O transportador brasileiro vivencia atualmente a dificuldade de encontrar caminhão 0-km. A crise pandêmica que assola o mundo impactou diretamente a cadeia de fornecedores. Com o retorno das atividades e a demanda por veículos, o mercado de caminhões está sofrendo com entraves na produção devido à falta de insumos e componentes, sobretudo os importados. Apesar de esta ser uma situação pontual, empresários do setor de transporte buscam alternativas para suprir suas necessidades seja na locação ou na terceirização de frota autônoma. Situações atípicas podem ocorrer e o mercado se molda a elas. Mas será que são ocorrências como essas que levam o transportador a eleger como fazer gestão de sua frota, ou seja, quando comprar, alugar um caminhão ou mesmo terceirizar a prestação do serviço com autônomo?
Sócio-gestor da consultoria MA8 Management Consulting Group, Orlando Merluzzi explica que a falta de caminhão não é uma novidade. Sempre ocorreram períodos em que há falta de veículos. Mas que comprar caminhão, alugar ou mesmo terceirizar a frota está mais relacionado com a estratégia das empresas.
“Não podemos separar a compra de caminhão da locação ou mesmo da terceirização. Isso vai de acordo com a estratégia de cada transportadora. Mas, é claro, há empresas neste momento que estão locando ou terceirizando por causa da atual situação. Ela, porém, é momentânea. Não são essas ocorrências externas que determinam quando comprar, alugar ou terceirizar, porque elas são temporárias”, explica Merluzzi.
A estratégia das empresas na hora de decidir o modelo de operação envolve planejamento financeiro tributário. Contratos, padronização de frota, encargos trabalhistas e previsibilidade de custos são relevantes nessa decisão.
De acordo com o consultor da MA8 Management, ter um planejamento financeiro tributário independe da situação de mercado. E, a depender da estruturação da empresa, é necessário que ela tenha um pouco de caminhão próprio (capital imobilizado). Tenha dívida com financiamento de veículos, porque os juros abatem no imposto de renda. E tenha despesas com terceiros. Balancear a frota própria com a terceirizada é uma prática comum.
“Agora, se o frotista vai escolher alugar ou terceirizar aí já é outra estratégia. Tem que analisar prós e contras e entender quais as vantagens de cada uma das escolhas para a operação”, diz Merluzzi.
Manuel Silva, diretor executivo comercial da Ouro Verde, concorda que a decisão de como gerir a frota está relacionada ao processo de cada empresa. Porém, três aspectos são importantes nessa hora: custo de capital, fluxo de caixa e melhorias de gestão operacional.
“O caminhão é um insumo no processo de prestação de serviços. Ele é importante por estar diretamente ligado à atividade. O que eu posso dizer é que a locação é uma tendência. Mas, é claro, que há empresas que têm poder de compra e acesso ao custo de financiamento competitivo. Ainda assim o processo de gestão operacional e da empresa terá ganhos”, analisa o executivo.
Uma companhia com frota própria tem o controle de todo o processo, com maior flexibilidade na entrega, porque o caminhão e o motorista são próprios. Outra vantagem é com relação à padronização da frota. O transportador pode até padronizar seus caminhões com a marca que desejar. O treinamento e o comportamento do motorista também são padronizados – o que é fundamental para a imagem de uma transportadora. Além disso, o monitoramento da carga também é gerido pela empresa com sistema eleito por ela. O que pode lhe garantir maior controle de planejamento e disponibilidade.
Por outro lado, o consultor lembra que também há desvantagens ao optar só pela frota própria. Uma vez que a atividade fim é o transporte de mercadorias, o caminhão é o meio, e não a atividade principal. Com a frota própria há custos trabalhistas e de manutenção. E a ociosidade da frota também pode gerar despesas. Além disso, a frota própria toma limite de crédito.
“Embora seja interessante para a empresa fazer um financiamento para o seu planejamento financeiro tributário, quando ela compra um caminhão, esse veículo toma o seu limite de crédito”, analisa Orlando Merluzzi.
Contudo, uma frota alugada é utilizada tendo como objetivo final o transporte. Com a vantagem de a transportadora, mesmo não sendo dona do caminhão, ainda ter todo o controle sobre o veículo, da mesma forma como ocorre na frota própria.
Silva, da Ouro Verde, lembra outra vantagem do aluguel. O empresário consegue prever os custos do contrato de locação. Além disso, ele não imobiliza o caminhão locado, mantendo o seu caixa. A manutenção fica por conta da locadora, bem como o monitoramento (se o cliente preferir). Ou seja, o frotista pode eleger terceirizar junto com o caminhão toda a gestão de frota. Com a vantagem de ter total previsibilidade dos custos. Com a frota alugada, o foco é a atividade fim: o transporte.
“O aluguel é uma tendência clara. Quem está prestando esse serviço de locação tem capacitação para gerir não só a frota e tudo que a envolve como manutenção. Como também pessoas: os motoristas. Ficando a cargo da transportadora se preocupar apenas com a sua atividade fim que é o transporte”, explica Manuel Silva.
Merluzzi lembra, porém, que há limitações com relação à frota locada prevista por contrato. Na frota própria, a empresa de transporte tem a flexibilidade de carregar a mercadoria que desejar, algo que, na frota alugada, nem sempre é possível, tendo ainda que cumprir o limite de carga estabelecido por contrato.
Assim como na frota própria, os custos com motorista podem ser mantidos. Há locadoras, como a Ouro Verde, que já oferecem o serviço completo: frota, gestão e motorista.
“Existe um cálculo que a nossa consultoria conseguiu identificar, cuja redução de custo de uma empresa que opta pela locação de frota pode chegar até 14%. Volto a repetir que o decisivo para a escolha da operação é o planejamento financeiro tributário, o que varia conforme o porte e a gestão da empresa de transporte”, informa Merluzzi.
A frota terceirizada traz previsibilidade de custos, assim como na frota de locação. Com a vantagem de o frotista não ter de desembolsar caixa e poder focar na sua atividade fim. Os custos de manutenção também são por conta do terceiro. E o empresário tem flexibilidade durante a sazonalidade.
No entanto, apesar de a terceirização não trazer custos trabalhistas, traz riscos nessa área. Além disso, o limite de carga existe por contrato. A empresa que terceiriza tem a chamada responsabilidade solidária. Isso significa que não há controle sobre o motorista e sobre o treinamento. E é esse motorista terceirizado que vai representar o nome da empresa.
“A frota terceirizada é boa para atender demandas sazonais, manter o foco no negócio, sem se preocupar com o transporte. E ter controle dos custos que, neste caso, são previsíveis”, diz Merluzzi ao acrescentar que a terceirização é a modalidade que apresenta mais desvantagens quando comparada à frota alugada.
Não é de hoje que grandes empresas de transporte atuam nessas três modalidades. Para o consultor de transporte essa é uma tendência. “A melhor estratégia é ter parte da frota terceirizada ou locada para que a empresa tenha algumas flexibilidades, sobretudo com relação à sazonalidade. A frota locada ou terceirizada também é vantajosa quando a empresa precisa atender alguns negócios específicos. Por outro lado, é importante manter parte da frota própria por questões financeiras e tributárias. Mesmo porque é uma forma de a empresa ter maior controle sobre a sua operação e sobre a sua imagem”, finaliza Merluzzi.