No que depender das grandes corporações que usam o serviço de transporte de cargas, caminhões movidos a combustíveis alternativos ao diesel deverão cada vez mais ocupar as estradas do País. A sustentabilidade tem sido um tema muito valorizado, principalmente por empresas com presença global. E elas cobram ações de seus prestadores de serviços, entre eles, o transportador.
Há quem acredite que caminhões com tecnologias mais limpas deverão se tornar cada vez mais reais antes mesmo dos automóveis. Todas as montadoras presentes na Europa (e também no Brasil) têm algum veículo com tecnologia híbrida, 100% elétrica ou a gás. E outras dezenas de startups mundo afora também possuem projetos de desenvolvimento de veículos comerciais mais limpos.
Além das questões sustentáveis, caminhões com tecnologias alternativas ao diesel têm baixo custo de manutenção, emitem menor ruído e, por isso, podem trafegar em horários ou locais de maior restrição e, mesmo com o maior investimento inicial, em poucos anos, os caminhões se pagam. Muito em razão do custo de operação inferior ao diesel garantido pelas fabricantes
Os caminhões elétricos podem custar até três vezes mais caros em relação à versão a combustão. Já o caminhão gás, que no Brasil é representado pela Scania, tem valor cerca de 30% maior em relação ao modelo diesel. Seu preço sugerido é de R$ 650 mil.
Diferentemente do que ocorre nos países da Europa, em que o governo geralmente dá algum incentivo para o empresário que investe em frotas alternativas, no Brasil isso não existe. E a situação se agrava porque ainda há muitas dúvidas em relação à viabilidade dos caminhões em razão da infraestrutura.
Para Gilberto Avi, Head de Logística da Nespresso Brasil, grandes corporações podem influenciar pequenos frotistas a entrarem no negócio da sustentabilidade. E, para isso, ele relata sua experiência com o operador logístico RN Transportes.
A parceria entre as duas empresas com veículos limpos teve início com uma frota de elétricos da BYD dedicados ao transporte nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Foi possível viabilizar esse serviço porque as entregas foram focadas em hotéis, restaurantes e escritórios dessas duas cidades.
“Criamos um roteiro específico em que foi possível fazer 40% das entregas dos nossos principais clientes de São Paulo e do Rio de Janeiro com veículos elétricos. Se eu pesasse em uma escala muito grande, talvez a logística ficasse inviável. Porque a criação e a extensão desse tipo de serviço seriam mais demoradas.”
Com isso, Avi explica que não é preciso grandes investimentos para inovar. Começar com um projeto piloto pode trazer bons resultados, possibilitando expandir no futuro.
O resultado dessa parceria com a RN deu tão certo que ela cresceu — a RN foi a primeira transportadora do Brasil a comprar os caminhões a gás da Scania. A aquisição foi feita no lançamento oficial dos veículos, na Fenatran do ano passado.
O proprietário da RN, Rodrigo Navarro, adquiriu dois caminhões GNV/biometano. Esses veículos, entregues em maio deste ano, operam para Nespresso e L´Oreal, dois importantes embarcadores, e fazem a rota São Paulo e Rio de Janeiro.
O resultado dessa aquisição da RN Logística, que foi influenciada pelos serviços prestados à Nespresso com furgões elétricos, resultou na expansão do transporte de outros produtos da Nestlé.
A rota São Paulo ao Rio de Janeiro foi eleita devido à maior capilaridade de postos que comercializam o GNV. “Abastecemos com biometano em São Paulo e, depois, o abastecemos com biometano no Rio de Janeiro, com empresas parceiras. Mas temos o apoio de postos de combustíveis que vendem o gás nesse percurso. O veículo tem autonomia de 450 km. Então, ele sai com biometano, abastece com GNV no meio do caminho e completa com biometano no Rio”, explica Navarro.
Além dos dois modelos Scania R410 a gás, a RN possui dez furgões da BYD eT3. Navarro explica ainda que está estruturando dentro das dependências da empresa um posto de abastecimento a gás, o que vai lhe garantir uma redução do valor de combustível de 10% em relação ao caminhão a diesel.
O Scania R 410 é um caminhão 6×2. Seu motor é o OC13 de ciclo otto. Diferentemente dos propulsores a diesel, o seis-cilindros em linha utiliza velas de ignição. Com 12,7 litros, a novidade gera 410 cv de potência a 1.900 rpm e 204 mkgf de torque entre 1.100 e 1.400 rpm.
Obviamente, os embarcadores reconhecem o valor de uma prestação de serviço sustentável. Navarro acredita que novos contratos deverão ocorrer, até mesmo dentro da própria Nestlé, atenta à sustentabilidade e que, com isso, possivelmente a transportadora fará investimentos em novos veículos elétricos e a gás.
O caminhão elétrico é uma resposta das fabricantes às regras cada vez mais rígidas de emissões de poluentes. A necessidade de redução dos níveis de CO2 é tamanha que atraiu novas empresas para o setor de transportes. É o caso da sueca Volta, com o recém-apresentado HGT, e da norte-americana Tesla, com o Semi.
Vários testes e tentativas de introduzir o caminhão elétrico no Brasil foram feitas antes de a BYD chegar. A marca iniciou as operações no País em 2015. Atualmente, a chinesa oferece os modelos eT7 11.200 e o eT8 21.250 no mercado brasileiro para operações de coleta de lixo. E o furgão eT3 para o transporte urbano.
O caminhão elétrico da BYD tem baterias de fosfato de ferro lítio. Essa solução pode durar até 30 anos, segundo a marca. E a sua autonomia é de 200 km.
Somente as 40 unidades dos caminhões eT7 e eT8 que operam na coleta de lixo em algumas cidades brasileiras deixam de emitir 14 toneladas de CO2 por mês. Esse gás é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.
A JAC Motors é a segunda marca a apostar na eletrificação. Em setembro, a marca lançou no Brasil o iEV1200T. O modelo é o segundo caminhão elétrico do País, mas o primeiro focado nas operações de coleta e distribuição urbana. Diferentemente do BYD eT3, que têm capacidade de carga de 720 kg, o modelo da JAC tem Peso bruto Total (PBT) de 7,5 toneladas. Seu preço sugerido é de R$ 349.900.
A autonomia do caminhão semileve é de até 250 km, se o caminhão rodar com 2 t de carga líquida. Caso trafegue com 4 t de carga líquida, o JAC iEV1200T pode percorrer 180 km entre as recargas de bateria.
A Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) iniciou em outubro a produção da pré-série do elétrico e-Delivery. O modelo, que foi desenvolvido no Brasil, está sendo feito na fábrica da empresa em Resende (RJ). As vendas terão início no primeiro semestre de 2021.
Os caminhões elétricos começaram a ser montados na fábrica-laboratório da VWCO. E as pré-séries servem para treinar os operadores da linha de montagem e do Consórcio Modular.
O caminhão elétrico e-Delivery chegará ao mercado com duas opções de Peso Bruto Total (PBT): 11 e 14 toneladas. O modelo vem sendo testado pela Ambev há pelo menos dois anos. As unidades de teste são utilizadas em operações regulares da fabricante de bebidas.
Esses caminhões operam na cidade de São Paulo. E, no início do ano, a frota elétrica atuava na distribuição de bebidas. Após a decretação da pandemia, o e-Delivery passou a ser utilizado para distribuição em supermercados.
Desde o início dos testes, a Ambev deixou de emitir mais de 22 toneladas de CO2 na atmosfera. A redução do consumo de óleo diesel passa de 6.500 litros, segundo dados da empresa.
O motor elétrico do e-Delivery gera até 260 kW (equivalentes a 348 cv) de potência. O torque é de cerca de 233 mkgf.
Graças aos bons resultados dos testes e ao arranjo técnico do e-Delivery, a Cervejaria Ambev confirmou a compra de uma frota de caminhões elétricos. O contrato prevê a entrega de 1.600 caminhões e-Delivery.