Câmbio DCT promete mais curtição e menos distração ao guidão

As novas Honda Africa Twin 1100, que chegam ao País neste ano, serão vendidas com a opção de câmbio manual e DCT. Acima, no detalhe, raio X do câmbio de dupla embreagem. Foto: Divulgação Honda
Arthur Caldeira
12/01/2021 - Tempo de leitura: 6 minutos, 11 segundos

Um dos maiores receios de quem começa a andar de moto é o câmbio. Para os iniciantes, coordenar o acionamento da embreagem com a mão e as trocas de machas com o pé no pedal pode ser um desafio. A apreensão é ainda maior em uma estrada sinuosa ou no trânsito urbano, situações que exigem extrema atenção do motociclista.  E nisso entra o câmbio DCT.

Justamente por isso, as fábricas de motocicleta fizeram diversas tentativas de criar câmbios automáticos e facilitar a vida dos motociclistas ao longo dos anos. Já houve motos com conversor de torque, como nos antigos carros automáticos, mas apenas o câmbio CVT, usado até hoje na grande maioria dos scooters, vingou de fato. 

Entretanto, o CVT não tem marchas de verdade. Trata-se de uma correia dentada e duas polias que variam o diâmetro, conforme a aceleração do motor e a velocidade do veículo. Uma reclamação é que falta “emoção” e a sensação de comandar a moto, quando ela tem CVT.

Porém, na última década, a Honda criou a transmissão de dupla embreagem, também conhecida pela sigla DCT (do inglês “dual clutch transmission”). Uma exclusividade da Honda, a DCT para motocicletas é a aposta da marca para atrair novos consumidores, que não querem ter a preocupação de trocar as marchas, além de oferecer uma nova experiência aos motociclistas mais experientes. 

Oriundo dos automóveis da fábrica, como o Civic e o NSX, o câmbio DCT tem trocas automáticas, proporcionando mais conforto em longas viagens e praticidade no dia a dia. Em resumo, o câmbio permite trocas automáticas ou manuais, por meio de “botões” no guidão, mas não há manete de embreagem nem pedal de câmbio.

Segundo a Honda, a grande vantagem da DCT é oferecer a mesma sensação de operação direta que uma transmissão manual. A tecnologia estreou em 2010, mas tem evoluído desde então, tornando-se mais inteligente e com trocas mais rápidas. A evolução fez com que o câmbio se consolidasse na Europa, onde mais de 150 mil motos equipadas com a DCT foram comercializadas até hoje. 

Com a intenção de “popularizar” a tecnologia DCT também no Brasil, a Honda anunciou que, a partir de 2021, as novas Africa Twin 1.100 cc serão vendidas com a opção do câmbio de dupla embreagem aqui. Atualmente, apenas dois modelos da marca japonesa vendidos no mercado nacional são ofertados com o câmbio DCT: a enorme Gold Wing Tour de 1.800 cc e a scooter X-ADV, de 750 cc.

Como funciona

Internamente, a DCT tem o mesmo conjunto mecânico que um câmbio “convencional”, exceto pelas duas embreagens. Controladas eletronicamente, elas são responsáveis pelas trocas automáticas em milissegundos. Diversos sensores enviam informações à central eletrônica da moto, que “opta” pelo melhor momento de subir ou reduzir uma marcha. 

Há duas embreagens, que fazem trocas automáticas: uma efetua as trocas das marchas ímpares (1ª, 3ª e 5ª), e a outra, das marchas pares (2ª, 4ª e 6ª). As trocas acabam sendo quase imperceptíveis e, segundo a Honda, mais precisas do que qualquer piloto faria.

É como se a unidade de central eletrônica (ECU) fosse o cérebro do motociclista, controlando o sistema para engatar a embreagem no lugar da mão esquerda do piloto, enquanto um motor muda instantaneamente de marcha no lugar do pé esquerdo do piloto.

As mudanças de velocidade podem ser feitas no modo “Manual” pelo condutor, usando os botões de mudanças no punho esquerdo do guidão. Ou, em modo “Automático”, de acordo com o monitoramento constante de determinados parâmetros, incluindo a velocidade do veículo, a rotação do motor e o ângulo de abertura do acelerador. Em nenhum dos casos, é necessário apertar um manete de embreagem ou acionar um pedal de câmbio.

Benefícios

Para a Honda, a tecnologia DCT permite ao motociclista concentrar-se mais no trajeto, nos pontos de frenagem, nas curvas e nas acelerações, sem ter de se preocupar com as trocas de marcha. Já no caso dos iniciantes, perde-se o medo de deixar a moto “morrer” em saídas de semáforos ou nas subidas.

“O mais importante, para mim, é a quantidade de ‘largura de banda’ do cérebro que o câmbio DCT libera para usar no que é mais agradável em pilotar – fazer curvas, procurar a trajetória certa”, afirma Dan Arai, o engenheiro-chefe que lidera o desenvolvimento do câmbio DCT na Honda desde 2010. 

Arai ainda acrescenta que o uso desse tipo de câmbio é fácil e direto. “‘Fácil’ significa sem necessidade de usar a embreagem em tráfego lento, sem chance de deixar a moto morrer. ‘Direto’ é a velocidade da mudança de marcha, a capacidade de usar os botões para as trocas e, como mencionei, de se concentrar puramente na pilotagem”, conclui o engenheiro.

Como é pilotar uma moto com DCT

Tecnologia liberou atenção para se concentrar na pilotagem e curtir a paisagem do litoral ao sul de Roma, Itália

“Já tive oportunidade de pilotar alguns modelos com o câmbio DCT, caso da Gold Wing, da X-ADV e, mais recentemente, da Africa Twin 1.100, nas estradas da região do Lazio, na Itália. Para “engatar” a primeira marcha e sair com a moto, há um botão no punho direito com as letras N, de neutro, D, de “drive”, e S, de “sport”. Basta apertar o “D” e partir. As trocas automáticas não dão tranco e são quase imperceptíveis. Quando se nota, já está em quarta ou quinta marcha. Isso porque a Africa Twin conta com diversos sensores eletrônicos, que enviam informações mais precisas à ECU, permitindo trocas mais rápidas e precisas, afirma Alfredo Guedes, engenheiro da Honda Brasil.

Segurança aos novatos

Mas é em manobras de baixa velocidade, como um zigue-zague no trânsito ou para parar em um semáforo, que se percebe como a DCT facilita a vida do motociclista. Não é preciso escolher qual a marcha certa nem ficar com a mão esquerda na embreagem para evitar que a moto “apague”. Basta controlar a aceleração e o freio traseiro, que o DCT se preocupa com o câmbio. 

A princípio, pode parecer monótono pilotar uma moto automática. Mas, na prática, o câmbio DCT mostra suas vantagens. Em um lugar desconhecido como as estradas ao sul de Roma, a capital italiana, e debaixo de chuva, não ter de se preocupar em trocar as marchas pode ser “libertador”. Liberou a atenção para curtir as sinuosas vias de mão dupla com mais segurança, admirar as paisagens e os seculares vilarejos italianos. 

Além de dar mais “liberdade” para pilotar sem esquentar a cabeça se a moto vai acelerar o suficiente naquela subida ou na saída de curva, o câmbio DCT deixa o motociclismo mais acessível a quem não está acostumado à embreagem na mão e ao câmbio no pé. Dessa forma, oferece segurança aos novatos. E também proporciona emoção aos mais experientes que desejarem trocar as marchas nos botões do punho esquerdo.