É hora de todos se unirem pela mobilidade urbana funcional e sustentável


17/11/2020 - Tempo de leitura: 3 minutos, 19 segundos

É comum que, próximo ao período das eleições, diversos assuntos estratégicos para as cidades serem discutidos pelos candidatos e a mobilidade urbana, sem dúvida, é um deles. Sendo assim, é fundamental acompanharmos as propostas apresentadas, sobretudo na realidade em que estamos vivendo o tão citado ‘novo normal’ e como serão as escolhas e necessidades das pessoas no pós-pandemia. Em setembro, nos aprofundamos na discussão desses questionamentos com o Summit Tembici, e um dos painéis trouxe o tema ‘Os gatilhos e desafios no desenvolvimento da micromobilidade nos próximos meses’, que levanto neste artigo.

Segundo um estudo realizado pelo Barcleys nas grandes capitais do mundo, inclusive nas do Brasil, cerca de 60% de todos os deslocamentos são de até 8 quilômetros, distância perfeitamente ciclável e até caminhável. Então, por que ainda contamos com tão poucos espaços para os modais ativos nas cidades? Por que o movimento de integração entre modais não poluentes ainda é tímido? E como reverter essa situação e tornar a mobilidade mais funcional e acessível?

Infraestrutura cicloviária

Algumas cidades estão engatinhando, mas já vemos exemplos em que a mobilidade ativa é realidade. No Brasil, Fortaleza merece destaque. Apesar do crescimento de 61% de automóveis na última década, de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a capital cearense é líder em acessibilidade à infraestrutura cicloviária (pessoas que residem e trabalham próximas às ciclovias), seguida por Belém, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, conforme dados medidos, todos os anos, pelo ITDP. No cenário de pandemia, a cidade investiu cerca de R$ 9 milhões, somente neste ano, em inauguração de avenida com ciclofaixa e infraestrutura cicloviária.

As empresas privadas, impactadas por muitos temas discutidos pelos candidatos, também têm papel fundamental no fomento de ações, e há diversas maneiras para que seja feito, como é o caso da participação de grupos de trabalhos com o Poder Público, não só apontando os problemas mas, principalmente, abrindo janelas de oportunidade, contribuindo para soluções com estudos, dados, expertise: cada lado fazendo seu papel potencializa melhorar a mobilidade urbana.

Políticas públicas

Outra forma de participar da dinâmica das cidades é contribuindo com pesquisas de órgãos e instituições especializadas. Acreditamos muito no compartilhamento de dados e fazemos isso constantemente com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), por exemplo, para o embasamento de políticas públicas, instalação e manutenção de ciclovias. Ajudamos também com informações para o projeto ‘Bike Science’, do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), ainda em desenvolvimento, e, no final de outubro, tornamos público, por meio da Associação ABO2O, um Guia de Mobilidade Urbana e Delivery, que foi elaborado por muitos especialistas, com o objetivo de fomentar o diálogo e a reflexão sobre a mobilidade com a sociedade civil e o Poder Público para a construção de políticas públicas mais assertivas.

É preciso inovar no trabalho em conjunto para algo que seja bom a todos. Apesar das inovações e investimentos na mobilidade urbana que vêm acontecendo rapidamente no mundo, volto a dizer: há um longo caminho pela frente. Precisamos sempre do apoio dos Poderes Públicos, e é fundamental que conversas com projetos privados e interesses da sociedade civil estejam em harmonia.

O desafio é global e complexo. Temos o compromisso constante de refletir, observar, levantar discussões, cobrar as autoridades por infraestrutura e políticas públicas que garantam mais espaço para a bike e outros modais ativos, além de reforçar, com toda a população, as ações referentes ao respeito e à segurança no trânsito, fundamentais para uma mobilidade urbana funcional e sustentável e para que, cada vez mais, possamos ter propostas e ações concretas nesse sentido.