâncias diferentes, para ida e volta – somando cerca de 90 km.
“Mas quem tá começando pode fazer em dois dias”, diz o designer. O ideal é sair bem cedo, pedalar metade da quilometragem e encerrar as atividades parando em uma das duas cidadezinhas. Chão de terra batida, boiadas cruzando a estrada e três travessias de balsa nos braços da Represa de Paraibuna são algumas das paisagens e experiências do roteiro.
Veja os tipos mais indicados para pedalar por estradas e trilhas
Mountain Bike
Estilo mais popular no Brasil, tem guidão reto, quadro resistente e suspensões. Vai bem na estrada de terra e encara até uma trilha mais fechada.
Gravel
Lembram os modelos de ciclismo de estrada porque têm ciclística semelhante e guidão curvo (drop bar), mas usam pneus mais largos
E-bikes
Só podem ser vendidas no Brasil bikes com motor elétrico de assistência no pedal. Ou seja, o motor só ajuda se você pedalar, o que alivia o esforço nas subidas mais íngremes
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