Cicloviagem: confira as dicas de quem pedalou por 4.200 km na América do Sul

Saída da cidade de Buenos Aires, na cicloviagem de 2022: deslocamento feito pelo acostamento, com trânsito intenso nas vias. Foto: Diego Salgado

07/12/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 49 segundos

Há quatro anos, conheci profundamente as estradas da América do Sul ao colocar em prática um plano audacioso: pedalar sozinho do Rio Grande do Sul até Valparaíso, no litoral chileno, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico em 27 dias e 1.939 quilômetros de deslocamento.

Iniciante em cicloviagens, tive de superar obstáculos diários nos quatro Países em que estive (além de Brasil e Chile, Uruguai e Argentina). Os mais complicados foram, sem dúvida, a estrutura rodoviária e a convivência com outros meios de transporte.

Naquela ocasião, porém, eu não tinha referência alguma, pois, justamente, fazia minha estreia nesse tipo de travessia. Nos últimos meses, em um novo desafio pelo nosso continente, reencontrei os caminhos latinos.

Dessa vez, em um longo trajeto de 6 mil quilômetros, entre Montevidéu, no Uruguai, e Guayaquil, ao sul do Equador. A cicloviagem durou 75 dias (50 de pedaladas e um total de 4.198 quilômetros) e incluiu a ida ao estádio da final da Conmebol Libertadores 2022, entre Flamengo e Athletico-PR. Eu viajei a convite da entidade.

Estudos e planejamento

Ter tido a primeira experiência me ajudou no planejamento dessa cicloviagem. Normalmente, nas semanas que antecedem a aventura, estudo os mapas das regiões por onde passarei, a fim de saber detalhes do caminho.

No caso da travessia Montevidéu-Guayaquil, eu ainda tive mais duas experiências para me ajudar. Em 2019, pedalei 2.028 quilômetros em 29 dias, de Barcelona (Espanha) a Amsterdã (Holanda). No primeiro semestre deste ano, mais 2.088 quilômetros em 23 dias, de Milão (Itália) a Estocolmo (Suécia).

Voltar às estradas sul-americanas, então, me permitiu fazer uma comparação entre as estruturas dos dois continentes e a receptividade, também – nesta, adianto, a América do Sul vence de goleada.

Pude, além disso, observar as possíveis mudanças nas rodovias de Uruguai, Argentina e Chile, países onde estive com a bicicleta em 2018 e 2022.

Neste último caso, não constatei grandes alterações. Os caminhos na América do Sul são feitos, praticamente, ao lado de outros meios de locomoção, sobretudo motos, carros, caminhões e ônibus. Com raríssimas exceções, não há rotas alternativas, sejam elas ciclovias, sejam ciclofaixas, sejam até mesmo caminhos de terra, que possibilitam uma travessia mais tranquila.

Estrutura para o cicloviajante

Na Europa, o cenário é distinto. Nos 12 países em que passei, existe estrutura. A maior parte dos trajetos que fiz foi distante das rodovias mais movimentadas. Assim, a travessia ocorreu em ciclovias (sobretudo na Bélgica e na Holanda) e em rotas alternativas, nas quais havia pouquíssimos carros, e todos em baixa velocidade. Tudo isso traz, claro, mais tranquilidade e segurança. Além de menos trabalho de manutenção e com possíveis quebras.

Nas viagens pela América do Sul, por exemplo, tive de enfrentar 26 furos nos pneus, em pouco mais de 6.100 quilômetros percorridos. Na Europa, não houve nenhum incidente desse tipo na rota de pouco mais de 4.100 quilômetros. Isso ocorreu pela limpeza do caminho. No continente sul-americano, é preciso conviver com os resquícios gerados por automóveis. Como o deslocamento acontece no acostamento das grandes rodovias, os furos são constantes.

Os acostamentos, vale ressaltar, nem sempre estão presentes. Eu já enfrentei centenas de quilômetros sem acostamento nas rotas 7 e 9 da Argentina. No norte do Peru, também. E é aí que entra o cuidado dos sul-americanos.

Principalmente, nesta última viagem, recebi muitas instruções de como me comportar nessa situação, além de ser tratado com extrema atenção pela grande maioria dos motoristas. Dois deles, na Argentina e no Peru, chegaram a parar, em pleno acostamento, para me dar comida.

Na Europa, não há essa relação tão próxima na estrada. Pedalar sozinho, por lá, é quase uma regra. Nas cidades, onde, de fato, há mais convívio durante o tempo de descanso, os europeus também são menos calorosos do que os sul-americanos. Por aqui, já ganhei jantares, almoços e mais palavras de apoio, que são fundamentais em grandes desafios como esses.

Na Europa, boa parte do caminho é realizada em rotas alternativas somente para bicicleta ou em estradas secundárias. Foto: Diego Salgado

Pedal pela América do Sul em números

Saída de São Paulo: 19 de agosto de 2022
Saída de Montevidéu: 23 de agosto de 2022
Chegada a Guayaquil: 26 de outubro de 2022
Distância percorrida: 4.198 km, em 50 dias de pedalada

Para saber mais sobre bikes, acesse nosso canal Pedala